Recuperar o PS depois do desaire eleitoral, é uma "tarefa difícil" e vê-se "até pela falta de candidatos" à sucessão de Pedro Nuno Santos, ex-secretário-geral socialista que saiu do cargo após as legislativas. A altura é por isso "desafiante" para o partido, que passou para terceiro em número de deputados, diz Paula do Espírito Santo, investigadora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa.Depois da derrota dos socialistas em toda a linha, "o PS não será certamente um partido ganhador nos próximos anos". Isso, considera a docente, é um desafio acrescido para o novo líder do partido. Passado um ano e meio de se ter candidato pela primeira vez à liderança, José Luís Carneiro será eleito secretário-geral este sábado, dia 28 de junho, como candidato único. No dia anterior, os militantes das diferentes federações (as distritais do PS) começam a votar por todo o país. Em dezembro de 2023, o ex-ministro da Administração Interna foi derrotado por Pedro Nuno Santos, que teve mais de 60% dos votos..José Luís Carneiro promete “voltar a fazer do PS o maior partido português” e afasta ajustes de contas.Agora "os desafios são sobretudo dois": primeiro, diz Paula do Espírito Santo, há que "recompor o partido" tornando-o à "imagem" da nova liderança, ao mesmo tempo que "garante que o PS está coeso e consigo". O grupo parlamentar, exemplifica, "tem um conjunto de deputados" que não foram escolhidos por José Luís Carneiro. E, depois, há o desafio de saber que papel o partido terá enquanto oposição. Isto é, "por um lado, terá de mostrar que não é uma força de bloqueio, não sendo ao mesmo tempo uma 'luz verde' para a AD governar". Sendo neste momento um partido "sem grande atratividade, quase um produto em decomposição", José Luís Carneiro terá nas autárquicas o seu primeiro "grande teste", diz a professora universitária.As probabilidades desta nova liderança correr mal e levar o partido ao fundo "são baixas", acrescenta ainda a professora. "As expectativas estão muito em baixo e qualquer ganho é bem-vindo. Por isso, mais do que as presidenciais, em que existem candidaturas unipessoais, as autárquicas serão o maior teste, até pela história que o PS tem no poder local", conclui.Num "momento muito particular" do partido, César apoia Carneiro e Brilhante Dias será líder parlamentarOuvido pelo DN, Pedro Cegonho, antigo deputado do PS que apoiou José Luís Carneiro em 2023, refere que, nesta fase da vida interna do partido, o foco "deve ser preservar a união" que existe. A eleição, que "surge num momento muito particular" após a derrota nas legislativas, deverá também significar "a garantia" de uma política do PS virada para as pessoas. E isso, diz o vereador na Câmara de Lisboa, é feito "através de uma liderança calma" como que perspetiva que seja a de José Luís Carneiro. Na opinião do ex-presidente da junta de Campo de Ourique, o novo secretário-geral (ele próprio com experiência enquanto ex-autarca) deverá encarar as autárquicas "como um partido grande, como acontece desde 1976". "Sempre que o poder local cresceu foi quando o PS teve um bom resultado", considera Pedro Cegonho.Olhando em retrospetiva, o militante socialista diz ter estado "sempre" convicto de que o "perfil" do futuro secretário-geral "era o mais adequado" para liderar o partido, uma vez que, entre outros aspetos, tem "abertura para dialogar". "Era indispensável que houvesse um líder como José Luís Carneiro".Surge assim uma nova oportunidade, a de "renovar os compromissos e as soluções" para o partido.Ainda assim, caso a liderança não seja bem-sucedida Pedro Cegonho não vaticina um desfecho parecido ao do PS francês, que após ter sido durante vários anos um dos dois maiores partidos, acabou por perder expressão eleitoral de forma significativa após divergências internas. Essa hipótese "não se coloca", uma vez que em Portugal "não há um divórcio entre o PS e os cidadãos". Falando "com muita gente" nas suas "funções profissionais", o socialista considera que "as pessoas têm vontade de ser ouvidas" e o partido poderá responder a esse desejo.Não obstante ser candidato único, o nome de José Luís Carneiro não foi consensual. Mariana Vieira da Silva (que não apoiou nenhum dos candidatos às internas de 2023), por exemplo, disse numa entrevista à Renascença que existiam dirigentes "em melhores condições" para se candidatarem à liderança do partido. Ainda assim, nenhum outro nome decidiu avançar.Com via aberta para a liderança do PS, esta quinta-feira, 26 de junho, José Luís Carneiro recebeu o apoio do presidente do PS, Carlos César (que fez as vezes de secretário-geral após a saída de Pedro Nuno Santos). Numa publicação na rede social Facebook, o socialista defendeu que José Luís Carneiro tem condições para relançar "a energia enfraquecida" após as legislativas. "Como já salientei, estamos já nos momentos para, sucessivamente, renovar sem excluir pessoas com valor e agir sem deixar de ajustar o partido às novas dimensões e exigências que as motivações dos cidadãos e as realidades económicas e sociais requerem. Confio que seja esse o caminho que a nova liderança fará", expressou ainda Carlos César.Essa renovação deverá acontecer também na bancada parlamentar socialista. Depois de já ter ocupado o cargo em 2022, Eurico Brilhante Dias voltará a ser o líder parlamentar do PS, mantendo Mariana Vieira da Silva e Marina Gonçalves como vice-presidentes. A eleição, que servirá apenas para oficializar as escolhas, acontecerá depois de José Luís Carneiro assumir funções como secretário-geral.Até agora, e visto que a anterior líder parlamentar (Alexandra Leitão) não figurou nas listas, a bancada foi presidida de forma interina por Pedro Delgado Alves..As datas-chave para José Luís CarneiroSetembro/outubro: É o primeiro desafio de José Luís Carneiro, reconhecem as fontes ouvidas pelo DN. Após umas legislativas em que o PS caiu para terceiro partido em número de deputados, o novo secretário-geral do PS terá a missão de tentar evitar o impacto dessa derrota no poder local. Após as eleições de 2021, os socialistas ficaram com 148 municípios e 888 vereadores por todo o país, sendo o partido com maior peso autárquico.Após as autárquicas: Apesar das eleições para secretário-geral acontecerem agora, o congresso - onde serão eleitos delegados - acontecerá depois das eleições autárquicas. A decisão foi anunciada por Carlos César, presidente do PS, quando confirmou a data das internas. Por isso, não há ainda qualquer data fechada para o congresso. Novembro: O balanço entre não ser uma força de bloqueio ao Governo, não sendo também uma não ser uma muleta, José Luís Carneiro terá em novembro o seu primeiro teste. É aí que o Parlamento vota o Orçamento do Estado para 2026 (OE2026). Resta saber se o PS se vai abster (como fez com o programa do Governo) ou se vai ter outro sentido de voto.Janeiro 2026: No início do próximo ano, haverá também eleições presidenciais. Apesar de as candidaturas serem “unipessoais”, como recorda Paula do Espírito Santos, o PS costuma apoiar um candidato vencedor. António José Seguro, ex-secretário-geral do PS, está na corrida a Belém, mas o nome não é consensual dentro do partido e há quem peça um nome mais forte. Será mais um teste à nova liderança do PS..Carlos César declara apoio a José Luís Carneiro para liderar o PS.Ferro Rodrigues declara apoio a José Luís Carneiro para as eleições do PS