João Pedro Louro: "A nossa expectativa é de que tomem posse sete membros da JSD como deputados"
Tem algum motivo para acreditar que, após tomar posse enquanto deputado, terá pela frente quatro anos de mandato?
Tenho sobretudo esperança, porque a mensagem dos portugueses também pede a estabilidade. Se existe coisa consensual entre todo o espetro político português, hoje, é que o país não pode andar em eleições todos os anos. Coisa diferente é se todos os partidos contribuirão para a estabilidade. Mas tenho esperança de que a legislatura dure quatro anos, porque os portugueses não querem mais instabilidade, sabendo que, para isso ser alcançado, é necessário muito diálogo e muita construção de pontes entre todos.
Os primeiros sinais após as eleições podem ser vistos como um indício de esperança?
Sobretudo por existir uma grande diferença em relação a 2024. Nestas eleições houve claramente um vencedor, que saiu reforçado e tem mais, praticamente, dez pontos percentuais do que o segundo partido mais votado, além de ter mais 30 deputados. Ninguém tem dúvidas de qual é o projeto político que deve governar Portugal. Este início da legislatura será menos atribulado pela legitimidade que o Governo tem.
Na anterior legislatura houve vários membros da JSD eleitos nas listas da AD, mas não foi o seu caso. Arrepende-se de ter recusado o quinto lugar por Setúbal em 2024?
Não me arrependo. O homem é o homem e as suas circunstâncias, e naquele momento tomei uma posição de princípio, defendendo os interesses da JSD e, por consequência, da juventude portuguesa. Acredito que a JSD na Assembleia da República representa a voz da juventude portuguesa e entendia que deveria ter a sua voz reforçada. Por isso, não me arrependo. Tanto assim é que, passado um ano, com a particularidade de nas listas da AD terem sido colocados vários governantes, a nossa expectativa é de que tomem posse sete membros da JSD nesta legislatura, o que representará sermos o quinto maior grupo parlamentar. É significativo.
Como espera, enquanto deputado e presidente da JSD, fazer a diferença nesta legislatura?
Acredito que a voz de qualquer jovem na Assembleia da República faz a diferença, pela visão que temos da sociedade, e pela irreverência que colocamos na nossa forma de fazer política, mas sobretudo pela voz que representa as novas gerações. A JSD, historicamente, tem uma autonomia histórica e estratégica que nos deixa colocar temas na agenda política e mediática, que sem esta representação não seriam colocados, como uma maior flexibilidade curricular no sistema de ensino e no trabalho. Queiramos ou não, as novas gerações, hoje, não valorizam unicamente o salário, mas também a flexibilidade, daí que uma grande bandeira da JSD seja a semana de quatro dias, mas também a proteção digital. Sabemos que as nossas crianças e jovens estão sob risco e queremos assegurar que o Estado tem os meios necessários para fiscalizar o espaço digital e garantir que estão seguras neste novo mundo em que todos vivemos.
Admite que ainda há trabalho a fazer para que os eleitores mais jovens se revejam mais nas propostas da AD?
Vejo com satisfação o facto de a AD conseguir captar grande parte do voto jovem. Mas há todo um caminho a fazer. O PSD e o PS são marcas muito fortes, mas essa força acabou por resultar da Revolução do 25 de Abril, que diz muito pouco às gerações mais novas, aos jovens de 16, 17 e 18 anos. Temos de modernizar a nossa forma de fazer política e abraçar causas em que as novas gerações se revejam. O facto de a JSD poder ser o quinto maior grupo parlamentar ajuda-nos a garantir que os jovens se sentem representados na Assembleia da República, porque não podemos pedir aos jovens que queiram participar, e acreditar na política, se não tivermos jovens como eles a representá-los. Com a nossa forma de fazer política de uma forma mais moderna, mais jovem, mais irreverente, abraçando causas que vão ao encontro dos interesses e preocupações dos mais jovens, e através da nossa representação, estou certo de que estaremos mais perto de trazer mais jovens para a política e de garantir que estão mais próximos da AD e se sentem representados através deste projeto de governação.
Na anterior legislatura, Rita Matias era a única líder das juventudes partidárias eleita deputada. Acha que isso fez diferença?
Acredito que o trabalho da JSD não se resume à Assembleia da República, mas é evidente que é importante a JSD e outras juventudes partidárias estarem representadas nos grandes centros de decisão política. Sendo a Assembleia da República um desses centros, é evidente que a Rita Matias levou alguma vantagem. Mas, no caso do Chega e da Rita Matias, parte da sua atuação política passa pelas redes sociais - um espaço onde também estamos e procuramos melhorar todos os dias.
É possível contrariar o atraso nas redes sociais que a JSD, a JS e outras juventudes partidárias têm em relação ao Chega?
