Primeiro foi Miguel Arruda, deputado na Assembleia da República, a ser constituído arguido por suspeitas de roubar malas em aeroportos. Esta quarta e quinta-feira, mais dois casos abalaram as hostes do Chega. José Paulo Sousa, deputado regional nos Açores, acusou uma taxa de álcool no sangue de 2,25 g/l superior ao limite criminal (1,2 g/l), e Nuno Pardal Ribeiro, até agora vice-presidente da distrital e deputado municipal em Lisboa (entretanto deixou os dois cargos), foi acusado pelo Ministério Público de dois crimes de prostituição de menores agravados.Mas, ouvido pelo DN, o investigador Riccardo Marchi diz ser necessário "diferenciar os níveis de análise". Junto "da opinião pública geral", estes casos podem "passar a ideia" que o partido é, no fundo, "cada vez menos diferente" dos outros -- algo que o Chega sempre argumentou ser. Ou seja: "Chegou para romper com a elite corrupta, mas está muito permeável à corrupção moral na sua própria elite." E junto "do eleitorado da esquerda e do comentariado crítico do Chega", diz Riccardo Marchi, "estes escândalos são a confirmação do que sempre acharam: o partido "é um bando de malfeitores pior, até, que a elite incumbente que tanto criticam". E junto do "eleitorado do Chega e da opinião pública mais simpática com o partido"? A "tendência" é "diferenciar estes escândalos pontuais com a imagem do partido e do líder, sendo que estas duas últimas até se fundem", analisa o professor convidado do ISCTE-IUL..Deputado municipal do Chega acusado de prostituição de menores agravada renuncia ao mandato.Nuno Afonso, fundador do Chega e antigo número dois do partido, concorda. "Se André Ventura fica afetado? A resposta é não. A liderança é intocável", considera. O líder do partido, acusa Nuno Afonso, "faz o que quer" no Chega. Exemplo disso é o caso dos estatutos, que "definem que Ventura pode escolher quem lidera as distritais, mudando as presidências a seu bel-prazer". "São dados viciados logo à partida", critica o ex-dirigente, que saiu do partido em 2023 em rutura com a liderança de Ventura.Ainda assim, diz Riccardo Marchi, para um partido que faz do combate ao crime uma das suas bandeiras, o impacto eleitoral não deve ser significativo. Estes casos "podiam ter impacto eleitoral se estivéssemos em campanha eleitoral perto de eleições". "O eleitorado tende a ter memória curta", sobretudo "se os escândalos não se multiplicarem" ao ponto de se tornarem "estruturais".."Se André Ventura fica afetado? A resposta é não. A liderança é intocável."Nuno Afonso, fundador e ex-dirigente do Chega..E, além de não haver "campanhas eleitorais iminentes", estes casos "caíram" em semanas onde "todos os outros partidos tiveram escândalos": o Bloco de Esquerda com os despedimentos de funcionárias, o PS com o caso da pen-drive com os nomes de espiões encontrada no gabinete de Vítor Escária, e a AD com o caso Hernâni Dias (ex-secretário de Estado que criou duas imobiliárias que podem beneficiar da nova lei dos solos), bem como a operação Tutti-frutti.Tudo isto, considera Riccardo Marchi, permite que seja "mais fácil" para o Chega "evitar os holofotes da corrupção moral" sobre o partido.Ventura assume que "não é bom momento" defende que "quem abusa menores deve ser castrado"Numa primeira reação aos casos conhecidos esta quinta-feira, André Ventura assumiu que este "não é um bom momento" para o partido.Falando antes da sessão plenária desta quinta-feira, o presidente do Chega recusou a ideia de estar fragilizado na liderança do partido e defendeu que "quem abusa menores deve ser castrado". "O Chega não pode ter uma cara para dentro e uma para fora", disse, admitindo que "o caso [de Nuno Pardal Ribeiro] é grave". "Defendi há cinco anos e defendo que quem é pedófilo deve ser castrado quimicamente", seja o seu "pai, irmão, amigo, tio, colega de infância". "Esta é a diferença" entre o Chega e os outros partidos, sublinhou, defendo ainda que Nuno Pardal Ribeiro deve renunciar ao cargo de vice-presidente da distrital e renunciar ao mandato -- algo que já fizera..Deputado do Chega nos Açores apanhado com 2,25g/l de álcool no sangue. "A culpa e o arrependimento tomaram conta de mim".Este caso, admitiu Ventura, é "suficientemente grave" e pode levar à abertura de um "procedimento interno" no Conselho de Jurisdição do Chega. Além disso, vincou, nem Nuno Pardal Ribeiro nem Miguel Arruda tinham cadastro ou qualquer elemento criminal.Líder "consegue aguentar embate" a menos que seja "diretamente visado". Se for? "Pode ser o fim da carreira"Para Riccardo Marchi, Ventura sairá deste caso sem grande mossa -- pelo menos para já. "Até ser diretamente visado, o líder do partido consegue aguentar o embate", diz.Contudo, "quando / se o escândalo atinge um líder diretamente, pode ser o fim da carreira e ter consequências inultrapassáveis".."Até ser diretamente visado, o líder do partido consegue aguentar o embate. Mas quando/se atinge um líder diretamente, pode ser o fim da carreira e ter consequências inultrapassáveis."Riccardo Marchi, investigador no ISCTE-IUL..Exemplos? "O caso de Heinz-Christian Strache, presidente do FPÖ, da Áustria, descoberto a flertar com magnatas russos, ou o líder da direita italiana, Gianfranco Fini, que foi descoberto a apropriar-se de bens móveis do partido [Movimento Social Italiano]."E mesmo se for diretamente visado, nada impede Ventura de "verter o escândalo" a seu favor, como fez Marine le Pen, por exemplo, com a ação judicial contra si por aproveitamento de fundos comunitários. Nessa ocasião, a antiga líder do partido Reunião Nacional, relembra Marchi, "utilizou o caso como sendo uma armadilha montada há mais de uma década para minar a sua carreira em ascensão"."O caso de Ventura é diferente", ainda assim, "porque nenhum escândalo o apanhou diretamente" e porque atuou rapidamente. "Não me lembro de nenhum caso em que o escândalo que afetou um deputado, um dirigente, uma personagem de relevo de um partido, que tenha enfraquecido o líder, principalmente se este atua tempestivamente, como foi o caso", conclui.."Quem abusou de menores deve ser castrado", diz André Ventura sobre caso de deputado municipal acusado de prostituição de menores.Ferro Rodrigues acusa André Ventura de "calúnia" e "cobardia" e admite processá-lo