Gouveia e Melo: “A imigração é uma questão que não está bem resolvida”
A imigração “é uma questão que não está bem resolvida” pelos portugueses, que devem ponderar se desejam a economia a crescer - algo que, no entender de Henrique Gouveia e Melo, só é possível “com imigrantes”. “Sem eles, a economia não se vai desenvolver”, disse o candidato presidencial durante a primeira conferência das Estoril Talks, onde foi orador convidado.
Na intervenção que fez, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) referiu que “se as pessoas escolherem” a sua figura como o próximo Presidente da República, a sua atuação passará por “estudar o ambiente, definir estratégias e aplicar soluções” para os “problemas do país, que devem ser debatidos de forma aberta e sem demagogia” e que vão marcar os próximos cinco anos. Entre estes, além da imigração, estão a “habitação” e a “saúde, que dá às pessoas uma sensação de insuficiência” perante a falta de respostas do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Após o almoço, que incluiu puré de batata e carne estufada, Gouveia e Melo falou perante a assistência que se dividiu ao longo de várias mesas (e onde, entre outros, estava Carlos Carreiras, autarca cessante de Cascais). O primeiro tema a abordar foi a Defesa, nomeadamente os desafios da NATO no mundo atual e o papel de Portugal perante as alterações na relação Europa-Estados Unidos (o tema principal do almoço-conferência de ontem), numa altura que o futuro da aliança atlântica tem sido discutido, bem como o aumento do investimento em defesa. Segundo o almirante, “o fim da NATO seria um dilema para todos”. Até porque, acrescentou, “uma NATO europeia não faz sentido” e investir mais percentagem do PIB, nomeadamente a meta dos 5%, é “exagerado”. “Se o reforço em Defesa for muito acentuado, isso beneficiará o núcleo de países mais industrializados [em termos de defesa]. Isto é, os Estados Unidos, a França e a Alemanha”, disse.
Qual deve, então, ser o futuro da aliança atlântica? “A estratégia deve passar por uma NATO ocidental contra um eventual ator estratégico do Oriente, protagonizado pelo bloco continental Rússia-China. Para Portugal, essa seria a melhor solução, uma vez que o peso geopolítico e a dimensão é pequena-média. Não nos interessa uma NATO atlântica. No entanto, o caos global obriga a termos uma NATO mais global.”
Setembro: mês de posições mais concretas
Após a intervenção de pouco mais de 20 minutos, Gouveia e Melo respondeu às perguntas da plateia. E aí deixou escapar uma confissão. De acordo com o almirante, a sua preocupação até este momento tem sido a de tentar “convencer a bolha mediática”, tentando contrapor o argumento de que o seu passado estritamente militar não é um perigo para a democracia. Por isso, prometeu logo que a partir de setembro - ou seja, um mês antes das eleições autárquicas - passará a assumir posições sobre aspetos políticos mais concretos. Quais? O candidato não especificou.
Antes de um momento mais próximo de uma conferência de imprensa, Gouveia e Melo foi ainda confrontado (por um dos convidados) com a célebre frase que proferiu no final de 2021 - “A democracia não precisa de militares (...), se eu tiver a tentação de entrar na política, deem-me uma corda para me enforcar.” Na resposta, o antigo coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 utilizou, precisamente, esse cargo para se justificar: “Se admitisse alguma coisa nessa altura condenaria todo o processo de vacinação.”
Questionado depois sobre as sondagens recentes que dão uma queda nas intenções de voto em si próprio (aproximando-o assim de António José Seguro e Marques Mendes), Gouveia e Melo relativizou e, ao mesmo tempo, desvalorizou também as possíveis entradas de Rui Moreira, ainda autarca do Porto, e de João Cotrim de Figueiredo, eurodeputado e antigo líder da Iniciativa Liberal na corrida a Belém.
Já sobre as mexidas na disciplina de Cidadania, o almirante rematou dizendo que o seu grande objetivo é que a “educação seja de qualidade”, existindo temas “mais importantes, como a habitação, a saúde, a imigração ou a defesa” para serem tratados nas escolas.