Foi ou não convidado para número dois da lista de Pedro Duarte? Em Dezembro, numa reunião, Pedro Duarte e Luís Montenegro tentaram fazer um acordo comigo e eu recusei. E fi-lo porque, para mim, a câmara do Porto tem de ficar entregue a um movimento independente e livre. Foi-lhe proposto ser o número dois da lista do PSD? Pedro Duarte diz não saber de nada. Fui convidado para ser o número dois da lista, sim. No dia 12 de Outubro, iremos também avaliar o caráter dos que estão a candidatar-se a presidente da Câmara do Porto. Não é propriamente um cargo de somenos, para mim. Talvez seja mesmo o cargo político mais importante que existe. Ora, quando um candidato a esse cargo afirma que não sabe de nada, quando esteve na reunião, está a dizer muito dele próprio. Também é isso que está a ser avaliado pelos portuenses. A ausência do apoio de Rui Moreira foi muito penalizador para a sua candidatura? O movimento que encabeço hoje - Filipe Araújo: Fazer à Porto - tem muito daquele que foi criado em 2012. Temos connosco muitas dessas pessoas, que continuam a identificar-se com uma cidade livre e independente, princípios que fizeram surgir o movimento independente em 2013. Porque um movimento não é apenas uma pessoa. É um conjunto de pessoas orgulhosas dos mesmos valores. Portanto, sinto que esse movimento livre e independente continua a existir na cidade do Porto. Força que ficou bem patente na apresentação do manifesto. Nesta campanha, Rui Moreira tem sido equidistante? Intimamente, sempre senti o apoio dele. Continuo a ser vice-presidente da câmara, continuo a sentir que me considera enquanto pessoa, desde logo porque me escolheu para ser seu número dois nos últimos oito anos. E, portanto, continuo a sentir esse apoio. A possibilidade de integrar uma outra lista que não uma liderada por si nunca se colocou? Na minha cabeça, nunca. Disse, desde a primeira hora, que a candidatura que faria sentido, após 12 anos de governação do movimento independente, era uma candidatura que mantivesse os mesmos princípios e os mesmos valores de liberdade e de independência. Disto nunca abdiquei. Não abdiquei quando houve uma tentativa por parte do PSD e não abdicaria fosse qual fosse o convite que me chegasse. Manuel Pizarro, do PS, e Pedro Duarte, do PSD, reclamam-se os herdeiros do ‘moreirismo’. Inclusivamente, incluíram elementos da atual governação nas respetivas listas. Como olha para esta estratégia? Se temos hoje uma tentativa do Partido Socialista e do Partido Social Democrata de se afirmarem portadores do trabalho do movimento independente, é porque fomos competentes. Mas pergunto: para quê ter uma cópia inexperiente, quando podem ter um original experiente? Tenho 12 anos de experiência. Por isso, 'diga não à cópia'. É o verdadeiro herdeiro de Moreira? Sem dúvida. O que está em cima da mesa nas próximas eleições é mesmo isso: se queremos voltar ao tempo destes partidos, os partidos que têm governado o país nos últimos 50 anos, ou se queremos continuar com esta linha de cidadãos do Porto, livres e independentes, que têm esses valores por base na sua gestão do dia a dia. Esta tentativa de apropriação soa sempre a falso. .Se temos hoje uma tentativa do Partido Socialista ou do Partido Social Democrata de se afirmarem portadores do trabalho do movimento independente, é porque fomos competentes". O que é que o distingue dos outros candidatos? PS e PSD estão a usar promessas a torto e a direito. Estão a caminhar no sentido oposto ao que temos hoje: contas certas. Temos um PS e um PSD sem norte. A prometer tudo a todos e a pôr em causa aquilo que são as contas certas, e quem põe em causa as contas certas põe em causa a independência do Porto. Com eles, o Porto voltará a precisar do dinheiro de Lisboa; ficará, de novo, de mão estendida em relação a Lisboa e a capital voltará a mandar no Porto. Esta, é por isso, uma linha vermelha minha. Nunca pôr em causa a independência e a capacidade do Porto decidir por si próprio. Mas há outras diferenças. Eu fiz obra. E espero continuar a fazer nos próximos anos. Habitação. O falhou na atual governação da cidade, para se chegar a um ponto tão extremo em matéria de habitação? Nada. Pelo contrário, fomos absolutamente inovadores. Criámos o Porto Solidário, um complemento às rendas que já ajudou mais de 7000 famílias. Para isso, foram investidos mais de 20 milhões de euros. Trouxemos os privados para trabalhar connosco, colocando habitações disponíveis no mercado de arrendamento acessível. Criámos o Porto Com Sentido, programa que acabaria replicado por outras cidades. Hoje, temos quase 300 habitações onde vivem famílias que pagam rendas acessíveis. Portanto, nos últimos anos, não só não estivemos parados como fomos absolutamente inovadores. Neste momento, já