Luís Montenegro festeja com Luís Filipe Menezes, que venceu a câmara de Gaia.
Luís Montenegro festeja com Luís Filipe Menezes, que venceu a câmara de Gaia.FOTO: RUI MANUEL FARINHA/LUSA

Autárquicas: PSD vence nas cinco maiores câmaras, pela primeira vez desde 2005, mas PS trava queda eleitoral

Candidatos do Governo venceram Lisboa, Porto, Sintra, Gaia e Cascais, com Luís Montenegro a festejar “noite histórica”. PS teve surpresas como Viseu. Chega fica com menos câmaras do que a CDU e o CDS.
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O PSD de Luís Montenegro conseguiu uma vitória nas autárquicas deste domingo que foi alicerçada nos cinco principais concelhos portugueses, com a conquista do Porto, de Sintra e de Vila Nova de Gaia a juntarem-se à reeleição de Carlos Moedas em Lisboa e à previsível passagem de testemunho em Cascais. Mas o facto de controlar as maiores autarquias, coligado com o CDS (em todas menos Sintra) e com a Iniciativa Liberal (em todas menos Cascais), o que sucede pela primeira vez desde 2005, e de recuperar a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses, perdida há 12 anos, não significa que tudo tenha corrido na perfeição para a coligação que governa Portugal.

Apesar de a noite descrita pelo primeiro-ministro como “histórica” - fez questão de dizer que o PSD venceu nas terras natais de José Luís Carneiro (Baião), André Ventura (Sintra) e Pedro Nuno Santos (São João da Madeira) - ter começado bem para o centro-direita, com as projeções das televisões a darem vantagem a Carlos Moedas, Pedro Duarte (Porto), Marco Almeida (Sintra) e Luís Filipe Menezes (Vila Nova de Gaia), ainda que os três primeiros estivessem em empate técnico com os rivais socialistas, o PS compensou as derrotas de Alexandra Leitão e de Manuel Pizarro nas principais cidades do país com a conquista de cinco capitais de distrito.

Duas dessas vitórias socialistas eram esperadas, comprovando-se que a divisão no eleitorado de direita ajudou António Pina a ser eleito em Faro, e que a erosão da CDU levou Carlos Zorrinho a vencer Évora, mas a vitória da ex-ministra Ana Abrunhosa sobre o incumbente José Manuel Silva em Coimbra era duvidosa e a da ex-deputada Isabel Ferreira em Bragança tudo menos clara. Ainda mais surpreendente foi a conquista de Viseu, pela primeira vez na história da democracia, com João Azevedo a derrotar o veterano social-democrata Fernando Ruas. Um quadro que poderia ter sido ainda mais positivo caso se tivessem confirmado as indicações de vitória em Braga, onde o até agora vereador João Rodrigues suplantou o veterano socialista António Braga por muito pouco.

Essa sucessão de vitórias levou o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, a defender que a quebra eleitoral sofrida nas últimas legislativas foi estancada, evitando o que disse ser um caminho para a irrelevância idêntico ao dos socialistas franceses. E também evidenciou o que disse ser o papel dos socialistas para fazer frente ao “avanço da extrema-direita”, referindo-se à manutenção da hegemonia no Algarve.

Para o Chega, que elegera apenas 19 vereadores nas autárquicas de 2021, a noite foi agridoce, com resultados que ficaram claramente aquém das melhores expectativas. André Ventura mencionara a possibilidade da conquista de três dezenas de presidências de câmara, e no partido havia a expectativa de conseguir mais de uma dezena, entre o Algarve, o Alentejo, a Península de Setúbal e o Ribatejo. Confirmaram-se vitórias em Albufeira, Entroncamento e São Vicente (Madeira), com derrotas tangenciais em concelhos como Montijo, Sesimbra e Benavente. Apesar de bons resultados em concelhos como Sintra, de ser a segunda força em boa parte do território nacional e de ter eleito 137 vereadores, André Ventura teve de reconhecer que, em contraste com as legislativas, que deram o segundo maior grupo parlamentar ao Chega, “não foi a noite que queríamos”.

Por motivos diferentes, o mesmo sucedeu à CDU, que perdeu as duas capitais de distritos que ainda detinha (Setúbal e Évora) e ficou reduzida a 12 presidências e 93 vereadores, embora tenha reconquistado Aljustrel, Montemor-o-Novo, Mora e Sines. Em sentido contrário, perdeu Serpa, Vidigueira, Viana do Alentejo, Monforte, Alcácer do Sal e Grândola, para os socialistas, e Santiago Cacém, para um independente apoiado pelo PSD e pelo PS. Ainda mais surpreendente foi a perda de Sobral de Monte Agraço, nestse caso para uma coligação PSD-CDS-MPT, e de Benavente, também para o PSD-CDS.

Além das dezenas de vitórias em coligação com o PSD - incluindo a surpresa histórica da conquista da Câmara de Beja ao PS -, o CDS foi capaz de manter as suas seis câmaras (Ponte de Lima, Albergaria-a-Velha, Oliveira do Bairro, Vale de Cambra, Santana e Velas). Embora uma das grandes apostas “a solo” dos centristas, com a candidatura de Hélder Amaral à Câmara de Viseu, não ter permitido sequer elegê-lo como vereador.

Para a Iniciativa Liberal, além da entrada em grande parte dos executivos das maiores autarquias nacionais (Lisboa, Porto, Sintra e Vila Nova de Gaia), foi a noite em que o partido se estreou a eleger vereadores em nome próprio. Sucedeu em Castelo Branco e em Braga, onde candidatava o ex-líder Rui Rocha. Já o Bloco de Esquerda e o Livre tiveram maiores dificuldades, embora esse último tenha mantido a coligação vencedora com o PS em Felgueiras.

Destacou-se ainda o Nós Cidadãos, partido que tem servido de “marca branca” para independentes, com vitórias em Belmonte e Soure, bem como na Guarda, nesse caso em coligação com o PPM, reelegendo o já presidente Sérgio Costa, um ex-social-democrata que vencera em 2021, à frente de um movimento de cidadãos. Na Madeira, Santa Cruz manteve-se como bastião do Juntos pelo Povo, agora presente na Assembleia da República e que nestas autárquicas foi a segunda força mais votada na região autónoma. Quanto aos independentes, eleitos por movimentos de cidadãos, continuam bem representados, com 20 vitórias (mais uma do que em 2021), incluindo a de Isaltino Morais em Oeiras, e a da regressada Maria das Dores Meira em Setúbal, em ambos os casos com apoio do PSD.

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