A entrevista de Pedro Nuno Santos ao Expresso, na qual o secretário-geral do PS criticou a Manifestação de Interesse criada pelo Governo de António Costa, pois teve o “efeito de chamada” de um número de imigrantes que Portugal não estava preparado para receber, fazendo ainda referência a “uma cultura que deve ser respeitada” pelos que chegam ao país, gerou críticas internas, mas também brechas no relacionamento com potenciais aliados, como o Bloco de Esquerda. Ao ponto de serem alvo de reparos por dirigentes desse partido, cujas Jornadas Parlamentares decorrem hoje.Num almoço-comício realizado neste domingo, também em Coimbra, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, não abordou o tema, dedicando-se a atacar a Lei dos Solos - e o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, que criou duas sociedades imobiliárias após entrar para o Governo -, considerando que a legislação que diz favorecer a especulação imobiliária resulta de um acordo entre PS, PSD e Chega.Mas as declarações de Pedro Nuno Santos não passaram ao lado do almoço-convívio, numa intervenção de Catarina Martins, antecessora de Mortágua na liderança, que confessou “perplexidade” com o secretário-geral do PS. “Sou daquelas pessoas que acha tão bonito, ao fim de semana de manhã, no centro de Bruxelas, ver um grupo de pessoas a discutir o jogo do Benfica e sentir o cheiro a frango assado, como ver no centro de Lisboa alguém a jogar críquete e sentir cheiro a caril”, disse a eurodeputada.Logo na sexta-feira, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, reagira à entrevista de Pedro Nuno Santos, manifestando surpresa “com o facto de o PS querer também um entendimento com o PSD em matéria de política migratória, que é um facto recente”.A descolagem sucede numa conjuntura em que as figuras de proa do PS têm maiores afinidades ideológicas com o Bloco de Esquerda do que existiam na liderança de António Costa. Enquanto secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos foi o coordenador político da geringonça criada em 2015, e que permitiu a única legislatura completa do agora presidente do Conselho Europeu. Na liderança do grupo parlamentar está Alexandra Leitão, escolhida como candidata à Câmara de Lisboa, em vez de Mariana Vieira da Silva, parcialmente pela maior capacidade de encabeçar uma coligação com partidos à esquerda do PS. E entre os membros mais destacados do grupo parlamentar encontra-se a ex-ministra Marina Gonçalves, chefe de gabinete de Pedro Nuno Santos nos tempos da geringonça.Dentro do PS, também a ala esquerda se destacou nas críticas a Pedro Nuno Santos. Além de Ana Catarina Mendes ter dito sentir “pena” pelo que descreveu como “aproximação ao discurso da direita e da extrema-direita” e Marta Temido referido “desconforto” com “palavras que não são felizes”, a deputada Isabel Moreira não ficou atrás das eurodeputadas e ex-ministras. “Não sei o que significa respeitar ‘um modo de vida’ ou ‘uma cultura”. Sei que a Constituição estipula que portugueses e estrangeiros estão sujeitos aos mesmos deveres e são titulares dos mesmos direitos. O meu campo de afirmação de valores e princípios é o da Lei Fundamental e esta não quer saber da nacionalidade de ninguém. Nem de obediências culturais”, escreveu no Facebook.