Direita "mainstream" portuguesa deve pensar sobre o futuro, analisa politólogo Riccardo Marchi
Os resultados destas legislativas indicam que Portugal "entrou na onda de viragem à direita que se vive em todos os países da Europa", avalia o investigador do ISCTE e professor da Universidade Lusófona Riccardo Marchi.
Para o politólogo, "a direita mainstream portuguesa tem de a começar a pensar seriamente em qual vai ser o seu futuro" já que "a direita radical começou a tornar-se indispensável para uma solução de Governo".
Com o CHEGA a ficar praticamente empatado com o Partido Socialista, a Aliança Democrática vai precisar encontrar um caminho a seguir.
"Pode seguir um caminho à italiana, por exemplo, onde o partido da direita moderada decide aliar-se com a direita radical e constituir um governo sólido, e dentro deste novo governo, depois, jogar com a relação de forças entre os partidos moderados e os partidos mais radicais. Ou, pelo contrário, pode seguir um caminho à alemã, onde o centro-direita decide não ter nada a ver com a direita radical e até prefere encontrar aliança com os socialistas. Está tudo em aberto", analisa Riccardo Marchi.
Insatisfação
A expressão nas urnas, para o politólogo, pode indicar "uma insatisfação de larga faixa do eleitorado português".
O professor explica que "o próprio André Ventura não protagonizou uma campanha inovadora e diferente daquela que é o seu registo habitual desde 2019", mas que poderá ter conseguida receber votos que demonstram um protesto dos portugueses contra a governação "bipolar" do Partido Social Democrata e do Partido Socialista.
"O facto de que, apesar de não ter representado grandes novidades em relação àquilo que era o seu discurso tradicional, conseguiu, mais uma vez, fazer crescer de forma exponencial o partido e ter assegurado esse resultado demonstra que larga faixa do eleitorado quer dar um sinal de protesto, apesar da qualidade do conteúdo deste protesto. Creio que começará a segunda fase do CHEGA, ou seja, de facto, vai começar a pensar em apresentar uma oferta política de qualidade para ser finalmente força de governo", avalia Marchi.
Assista à entrevista na íntegra