A fila facilmente se confundiria com a da bilheteira do Mosteiro dos Jerónimos. Para um lado e para o outro, junto à fachada frontal da igreja, alguns milhares de pessoas (algumas conhecidas, outras anónimas) esperavam para poder entrar na igreja ao lado do mosteiro. Tudo para deixar um último “adeus” a Francisco Pinto Balsemão, antigo primeiro-ministro que morreu na noite de terça-feira aos 88 anos. E nem o céu cinzento e a ameaça de chuva impediu que alguns populares perguntasse aos jornalistas se a enorme fila era “para entrar” na missa de despedida ao fundador do jornal Expresso e do grupo Impresa.Por entre o corrupio e os olhares curiosos de turistas na zona de Belém, as figuras de Estado (como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ou o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco) acabaram por chegar como deixaram a missa fúnebre de Francisco Pinto Balsemão: praticamente em silêncio.Lá dentro, o cenário mudou e Marcelo Rebelo de Sousa fez uma curta (mas sentida) declaração, onde recordou o antigo primeiro-ministro como alguém que “nunca foi uma ilha”, realizado “pelos outros e com os outros”. Descrevendo Francisco Pinto Balsemão como uma figura “visionária, capaz de antecipar tempos e modos, de romper barreiras e de agir com rasgo”, o Presidente da República ressalvou o espírito lutador do antigo governante, que “nunca desistiu” tendo preferido “a solidão da resistência ao ditame da submissão”. Marcelo Rebelo de Sousa invocou ainda os primórdios políticos Pinto Balselmão, que foi deputado da ala liberal durante o Estado Novo, ao lado de figuras como Francisco Sá Carneiro (com quem fundou o PPD/PSD), falando numa figura essencial “num Portugal fechado”. “Ajudou a abrir a democracia, deu passos que mudaram as vidas de todos nós, nunca foi medíocre” e, por isso, “Portugal nunca esquecerá” o papel que o empresário teve..Na cerimónia religiosa, celebrada pelo cardeal-patriaca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, o filho de Francisco Pinto Balsemão recordou o pai como “um herói”, mas ainda assim imperfeito. “O nosso pai não era perfeito. Pessoas perfeitas não existem. Mas porque estamos a sofrer tanto hoje porque partiu? É porque ele fez por nós muito mais”.Entre “gestores, delegados de turma, surfistas e pescadores” que deixou como netos, Francisco Pedro Balsemão recordou que a família é diversa, mas unida. “Somos diferentes, mas estamos unidos”, garantiu, acrescentando que o nome da família “é sinónimo de valores e, sobretudo, exigência”. “O nosso pai dizia que somos privilegiados e, por isso, somos obrigados a fazer mais”, rematou.Na cerimónia (que contou com um momento musical, onde Camané cantou a música Abandono, cujo tema é a liberdade), Manuel Clemente realçou um “momento verdadeiramente nacional”, como não há muitos. “É uma demonstração da relevância desta pessoa que era Francisco Pinto Balsemão”, concluiu.Terminada a cerimónia religiosa, as várias centenas de presentes na igreja posicionaram-se na escadaria exterior enquanto o caixão era colocado no carro funerário sob um forte aplauso e a emoção de toda a família. Nesse exato momento, um pequeno bando de pássaros sobrevoou por duas vezes aquela zona, cantando, o que suscitou alguns olhares dos netos de Francisco Pinto Balsemão.Com o destino final a ser o cemitério de Cascais, onde foi sepultado após ser cremado, o corpo do antigo primeiro-ministro passou ainda pelo edifício da Impresa, onde os funcionários do grupo se despediram do seu fundador..Marcelo elogia o "visionário", filho e sucessor celebra o "herói". A despedida a Pinto Balsemão nos Jerónimos.Marcelo e Montenegro juntos no velório de Pinto Balsemão. Passos fala de uma “figura marcante da democracia”