O Governo Português e a Embraer formalizaram, esta quarta-feira, 17 de dezembro, um acordo estratégico que marca o regresso da gigante brasileira à montagem de aeronaves em Portugal. O Ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, e o presidente da Embraer SA, Bosco da Costa Júnior, assinaram, nas instalações da OGMA, uma carta de interesse para a instalação de uma nova unidade industrial em Beja, destinada ao fabrico do modelo A-29N Super Tucano.O anúncio coincidiu com a entrega das primeiras cinco aeronaves (de um total de 12 encomendadas) à Força Aérea Portuguesa. Portugal torna-se, assim, o primeiro país europeu a operar esta versão específica da aeronave, configurada segundo os padrões técnicos da NATO.O projeto representa um investimento global de 200 milhões de euros na modernização da Força Aérea, sublinha o Ministério da Defesa em comunicado. Um dos pontos centrais do acordo é a forte componente nacional: 75 milhões de euros serão canalizados diretamente para empresas portuguesas, responsáveis pelo "upgrade" e reconfiguração dos aviões, diz o MDN.Além do apoio aéreo próximo, estas aeronaves trazem uma capacidade inovadora para o inventário nacional: a luta anti-drone. Segundo Nuno Melo, esta escolha técnica -- validada pela Força Aérea -- responde aos novos cenários de conflito moderno e reforça a base industrial de defesa no país, que só em 2025 viu nascer 60 novas empresas no setor.A nova fábrica em Beja não servirá apenas Portugal. A linha de montagem está projetada para atender à eventual procura de outras nações europeias através de negociações da empresa brasileira governo a governo. A concretizar-se, isto permitirá a criação de emprego qualificado no interior do país, sublinha o ExecutivoEmbora este anúncio marque um reforço da presença da Embraer, a estratégia em Beja difere do modelo anterior seguido em Portugal. Em maio de 2022, a Embraer alienou as suas duas principais unidades industriais no Parque de Indústria Aeronáutica de Évora -- a Embraer Metálicas e a Embraer Compósitos -- à multinacional espanhola Aernnova, num negócio de aproximadamente 165 milhões de euros.Atualmente, as fábricas de Évora continuam em plena operação sob gestão da Aernnova, produzindo componentes estruturais críticos para aviões da Embraer. O projeto em Beja, agora anunciado, representa uma iniciativa distinta, focada na montagem final e produção da variante militar "N" (NATO) do Super Tucano, consolidando o Alentejo como o principal polo aeronáutico do país.