Se existe estrutura que está mais perto de o alcançar é a JSD, pois tem havido um grande trabalho da nossa parte para melhorar a presença em todas as redes sociais. Mas a responsabilidade da JSD, sendo a juventude partidária que suporta o Governo do país, não é a mesma responsabilidade que a da Juventude Chega. Estamos sobretudo focados em resolver problemas e procuramos trazer para o espaço político e mediático propostas que façam a diferença na vida dos jovens. O IRS Jovem, a isenção do IMT na compra da primeira casa, a garantia do Estado na compra da primeira casa, o Passe Sub-23, foram propostas que nasceram do trabalho e reflexão da JSD. Não conheço nenhuma medida, nenhuma proposta da Juventude Chega que tenha feito a diferença na vida dos jovens. O principal desafio é que temos de transportar para as redes sociais a demonstração clara de que a JSD verdadeiramente contribuiu para melhorar a vida dos jovens, ao contrário do Chega.
No IRS Jovem, acha que todos os jovens perceberam a adaptação necessária para a aprovação do Orçamento do Estado?
Os jovens que ficaram de fora do regime do IRS Jovem, por o PS não ter permitido que a proposta inicial fosse mais benéfica, naturalmente tiveram dificuldades em compreender - com toda a razão. Mas este modelo de IRS Jovem permitiu a muito mais jovens terem acesso, pois a amostra que estava em vigor, ainda do tempo do Governo do PS, chegou a cerca de 70 mil jovens. Este IRS Jovem chegou a mais de 400 mil, o que é manifestamente significativo. Continuo a acreditar que poderíamos ir mais longe e tornar o IRS Jovem ainda mais alargado e benéfico, sobretudo ao nível da idade em que qualquer jovem pode ter acesso, mas…
Até onde se deve chegar?
Temos uma posição muito clara: entendemos que o IRS Jovem deverá ser até aos 35 anos e não ter o limite de 10 anos atualmente em vigor. Um jovem que tenha começado a trabalhar aos 20 anos, por exemplo, aos 31 já não tem direito ao IRS Jovem. Essa injustiça acabou por ser muito veiculada nas redes sociais, quando a medida viu finalmente a luz do dia, mas só se tornou realidade devido às negociações do PS com o Governo e às exigências que fez. Tenho esperança de que seja possível o IRS Jovem ser ainda mais alargado e benéfico, pois é um compromisso sério com a juventude portuguesa e que permite, numa altura crítica da vida um jovem, ver o seu rendimento disponível aumentado, permitindo construir o seu projeto de vida, o seu projeto de felicidade, e emancipar-se, Isso é muito bom também para o país.
Embora seja provável que o AD se tenha de voltar a entender com o PS para a aprovação de Orçamentos do Estado.
Se há coisa que sabemos desta legislatura é que terá de existir muito diálogo, Esse diálogo naturalmente parte do Governo, e esperemos que os partidos da oposição tenham responsabilidade e maturidade política.
A JSD tem algum dogma sobre os grupos parlamentares da oposição com que a AD deve dialogar?
Considero que o Governo da AD tem obrigatoriamente de dialogar com todos os grupos parlamentares. A partir do momento em que não tem maioria absoluta, deve procurar entendimentos com todos, sem exceção. Mas, face à responsabilidade histórica que o PS tem na nossa democracia, parece-me claro que será o parceiro - de conversações, de diálogo, e não mais do que isso -, preferencial que o Governo da AD vai ter..
O que antecipa que vai mudar na sua vida após tomar posse?
Vou ter, pela primeira vez, a oportunidade de fazer política a tempo inteiro. É uma mudança muito significativa, uma vez que até ao momento tenho um emprego, a minha carreira, que divido com um hobby que se chama política. O hobby vai tornar-se um trabalho a tempo inteiro.
O que lhe parece menos prioritário: a revisão constitucional ou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Spinumviva? Não teme que esta se mantenha como uma espada de Dâmocles sobre a maioria e sobre o Governo?
[Risos]. Perante a mensagem que os portugueses deram nestas eleições, o Governo e os partidos da oposição têm de levar a legislatura a bom porto e dar alguma estabilidade ao país. No caso da CPI à Spinumviva, temos três dimensões: a política, a legal e a pessoal. Creio que, na dimensão política, já ficou comprovado que Luís Montenegro não tomou nenhuma decisão, enquanto primeiro-ministro, condicionado pela existência da Spinumviva. No plano legal, também já ficou evidente que não foi cometida nenhuma ilegalidade e, por isso, a única coisa que uma Comissão Parlamentar de Inquérito poderia querer explorar seria a dimensão pessoal do primeiro-ministro. Seria abrir um precedente gravíssimo na nossa democracia, pelo que acho que não fará sentido.
A revisão constitucional é algo em que a AD ganharia em ficar cautelosamente a ver o que outros partidos estão a preparar?
O processo de revisão constitucional não é, de todo, a prioridade do país. A prioridade tem de ser resolver os problemas das pessoas, aumentar salários, reduzir impostos, resolver o problema dos transportes, trazer mais competitividade à economia. Da minha parte, como líder da JSD, se houver lugar a um processo de revisão constitucional, teremos os nossos contributos a dar. Em certa parte, até poderia ser bom para a democracia. Mas está longe de ser a prioridade e, por isso, acho que deveria ficar em segundo plano, sinceramente.