"Deriva armamentista" marca debate entre Livre e BE e vinca diferenças à esquerda
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"Deriva armamentista" marca debate entre Livre e BE e vinca diferenças à esquerda

Num debate em que ambos tentaram marcar diferenças entre si, Rui Tavares e Mariana Mortágua discordaram na defesa e política europeia. Na política interna ambos concordaram: esquerda deve fazer mais.
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Nas palavras de Rui Tavares, foi "um debate entre duas pessoas com quem Luís Montenegro", primeiro-ministro, que recusou estar frente a frente com os líderes do BE, Livre e PAN. E serviu, sobretudo, para marcar diferenças à esquerda.

No debate frente a Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, a defesa e o europeísmo marcaram a discussão e foram o principal tema de discórdia entre os dois líderes partidários. Para o co-porta-voz do Livre "é cada vez mais visível por que a construção europeia importa aos países pequenos e médios", que são "todos Europa", e marcou desde logo uma diferença em relação ao BE: a construção de uma "comunidade europeia de defesa". Divergências essas que foram vincadas pela coordenadora bloquista, que criticou a Comissão Europeia e os posicionamentos comunitários em relação à Palestina ou a resposta à crise da dívida, bem como a "deriva armamentista" que considerou estar em curso. "Gostar de Europa é poder criticá-la quando joga contra si própria", referiu Mariana Mortágua.

Ao ataque e com a intenção de marcar diferenças em relação ao Bloco, Rui Tavares abordou o tema da NATO. "Há debates na Europa que são intensos e em que há cicatrizes para mostrar por ter tido que teve a coragem de assumir determinadas convicções", considerou o também deputado do Livre. Depois, parafraseou Fernando Rosas, um dos fundadores do BE que agora regressa para ser cabeça de lista por Leiria, e que referiu, aquando do referendo do Brexit, que não se devia chorar uma lágrima pelo fim da União Europeia (UE). "É uma diferença histórica grande. No Livre, acreditamos na construção das instituições que conseguimos conquistar", concluiu antes de parafrasear outro fundador do BE (Francisco Louçã), dizendo que o seu partido "nunca defendeu a saída do euro".

Na resposta, Mariana Mortágua retificou as declarações de Rui Tavares, defendendo que o BE "nunca" foi a favor da saída do euro e que os bloquistas choraram "uma lágrima" pela Grécia, que foi "esmagada" aquando da crise. "Acredito que é possível uma Europa diferente e que é preciso criticar a Comissão Europeia pelas regras injustas", referiu a coordenadora do Bloco.

Admitindo que não há muitas divergências entre o BE e o Livre, Mariana Mortágua vincou que a cooperação militar europeia deve acontecer, mas discorda da perspetiva de se gastar mais em armas. "O BE entende que não [deve ser gasto mais em armamento]. A Europa já investe o suficiente em armas", considerou a porta-voz do BE. Já Rui Tavares deixou um pedido: "Não quero que se pense que Putin é uma gripezinha como Bolsonaro dizia da covid-19."

Mas a "ideia de que Putin vem montado num tanque e vai entrar pela fronteira espanhola é uma ideia errada", considerou depois Mariana Mortágua, acrescentando que a Rússia "não tem capacidade militar" como a da UE. "Está armado até aos dentes, mas não chegou a Kiev, porque a Europa defendeu a Ucrânia", concluiu antes de reiterar que uma UE "endividada até aos dentes" por gastar dinheiro em armas em vez de o fazer em serviços sociais é "errado".

"Só se contorna a lei quando a lei quer ser contornada"

Passando depois à política interna e às propostas para as eleições legislativas de maio, Mariana Mortágua defendeu os leques salariais e que "se um gestor quer ganhar dois milhões de euros/ano não tem mal nenhum", mas deve aumentar os seus trabalhadores também.

"Sempre que há uma proposta justa, como o teto às rendas [uma das bandeiras do BE para as legislativas], perguntam-nos se os ricos não vão fugir. Essa pergunta nunca é feita quando se trata de propostas que castigam quem trabalha. Cabe-nos fazer leis para que não possam fugir. Temos de levar a sério as leis que fazemos. Só se se contorna a lei quando a lei quer ser contornada", considerou a coordenadora do BE.

Confrontado com a proposta de criar um rácio entre salários mais altos e mais baixos numa empresa, Rui Tavares deu depois como exemplo "o mercado interno da UE, que é regulado por diretivas e regulamentos legislados pelo Parlamento Europeu, que permitem fazer isso". "Temos de acabar com os diferenciais obscenos que criam casta à parte de CEOs que drenam a capacidade das empresas em reinvestir", defendeu.

Já na reta final do debate, houve tempo ainda para discutir possíveis cenários que possam sair das eleições legislativas de 18 de maio. E tal como já havia feito no debate com Pedro Nuno Santos, Mariana Mortágua voltou a acusar o PS de estar à espera de ter mais um voto do que a AD, para poder contar com o apoio de PSD e CDS-PP. Por isso, "esta campanha será sobre a capacidade da esquerda em ter mais deputados para impor medidas", frisou.

Rui Tavares foi no mesmo sentido: "Olhem para a esquerda, porque encontram mais resposta na esquerda e vitalidade no nosso debate" e, sem nunca se referir ao PS ou a dar apoio aos socialistas caso necessário para governar, defendeu uma "governação progressista e da ecologia", com uma fasquia "mais elevada". Afinal, "um primeiro-ministro não pode ter uma consultora na sua esfera. O Serviço Nacional de Saúde [SNS] não pode ser privado, tem de se investir na habitação e educação, a Ucrânia tem de continuar a ser apoiada e a Palestina deve ser reconhecida como Estado independente". Perante estas linhas, o co-porta-voz do Livre vê "uma plataforma de entendimento onde cabem vários partidos e que é maioritária entre os portugueses". O erro da esquerda, defendeu, "foi deixar de falar de liberdade".

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