É natural que a população de Gaia associe a gestão camarária socialista a vários processos em tribunal e à condenação do próprio presidente, obrigado a renunciar ao mandato. Que peso tem tido este cenário na sua campanha? Como tenho dito, não comento casos judiciais e continuarei a não comentar. Quando avancei para candidato à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, fi-lo a dez meses das eleições. Ainda não se sabia quem seriam os candidatos dos restantes partidos, muito menos o adversário direto. E muita da informação mais recente sobre processos judiciais era desconhecida. Portanto, o que me move é unicamente o futuro de Vila Nova de Gaia. E porque o meu adversário direto afirmou, de forma mentirosa, que fui vereador da Câmara de Gaia, quero deixar claro: nunca fui vereador da Câmara de Gaia. Fui presidente de Junta de Freguesia, deputado e vice presidente da bancada parlamentar do PS, tendo coordenado os trabalhos do partido em quatro comissões de inquérito. Fui Secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Em todas as funções dei provas da minha competência. Apresento-me a estas eleições com os olhos postos no futuro e não amarrado a problemas do passado ou problemas mais recentes. O PS tem enfrentado algum desgaste político. Que garantias dá de que será diferente e inabalável em termos éticos? Desde logo eu próprio tenho provas dadas nessa matéria. Todas as funções que exerci até hoje foram de grande exposição pública e de muito escrutínio. Depois, pela equipa que escolhi. Uma equipa também com grande proximidade local. São gaienses com provas dadas também nessa matéria. Sei que vivemos um tempo em que os decisores políticos e as entidades têm que contribuir mais para a transparência. Comigo, a dimensão ética estará sempre assegurada. Da mesma forma, serei intransigente com todos aqueles que participam nas decisões do dia a dia dos cidadãos. Uma das novidades do meu programa é a criação de uma divisão municipal para transparência. Essa divisão terá um portal público e será liderada por um jurista reputado, escolhido por concurso. A iniciativa obrigará a que todos os que intervêm na decisão dos cidadãos em Gaia – presidente, vereadores, assessores, administradores municipais, coloquem no portal uma declaração de interesses para que não persistam dúvidas sobre eventuais conflitos de interesses na decisão política. Essa divisão municipal para a transparência acompanhará todos os procedimentos de contratação e de realização de despesa. Seja como for, a perceção existe e não deixa de ser um fardo. Sinto que as pessoas querem debater o futuro e, portanto, a perceção de que fala é uma perceção que neste momento não casa com o que é o sentimento e a reação dos cidadãos e das instituições. É importante começarmos a falar, de facto, da obra feita nestes 12 anos. A primeira grande conquista destes 12 anos é a recuperação financeira da câmara. A câmara estava tecnicamente falida, vítima de uma gestão ruinosa até 2013, liderada na altura por Luís Filipe Menezes. Levou a câmara a uma dívida de 300 milhões de euros, transformando-a na mais endividada no país em 2013. Deixou sentenças judiciais que obrigaram a Câmara Municipal a indemnizar cidadãos e empresas no valor de 50 milhões de euros. Contas equilibradas ou a obra que Luís Filipe Meneses reivindica como dele? O que escolherá o cidadão de Gaia?Os cidadãos exigem ao presidente da câmara ambição, sim, mas também responsabilidade. Aquilo que os cidadãos exigem ao presidente é que, mediante os recursos financeiros que tem à disposição, faça a maior obra possível. Que consiga captar o apoio para que o município, junto das entidades governamentais e europeias, vá mais longe e faça mais obra em todas as áreas. Como manter este rigor orçamental perante os investimentos que a sua candidatura se propõe fazer? O orçamento municipal de Gaia tem crescido ano após ano e, portanto, crescerá naturalmente nos próximos anos. E essa margem de crescimento será também fundamental para sustentar os compromissos que temos. Mas também a Lei das Finanças Locais será revista em 2026, logo após as eleições autárquicas, com a nova Associação Nacional de Municípios. E aí abrir-se-à uma nova oportunidade. A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia terá de ter um orçamento equiparado, pelo menos, ao orçamento da Câmara do Porto. E digo isto porque esta é uma das minhas grandes causas. Qual é a diferença entre um orçamento e outro? 