Marcelo pede "renovação" da democracia e deixa avisos: "Precisamos de bom senso. Precisamos que Portugal fique mais preparado"
É "mesmo" necessário executar os "16 mil milhões de euros" do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) "nos próximos dois anos". O aviso foi deixado por Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, na mensagem de Ano Novo.
Falando ao país em direto naquela que foi a sua penúltima mensagem de Ano Novo antes de deixar a Presidência, o chefe de Estado deixou vários avisos. Começando pelo PRR, recordou as verbas que há para executar no próximo biénio e disse esperar que esse "façam esquecer os 6,3 milhões de euros" utilizados "até agora".
Ou seja: "Precisamos que Portugal fique mais preparado para enfrentar as aceleradas mudanças na Europa e no mundo". E deixou avisos ao primeiro-ministro, Luís Montenegro: "Precisamos que o bom senso que nos levou a reforçar a solidariedade institucional e até a cooperação estratégica entre órgãos de soberania, nomeadamente Presidente da República e primeiro-ministro, prossiga". "Precisamos de renovar a nossa democracia e não a deixar envelhecer", disse.
Evocando os 50 anos do 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o país percebeu que "não quer perder liberdade, nem democracia". No cinquentenário da revolução, disse, "evocar Abril é olhar para o futuro, não é repetir o passado". Isto significa que é necessária "menos pobreza" -- que atingiu dois milhões de portugueses e que é um "problema de fundo estrutural" não resolvido -- bem como "mais igualdade social e territorial, mais educação, melhor saúde, melhor habitação". Mas para isso é necessário "qualificar mais" os recursos humanos. Mas não só. É também preciso "inovar mais, competir com mais produtividade, continuar a antecipar, e bem, no domínio da energia limpa, no domínio do digital, na tecnologia de ponta".
Isto tudo, avisou, deve ser feito sem "deixar que se aprofunde o fosso à distância entre os jovens que avançam e os que o não podem fazer". "Numa palavra": é preciso que a economia cresça "e possa pagar melhor e aumentar os rendimentos dos portugueses".
Antes, o Presidente olhou para a situação internacional, com um foco particular nos Estados Unidos e, também, nas relações com a União Europeia. O ano que terminou, começou por realçar, "deferiu", cá dentro e lá fora, "caminhos que vão determinar muito do que será o ano que começou". Como, por exemplo? "Mostrou que as duas principais guerras [Ucrânia e Médio Oriente] continuavam e se agravavam, e a recuperação das economias era fraca, apesar da descida dos preços e dos juros. Na Europa, as eleições de junho permitiram um alívio momentâneo a certos líderes e partidos no poder. Mas muito curto, porque economias fortes continuavam a descer", com Governo que já caíram ou para lá caminham.
"A fechar o ano", as eleições americanas "permitiram o regresso a 2016" e, com isso, dar a Donald Trump "definir sobre a paz que quer". Isto é: "Uma paz justa, duradoura, respeitadora do direito internacional e do direito humanitário, e por isso da dignidade das pessoas, ou uma paz injusta, precária, ignorando o direito e o respeito das pessoas e da sua situação humanitária."
Para isso, o presidente americano tem de "escolher" que relação quer com a União Europeia. Se se quer aproximar ou "afastar-se" dela. "Mais aliança" na política, na economia e em política externa, analisou o Presidente da República, "é melhor para a Europa, e é pior para a Federação Russa e para a China". E vice-versa. "Neste quadro, o que a UE tem pela frente como desafios é, primeiro, fazer tudo pela aliança com os EUA", mas também deve "manter-se unida, não deixar cair alianças e aliados e preparar-se para uma situação complexa a leste". Isto tudo enquanto ganha "peso militar próprio", tenta "recuperar economicamente" e "corrigir o atraso no investimento e no conhecimento, que tem perdido pontos com os EUA e com a Ásia".
"Tudo ao mesmo tempo. Tudo difícil. Mas tudo indispensável para a União Europeia se afirmar com uma potência global no mundo", concluiu.