A 62 dias das eleições presidenciais, os debates vão iniciar-se. Na próxima segunda-feira, pelas 21h00, António José Seguro e André Ventura estarão no primeiro frente a frente. Ao todo, serão 28, com o último ‘duelo’ a ser travado no dia 22 de dezembro entre Gouveia e Melo e Luís Marques Mendes. Mas, na perspetiva de Riccardo Marchi, iniciar debates a esta distância das eleições (cuja primeira volta está marcada para dia 18 de janeiro), vai contribuir para que haja uma “perda de interesse” ao longo do tempo.Segundo o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, “a grande massa dos eleitores está desligada” das presidenciais nesta fase. Além disso, “o modelo de debate também cansa” os eleitores. Comparando com as legislativas, Riccardo Marchi considera que “debates de meia hora entre os candidatos, sobre tudo e mais alguma coisa, seguidos de mais discussão sobre o próprio debate” é uma fórmula que “não mexe muito” com as pessoas, nem “colhe” muita adesão.Ouvida pelo DN, a investigadora Patrícia Calca, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE, traz outra variável para a equação: a antecedência com que os debates se iniciam “acaba por fazer com que terminem muito antes das eleições e pode efetivamente haver esse cansaço por parte do eleitorado”. No entanto, apesar destas discussões serem uma constante em todas as eleições, “não se sabe muito bem qual é o impacto real dos debates junto das pessoas, nem qual é o propósito”. “Continua a fazer-se tudo um pouco ao som da música, de acharmos que os debates televisionados são muito relevantes e podem não o ser atualmente”, considera a investigadora.Realçando que “os debates têm tido menos impacto no comportamento eleitoral” dos portugueses, Patrícia Calca deixa uma ilação: “Não é devido aos debates que a maioria dos eleitores indecisos decidem votar em algum dos candidatos. É um momento interessante para os mass media e é, sobretudo, relevante para os candidatos que querem marcar a agenda ou então para os que são um bocadinho outsiders. Tirando isso, o que se sabe é que os debates não costumam ser decisivos.”O período de pré-campanha para as presidenciais de janeiro tem sido pontuado por vários momentos que marcaram a ordem do dia. Primeiro, foram os cartazes de André Ventura que mereceram queixas na Justiça e, mais recentemente, a troca de palavras entre Henrique Gouveia e Melo e Luís Marques Mendes, motivadas pelas declarações do almirante sobre os motivos que o fizeram avançar para Belém. Podem estes momentos ter algum impacto na campanha eleitoral e marcar os debates? Riccardo Marchi é taxativo: “Ninguém vai ligar a essas coisas. Percebe-se, em termos de comunicação política, que se queiram posicionar em termos estratégicos para roubar votos ao centro-direita. Portanto, fazem tudo e mais alguma coisa para descredibilizar o adversário.” Já Patrícia Calca olha para esta possibilidade como uma consequência da polarização. Segundo a investigadora, “com a entrada de partidos mais nas ‘franjas’ do sistema político, essa polarização faz com que as campanhas sejam muito mais ao sabor da espuma dos dias. Nenhum desses candidatos está a defender posições mais extremadas, mas sim a procurar, estrategicamente, ganhar votos no centro-direita.”Debates “podem ser” handicap para almiranteSeja em cargos de liderança ou como deputados, quase todos os candidatos que vão debater a partir de segunda-feira têm experiência política. A exceção é o almirante Henrique Gouveia e Melo, ex-chefe do Estado-Maior da Armada, que deixou a carreira militar e decidiu concorrer a Belém. Segundo os dois politólogos ouvidos pelo DN, isso pode ser um problema na hora de debater.Riccardo Marchi olha para o almirante como “o candidato mais fragilizado, sem grande experiência política ou traquejo”. E até agora, nas entrevistas que deu, “não mostrou ser particularmente galvanizador, ao contrário de Cotrim Figueiredo ou de Marques Mendes, que têm uma maior capacidade de debate e argumentação”. Por sua vez, Patrícia Calca nota pouca “flexibilidade em certos assuntos” por parte de Gouveia e Melo, que é uma “figura com autoridade” devido às suas funções prévias. “Não sei se essa menor flexibilidade não terá a ver exatamente com a experiência militar. É algo que poderá vir a agir contra ele. Mas os eleitores gostam de figuras providenciais e, nesse contexto, pode até acontecer o completo oposto.”.RTP, SIC e TVI garantem que todos os candidatos presidenciais aceitaram modelo de debates e rejeitam “exclusividade”.Aguiar Branco. "Espero que Presidenciais não se transformem num debate antipartidos"