450 milhões no Porto para 285 milhões em Gaia. 165 milhões de euros é uma diferença inaceitável. Essa tem que ser uma das causas do próximo presidente da câmara. É uma diferença que não se justifica, porque Vila Nova de Gaia tem quatro vezes o território do Porto e mais 50.000 habitantes. Estou convencido de que com o crescimento médio que tem tido nos últimos anos, e continuará a ter nos próximos, com a revisão da Lei das Finanças Locais e com o magistério de influência que o Presidente da Câmara fará junto do Governo e da União Europeia, conseguiremos abrir as portas e encontrar o financiamento necessário para sustentar os compromissos. Na relação com o governo, Luís Filipe Menezes terá vantagens, sendo que são da mesma cor política? Já não estamos na década de 80 e 90, em que havia um espírito vingativo. Hoje existe um escrutínio maior. Pela comunicação social e pelos cidadãos, que exigem que os governos se relacionem de igual forma com todos os municípios, independentemente da cor partidária que os preside. As exigências ao poder central são claras: substituir o operador da UNIR, eliminar as portagens na A 29 e reforçar o orçamento da Câmara Municipal através da revisão da Lei das Finanças Locais. Julgo que trago uma vantagem, que é ter tido uma experiência governativa muito recente. O meu adversário direto foi membro do governo no início da década de 90, eu fui secretário de Estado Adjunto do Desporto entre 2022 e 2024. Fui deputado... O seu adversário direto venceu quatro eleições em Gaia com maioria absoluta. O que mudou em 2025 de maneira a que essa possibilidade seja realmente muito difícil de repetir? Quando venceu a primeira vez estavámos em1997. A cidade enfrentava problemas que não são os problemas de hoje. Os cidadãos exigem ao presidente da Câmara que esteja sintonizado com os problemas atuais, que tenha propostas e ideias que respondam a esses problemas. Que seja um presidente de Câmara com experiência política, preparação, energia, dinâmica e vontade para alcançar os compromissos que apresenta para os próximos anos. A campanha tem mostrado que é um candidato amarrado aos problemas do passado, com um discurso muito centrado no passado, na década de 90 e incapaz de imprimir à campanha uma energia e uma dinâmica que se exige a alguém que tem que liderar o terceiro concelho mais populoso. . Porém, é mais conhecido na cidade. A elevada notoriedade também significa uma taxa elevada de rejeição. Sentimos uma elevada rejeição ao regresso do ex-presidente da Câmara. Os adversários dizem que nos últimos 12 anos Gaia estagnou. O que tem a dizer-lhes? 78% dos gaienses gostam de viver em Gaia e recomendariam Gaia aos seus amigos. Isso diz bem do índice de satisfação de uma de uma grande maioria. A obra feita está à vista. O prolongamento da linha do Metro a Vila d’Este. A nova linha Rubi, a maior obra pública a acontecer no país. Um hospital praticamente renovado, onde a Câmara Municipal de Gaia investiu milhões de euros com o voto contra do PSD, hospital considerado um dos melhores hospitais do país, com uma nova urgência pediátrica, uma nova maternidade, uma nova unidade de cuidados intensivos, uma nova unidade de psiquiatria, um heliporto praticamente concluído. Isso também nos enche de orgulho, porque há dez anos tínhamos um hospital com péssimas instalações. Na Educação houve uma revolução. Quer naquilo que é a requalificação do Parque Escolar, dos jardins de infância até às escolas secundárias. Se formos ao desporto, em 2025, inaugurou-se o Pavilhão Multiusos. Estão em obras três pavilhões desportivos e duas piscinas. Propõe 1100 habitações públicas até 2029. É um número realista? Falo com realismo e verdade. E obra feita. As primeiros 500 já foram entregues e resultam de uma parceria da câmara com o IHRU. Quanto às restantes 600, sabemos que, por razões diversas, são devolvidas anualmente à câmara cerca de150 habitações do parque habitacional municipal. São fogos que iremos reabilitar, 600 ao fim de quatro anos, e colocar no arrendamento acessível. Mas a resposta às dificuldades no acesso à habitação não ficam só por aqui. A câmara criou o programa municipal de Apoio ao Arrendamento, que neste momento apoia 450 famílias no pagamento da sua renda. Nos próximos dois anos, o nosso objetivo é duplicar para 900 famílias, de maneira a conseguirmos ter em 2029 perto de 