temos contratualizados com privados mais de 300 habitações que após serem construídas serão por nós alugadas durante dez anos. Não fazemos promessas como os outros. Não vivemos no reino da fantasia, nem seguimos a lógica absolutamente despesista do PS quando promete 5000 casas. Somos muito concretos e temos a experiência de fazer, porque isto também conta. .Temos um PS e um PSD sem norte (...) Com eles, o Porto voltará a precisar do dinheiro de Lisboa; ficará, de novo, de mão estendida em relação a Lisboa.". Na habitação a aposta é dar seguimento ao que já foi iniciado, é isso? É dar corpo aos programas que têm tido sucesso. Vamos criar uma task force, um grupo especial que vai mobilizar tudo o que são os nossos recursos da Câmara para conseguir acelerar a construção das casas. Nós temos neste momento cerca de 1400 e podemos chegar às 2000 habitações de investimento público. E isso também é muito importante. Mas não é uma promessa. São coisas concretas. Sabemos onde é que vamos construir algumas delas. Foram lançados concursos e estarão prontas nos próximos quatro anos. No futuro queremos ter, ainda, mais residências partilhadas para os idosos. Em relação ao modelo de cidade: construção ou reabilitação? O Porto tem espaço para crescer? O Porto ainda tem espaço para crescer, nomeadamente em algumas unidades operativas de planeamento e gestão azul. Um dos fatores mais importantes na dimensão da cidade do Porto é a academia. Somos uma cidade do conhecimento. Precisamos de jovens. Esses jovens precisam de casas. São jovens que depois dos cursos querem ter um futuro na cidade. Portanto, dizer, como disse Pedro Duarte, que o Porto tem pessoas a mais é inadmissível. Construção, reabilitação, não tenho amarras ideológicas. Nem acho que tudo deva ser público. Nós queremos ter soluções e, portanto, tudo o que tenha a ver com construção ou reabilitação, obviamente em respeito pelo Plano Diretor Municipal, é bem-vindo. Não queremos uma cidade parada, uma cidade que não constrói, uma cidade que não dá resposta à dinâmica económica, até de criação de postos de trabalho. Uma cidade que prefere que as pessoas vivam fora de portas e andem todos os dias de carro para trás e para a frente não é a nossa cidade. O Porto tem um problema de turismo caótico? O que mais me preocupa tem a ver com a legalidade, nomeadamente no alojamento local. Apesar da atividade estar regulada, há alojamento local ilegal, que foge a pagar impostos e aos trâmites normais. E por isso queremos aumentar a fiscalização. Como queremos fiscalizar a quantidade de lojas de fachada que vendem as ditas bugigangas. Mas está ou não o turismo a desvirtuar a cidade? O turismo gera dinâmica, é bom para a cidade, mas temos tido uma atitude atenta. Falo por exemplo do cartão Porto, que criei e que é uma discriminação positiva para os portuenses. Quem viva na cidade e vá ao Cinema Batalha ou ao Rivoli, também terá uma discriminação positiva, pagando meio bilhete. O mesmo sucede nos museus, gratuitos para quem tem cartão. Queremos, agora, alargar os benefícios do próprio cartão. Sabemos que a atividade do turismo tem os seus impactos, e por isso mesmo existe a taxa turística. .Apesar da atividade estar regulada, há alojamento local ilegal, que foge a pagar impostos e aos trâmites normais. E por isso queremos aumentar a fiscalização. Como queremos fiscalizar a quantidade de lojas de fachada que vendem as ditas bugigangas.". O Bolhão é o exemplo de um turismo desordenado. O que vai fazer para resolver o problema? Antes de mais: foi este executivo camarário que recuperou o Bolhão, um ex-libris da cidade que esteve ao abandono durante muitos anos, sujeito mesmo a fechar portas definitivamente. Dito isto, a política que quero seguir nos próximos anos está direcionada ao mercado de frescos. Relativamente à maneira como está a funcionar neste momento, também não simpatizo com o facto de ter pessoas a comer no chão e outras coisas que mostram as fotografias. Obviamente, temos de ter regras e elas têm de ser cumpridas. E é importante que essas regras dêem primazia aos comerciantes que fazem a alma do Bolhão. Disso não abdico. Esse é o futuro do Bolhão. O futuro Bolhão estará sempre relacionado com os comerciantes que vendem as flores, que vendem o peixe, que vendem a fruta. Mobilidade. Como é que se corrigem os problemas de sobrecarga de tráfego do Intermodal de Campanhã. Que custos terá? O Intermodal foi um sucesso. As pessoas passaram a andar muito mais de autocarro, desde logo porque apareceram novos operadores provocando a baixa de preços. Nós renovámos toda aquela zona, transformando-a num grande parque verde. É uma zona de excelência, que levou a um aumento exponencial de utilizadores do transporte de expressos. Mas é verdade: