A moção de censura ao executivo camarário que o Chega vai apresentar na Assembleia Municipal de Lisboa, na terça-feira, e o apelo do ex-líder socialista Pedro Nuno Santos à demissão de Carlos Moedas nem precisaram de reação do presidente da Câmara de Lisboa, ou da coligação que o apoia, para receberem contraditório de peso. Tanto o Presidente da República como o secretário-geral do PS deixaram claro que, estando ainda em curso a investigação das causas do acidente que na quarta-feira passada fez 16 mortes no Elevador da Glória, as responsabilidades políticas devem ficar a cargo dos eleitores da capital, que a 12 de outubro decidirão se reconduzem o social-democrata que lidera a autarquia desde 2021.Marcelo Rebelo de Sousa disse que “estar a debater responsabilidades políticas, e dizer que implicam a demissão, quando estamos a um mês das eleições, é não perceber que o juízo sobre a responsabilidade política em cargos eletivos é dos eleitores”. Falando a jornalistas na manhã de domingo, no Alto de São João, onde assistiu às cerimónias fúnebres de Alda Matias, uma das funcionárias da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa mortas no acidente, apesar de reconhecer que “quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável pelo seu exercício”, notou que falta pouco mais de um mês para a “possibilidade de os eleitores se manifestarem, olhando para o mandato no seu todo e para posições tomadas em circunstâncias mais graves”.Depois de referir o caso dos incêndios florestais de 2017, nos quais morreram 115 pessoas, em junho e em outubro, recordando ter decidido que “não se justificava exonerar o primeiro-ministro [António Costa], que tinha começado o mandato há pouco tempo”, deixando o aviso de que não se recandidataria a Belém “caso nada se fizesse e se repetisse aquele número de mortos e de feridos”, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que não queria dizer nada a Carlos Moedas. “Não estou a passar mensagem nenhuma, pois os casos são diferentes”, notou, acrescentando que “os portugueses reafirmaram a confiança” em Costa, dando a vitória ao PS nas legislativas de 2019..Empresa de manutenção do Elevador da Glória reage e diz e que "qualquer conclusão nesta fase seria "prematura".A demissão do presidente da Câmara de Lisboa foi também afastada neste domingo pelo secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, para quem “o grande escrutínio vai ser feito a 12 de outubro”. Apesar de prometer que os atuais vereadores socialistas irão encarregar-se do escrutínio político de Moedas no que toca às circunstâncias do acidente no Elevador da Glória, o líder socialista preferiu elogiar a socialista Alexandra Leitão, cabeça de lista da coligação Viver Lisboa (PS-Livre-Bloco de Esquerda-PAN), que considera “exemplar na gestão deste processo”, a responder a quem lhe antecedeu no Largo do Rato.Terminado um período de silêncio após ter deixado a liderança do partido, na sequência da derrota do PS nas últimas eleições legislativas, Pedro Nuno Santos fez nos últimos dias publicações nas redes sociais muito críticas em relação a Moedas, a quem recomendou “coerência”, após ter pedido a demissão de Fernando Medina, seu antecessor, em 2021, devido ao envio de dados pessoais de ativistas anti-Putin à Embaixada da Federação Russa. Mas não menos incisivas para os “bem-comportados”, que se dizem “moderados”.“Há, infelizmente, quem na esquerda se tenha viciado tanto nos elogios da direita que já não consegue viver sem eles”, escreveu Pedro Nuno Santos, defendendo que “os nossos adversários políticos e os seus apoiantes gostariam que nos calássemos, mas não lhes podemos fazer esse favor”.leonardo.ralha@dn.pt.A cronologia do descarrilamento do elevador da Glória, segundo o GPIAAF.Elevador da Glória. Relatório aponta que sistema de emergência cortou a energia, mas não foi suficiente