1500 famílias a usufruir desse apoio. Quer no arrendamento acessível, quer no apoio direto ao pagamento da renda. Haverá também uma linha especial para as famílias mais jovens ou para os jovens que se queiram emancipar. O que entende por arrendamento acessível? Taxa máxima de esforço de uma família no pagamento de uma renda não deve exceder os 35% do seu rendimento disponível. Se uma família tem 1.000 € de rendimento disponível, logo a renda calculada para essa família não pode ultrapassar os 350 €. O preço do metro quadrado em Gaia foi dos que mais subiu. Como estancar essa tendência? O aumento do preço do metro quadrado teve a ver com o crescimento drástico, nos últimos dez anos, de dois sectores que se entrecruzam: o imobiliário e o turístico. A pressão sobre a habitação no Porto tem vindo a passar para o centro urbano de Vila Nova de Gaia. Essa procura está ligada à melhoria da qualidade de vida no centro urbano de Gaia. Porque quando se constroem grandes parques verdes, quando se constroem linhas do metro, quando se reabilitam os arruamentos, quando se constroem boas escolas, a procura aumenta. Mobilidade. Anunciou que vai romper com a empresa Unir, responsável pelos autocarros. Que alternativa concreta propõe e como é que garante uma transição sem caos numa cidade com muito trânsito? O trânsito que se sente no centro urbano de Vila Nova de Gaia tem muito a ver com as obras da linha Rubi, que cortaram acessibilidades principais desde a rotunda de Santo Ovídeo. Entrando em funcionamento, a própria linha tirará muito trânsito rodoviário. Que é quando? Mais um ano e meio de obra. Quando for inaugurada, não só irá restabelecer o trânsito nas nossas acessibilidades principais, hoje cortadas, desafogando o centro, como também irá tirar muito automóvel do centro da cidade. Falando sobre a mobilidade temos outras propostas, caso da abolição das portagens. Defender o fim das portagens na A 29, na A 32, na A 41 é realista? Fui um dos principais autores do projeto lei aprovado que eliminou as primeiras portagens em Portugal, em Janeiro deste ano. Portanto, falo com a propriedade de ter sido um dos primeiros subscritores e quem mais lutou por isso na Assembleia da República. A lógica da abolição das portagens em Gaia é uma resposta ao trânsito e não tanto para gerar poupança nas famílias. São lógicas diferentes. Claro que quando abolirmos as portagens em Gaia, as famílias irão poupar e as empresas deixarão de ter esses encargos. Mas a lógica associada é dar uma resposta aos alguns pontos críticos do trânsito em Gaia. A medida melhora a mobilidade, capta mais investimento, empresas, emprego, ajuda famílias e valoriza o interior. Voltando à UNIR: Porque defende a rescisão do contrato? A empresa que está a operar os autocarros, e que ganhou um concurso público internacional por ter apresentado a proposta mais baixa, não tem sido capaz de cumprir as carreiras e os horários que estão no contrato. A entidade que representa o Estado neste contrato é a Transportes Metropolitanos do Porto, que desde abril tem a responsabilidade de fiscalizar este operador. A verdade é que o operador não cumpre. Para resolver este problema, a rescisão do contrato é a única saída legal de curto prazo. Não há outra saída. A câmara terá custos? E como vai ser feita a transição? A câmara não terá custos. Quanto à transição, quero chamar a atenção do seguinte: a Unir tem de ser substituída por um operador que já tenha os 150 autocarros e 200 motoristas disponíveis. Não se pode optar por um operador que os prometa para daqui a três ou quatro ou cinco anos. Propõe transportes gratuitos até aos 30 anos. Como pretende garantir a inclusão dos jovens e o envolvimento deles na cidade? Nós procuramos governar para todas as gerações, porém a geração mais jovem enfrenta dificuldades maiores e por isso queremos dar continuidade ao esforço que a Câmara tem feito ao longo dos anos, encontrando políticas que têm um impacto na vida dos jovens. Desde logo o alargamento da gratuitidade do Andante até aos 30 anos de idade, apoiando os jovens que estão nos seus primeiros anos de vida ativa. Depois, com a melhoria da oferta de transportes, quer com a inauguração da linha Rubi, quer com um operador de autocarros modernos, confortáveis, que cumpra os horários e as carreiras que devem ser compatíveis com os horários dos Institutos superiores, das escolas, dos clubes desportivos, dos