quando decidimos construir o Terminal Intermodal não tínhamos essa perspetiva e portanto são agora necessárias obras de remodelação. Mau planeamento? Repare, a obra foi pensada em 2000. E se hoje estamos perante uma sobrecarga de infraestrutura é bom sinal. O temos de fazer? Atuar. Nunca nos furtamos aos problemas. Estamos a falar de 3 fases: melhoria da circulação da envolvente, a reformulação do cais de embarque e o novo parque de estacionamento. Quanto a custos, o cálculo está a ser feito. É um cálculo que que está feito pela STCP Serviços. .O futuro Bolhão estará sempre relacionado com os comerciantes que vendem as flores, que vendem o peixe, que vendem a fruta.". Metrobus: o projeto deve ser abandonado ou mantido? Se o presidente da Metro diz que os autocarros já estão no Porto, pois bem, ponham os autocarros a andar. É absolutamente inadmissível que o ministro das Infraestruturas, que mais parece o ministro das Infraestruturas paradas, não coloque o Metrobus a funcionar. Nenhum portuense consegue entender que isso aconteça. Vejo um presidente da Metro, tutelada pelo ministro das Infraestruturas, a dizer que os autocarros já chegaram e vejo os portuenses a desesperar, à espera, há mais de um ano, de que os autocarros circulem. O Porto é uma cidade segura? Tem o nível de criminalidade de uma cidade segura. O que nós temos no Porto são fenómenos de pequena criminalidade associada ao tráfico de droga. E esta situação da pequena criminalidade deve-se a uma total ausência de soluções dos sucessivos governos PS e PSD. O combate ao tráfico de droga é da responsabilidade do Ministério da Administração Interna. Sucessivos ministros da Administração Interna têm falhado, não dotando a PSP de mais polícias. Sim, os partidos prometem mais polícias, quando este governo acabou de desviar uma série deles da Polícia de Segurança Pública Metropolitana do Porto para o novo SEF. Como é que explica isto aos portuenses? Para além disso, temos hoje uma polícia municipal com 206 elementos que acabou de perder 11 para a reforma e está em vias de perder mais seis. Mas não podemos falar só da falta de polícias. Esta pequena criminalidade está associada também a toxicodependência, e daí não podemos tirar da equação os sucessivos governos e a inação dos ministérios da saúde. Aliás, temos candidatos que foram ministros e que não intervieram nem do lado da segurança nem do lado da saúde. E o que é que acontece quando um toxicodependente fica mais de um ano à espera da primeira consulta sobre comportamentos aditivos? Pratica pequenos crimes. O Porto e o Movimento independente dos últimos 12 anos nunca se furtou a investir em tudo o que tivesse a ver com segurança e considerou sempre um investimento e não um gasto. E eu farei esse caminho. Exatamente. A primeira coisa a fazer é dotar a Polícia Municipal de mais fiscais de trânsito, de modo a libertar os polícias municipais para um policiamento de proximidade. O que nós precisamos é de ter maior visibilidade da PSP e da Polícia Municipal. E mais guardas noturnos. Associa a questão da segurança à imigração? De maneira alguma. O que digo é que é preciso aumentar a fiscalização sobre atividades ilegais conectadas. Terei tolerância zero ao tráfico humano, aos negócios das camas quentes, às lojas de fachada. E uma aposta muito forte na integração. Proponho criar um pelouro da integração, de maneira a ajudar a um tratamento de digno de todas as pessoas que estão no Porto, de maneira a que daqui a dez anos não estejamos a passar por problemas que outras cidades conhecem. Quero agir hoje, para amanhã não ter esses problemas. São precisos professores que ensinem a língua também aos pais, mediadores culturais que transmitam, entre outras informações, literacia em saúde: os centros de saúde, a vacinação, os rastreios. Temos de tratar com dignidade quem chega. Devo dizer que temos na cidade imigração qualificada e imigração menos qualificada, mas toda ela é bem-vinda. .É absolutamente inadmissível que o ministro das Infraestruturas, que mais parece o ministro das Infraestruturas paradas, não coloque o Metrobus a funcionar..Nas sondagens tem estado em quarto lugar, abaixo do Chega. Uma desilusão? As sondagens são fotografias do momento. O que interessa sabe-se apenas no dia 12. Este é um caminho. E ainda temos muito pela frente. Não sendo previsível uma maioria absoluta de nenhum partido, pode ficar numa posição charneira. Que política de alianças tenciona fazer? Trabalho para ser presidente da câmara. Porém, se não acontecer, saberei fazer a leitura dos resultados eleitorais. .Habitação social. Incumprimento no pagamento de rendas é residual no Grande Porto.Autárquicas: Metrobus passou ao lado no debate da mobilidade entre candidatos à câmara do Porto