O "bully" Trump e as "petrolíferas beneficiadas" pela isenção de impostos: o debate entre BE e PAN
Para Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, não há dúvidas: Donald Trump é um "bully". E a "pior coisa que se pode fazer a um bully", seja o presidente norte-americano ou André Ventura, "é ceder à sua chantagem e imposições". Por isso, "a União Europeia não deve ceder" à tentação de comprar gás ou outros bens aos Estados Unidos.
No frente-a-frente transmitido pela CNN Portugal, onde debateu com Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, a líder do BE defendeu que "aumentar tarifas" como resposta às imposições alfandegárias de Trump só vai resultar num "aumento maior". Mas pode "atacar-se onde dói": "Podem taxar-se os gigantes tecnológicos, as empresas que detêm redes sociais e são detidas por oligarcas." A proposta, conhecida como "taxa Musk" (batizada com o apelido do magnata que detém a Tesla e a rede social X), não é nova e o Bloco já a defendera durante a legislatura que agora termina.
Em resposta, Inês de Sousa Real considerou que a guerra comercial "pode ter um impacto muito negativo na vida das pessoas". E podendo isto resultar numa recessão, a porta-voz e deputada única do PAN defendeu ser necessária uma "visão de médio longo prazo", dando assim alguma "proteção económica" ao país. Respondendo ao pacote de medidas apresentadas pelo Governo durante a tarde desta quinta-feira, Inês Sousa Real classificou-as como "requentadas".
Passando depois para a área da Defesa, Mariana Mortágua disse ser "falso, uma mentira" que a Europa precise de mais armas para se defender. Até porque, defendeu, "as democracias estão sob ataque interno". "Putin não precisa de invadir França para dominar a política do país, por ter em Marine Le Pen uma aliada". Este discurso de mais armas, argumentou depois, é alimentado pelo "lóbi das grandes empresas de armamento", que disse serem "controladas por fundos americanos". E a Europa tem culpa por não ter "capacidade estratégica", sublinhou, uma vez que a "entregou aos EUA". Já Inês Sousa Real defendeu que não compete a Portugal "comprar mais armas". "Não podemos canalizar os esforços para a parte militar e de defesa. Não podemos exigir mais do que temos, quando essa decisão nem cabe sequer a Portugal", disse.
Num debate mornos onde houve pontos de contacto e algumas divergências (que foram vincadas pela própria Mariana Mortágua) entre as duas líderes partidárias, a crise da habitação foi também abordada. E, tal como fez com a "taxa Musk", Mariana Mortágua trouxe para cima da mesa uma proposta já conhecida - e debatida - do seu partido: a fixação de tetos máximos para as rendas. Esta medida, que argumentou resolver os problemas "desta geração", permite também "baixar os preços das rendas para valores compatíveis com os salários" que se praticam no país. Tal como fez no frente-a-frente com Pedro Nuno Santos, a coordenadora do BE argumentou que esta fixação já foi utilizada noutras latitudes, como nos Países Baixos ou na Alemanha.
Para Inês de Sousa Real, não há dúvidas: "É importante que quem tenha o sonho de ter casa própria, tenha medidas que deem resposta à adquirição”. Com isso, propôs, deve ser reposto o "crédito bonificado" e o "aumento da isenção do IMI de 3 para 5 anos".
Terminando na energia, Inês de Sousa Real defendeu que a isenção dos impostos sobre os combustíveis "só beneficia as grandes petrolíferas". Esse dinheiro, exemplificou, pode servir para pagar passes sociais a toda a população portuguesa. Até porque "se se quer aliviar a carga fiscal às famílias, há que o fazer diretamente". Mostrando-se a favor de taxar os lucros excessivos das petrolíferas, a porta-voz do PAN admite no entanto não ser possível "diabolizar o empreendedorismo".
O principal ponto de divergência surgiria já na reta final: a descida do IRC. Mariana Mortágua afirmou que "a proposta do PAN de descer o IRC de 21% para 17% é um erro. "Essa descida beneficia as grandes empresas, como a Galp, que teria cem milhões de euros de benefício", exemplificou. Inês de Sousa Real contrapôs depois, defendendo a medida, e acrescentando que um modelo de descida ponderada do IRS para os jovens são "razoáveis". O PAN, disse, "olha para a economia e não diaboliza as empresas com boas práticas".