treinos, dos jogos. E temos programas que são muito ambiciosos. Por exemplo, na área do desporto, queremos dar continuidade não só à melhoria dos equipamentos desportivos como a reforçar o apoio que já damos aos clubes desportivos para alargar e diversificar ainda mais a oferta desportiva em Vila Nova de Gaia. Gaia é a capital da juventude, porém tem uma larga fatia de população envelhecida. Que política “verde” tem para oferecer a uns e a outros? Entendo que que o próximo ciclo deve ser de construção de parques verdes de proximidade. São pequenos parques de recreio e lazer, como eu próprio fiz aqui na freguesia de Mafamude, onde fui presidente de Junta. É um parque arborizado, com bancos, vocacionado para crianças e com um circuito de manutenção e uma pista segura para bicicletas, pensada primordialmente para crianças. São ainda pequenos polos desportivos para a prática de andebol futebol e basquebol. Ou seja, são parques que custam no máximo 150.000 euros. Quero que Vila Nova de Gaia venha a ter 50 parques de proximidade e mais 200 mil metros quadrados de parques verdes. . Gaia é hoje uma cidade segura? Os dados mais recentes do INE dizem que a taxa de criminalidade em Vila Nova de Gaia está abaixo da taxa de criminalidade do distrito do Porto e abaixo, também, da taxa de criminalidade do país. Não vai reforçar os meios? Na área da segurança e da proteção civil há um antes e um agora nítido. Os últimos 12 anos marcaram uma diferença enorme naquilo que é o apoio da câmara à Proteção Civil. Há 12 anos, o Batalhão de Bombeiros Sapadores tinha 70% dos veículo inativos e 30 efetivos. Estes 12 anos muito positivos para o setor da Proteção Civil, que reforçou os seus equipamentos, melhorou as suas instalações, ou seja, aumentou bastante a sua capacidade de resposta. Do lado da segurança, aquilo que nos compete fazer é continuarmos a ser um parceiro da GNR e da PSP. Há duas semanas, a Câmara entregou mais um conjunto de veículos à GNR e à PSP. Muitos dos veículos das respetivas frotas, em Gaia, foram oferecidos pela Câmara Municipal. Continuaremos a ter esse objetivo, assim como nos propomos fazer a requalificação ou construção de raiz de instalações de postos de GNR e esquadras da PSP. É a maior autarquia do Partido Socialista. Perder esta Câmara seria apenas uma derrota local ou pode ser um abalo estratégico para o partido? Não consigo responder a essa pergunta porque acredito muito na vitória no dia 12. E à medida que nos aproximamos do dia das eleições, sinto que os indecisos estão, na sua maioria, pelo menos na sua maioria, a confiar neste projeto e em mim próprio. Que papel têm as autárquicas na afirmação da liderança de José Luís Carneiro no PS? Não foi o atual secretário-geral que escolheu os candidatos às Câmaras municipais. Deixe me dizer-lhe que, por experiência própria e testemunho próprio, José Luís Carneiro tem dado um apoio total aos candidatos às Câmaras municipais, embora não tenha sido ele a escolhê-los. Julgo que o resultado, qualquer que ele seja no país, não abalará a sua liderança à frente do partido. Se vencer sem maioria absoluta, que alianças pós- eleitorais poderá fazer? Dependerá muito do resultado, da dimensão da vitória. Saberei interpretar o resultado e a vontade dos gaienses. Neste momento, estou focado naquilo que é o objetivo principal da campanha e da minha candidatura, que é vencer as eleições em nome do futuro de Gaia. Deixo a garantia de que tudo farei para garantir estabilidade na governação do município. Vem aí o TGV. Que cidade imagina daqui a dez anos, se for eleito presidente da Câmara? Uma cidade com um sistema de mobilidade de primeira linha europeia, com uma rede de metro, com uma oferta de serviço de autocarros de primeiro mundo, uma estação de alta velocidade. Será das poucas cidades da Península Ibérica com uma estação de alta velocidade, que é uma grande conquista, embora não esteja construída. Será porém uma grande conquista para a qualidade de vida dos gaienses e um grande fator de competitividade para o concelho. Vejo uma cidade rejuvenescida e muito solidária. Se estivesse frente a frente com Luís Filipe Menezes, qual seria a pergunta que lhe faria? No dia em que se lançou como candidato à Câmara do Porto, desrespeitou Vila Nova de Gaia ao dizer que presidir a Gaia não passou de uma comissão de serviço. Gostava de saber se tenciona pedir desculpa aos gaienses. Mas não acredito que o faça.