O antigo presidente do parlamento Augusto Santos Silva considerou esta segunda-feira que o primeiro-ministro é o "único responsável" pela crise política e que o PS só pode votar contra a moção de confiança, criticando a "apatia" do Presidente da República.Em declarações à agência Lusa horas antes da reunião da Comissão Política do PS, marcada para esta noite na sede socialista, em Lisboa, Augusto Santos Silva manifestou "muita preocupação" com a atual crise política, "designadamente se ela desembocar em eleições antecipadas". "Só há um único responsável pela precipitação de eleições antecipadas e esse responsável é o primeiro-ministro. É o primeiro-ministro que, desde o início do seu mandato, procura desesperadamente criar crises políticas e provocar eleições", acusou, considerando que Luís Montenegro precipita esta crise "por uma conduta altamente reprovável do ponto de vista ético, político e talvez legal".Segundo o antigo presidente da Assembleia da República, "é claro hoje, porque vários membros do Governo já o disseram, que o Governo quer provocar a sua própria queda apresentando uma moção de confiança, independentemente de qualquer atitude que o PS venha a ter relativamente à comissão de inquérito que propôs"."Eu creio que o PS só tenha uma posição a tomar, que é votar contra a moção de confiança. O PS já revelou ser o principal foco de estabilidade hoje em Portugal", defendeu.Quanto ao Presidente da República, Santos Silva referiu que Marcelo Rebelo de Sousa, "que foi tão ativo quer a comentar quer a agir em outros momentos do seu primeiro mandato e do seu segundo mandato", tem manifestado nestas últimas semanas "uma apatia e até uma ausência bastante surpreendente"."Porque o Presidente da República poderia, em privado ou publicamente, chamar a atenção do primeiro-ministro para a sua obrigação de prestar esclarecimentos factuais, poderia insistir pedagogicamente, junto dos atores políticos, na necessidade de, numa democracia, se responder a jornalistas", exemplificou.Para o dirigente socialista, o chefe de Estado poderia ter tido uma intervenção junto do Governo e da oposição para que este caso "pudesse ser resolvido sem recurso a instrumentos tão drásticos como são uma moção de confiança, uma moção de censura, ou mesmo uma comissão parlamentar de inquérito".Santos Silva ressalvou ainda que a queda do Governo na sequência do anunciado chumbo da moção da confiança "não significaria necessariamente a convocação de eleições" já que o Presidente da República tem toda a legitimidade "para chamar de novo o PSD a indicar um novo primeiro-ministro e a tentar formar um novo Governo"."Infelizmente, o atual Presidente da República parece estar muito virado ou orientado para ver a antecipação das eleições como a única maneira de resolver crises ou acidentes de percurso na política portuguesa", lamentou.Santos Silva recordou que o partido liderado por Pedro Nuno Santos, nesta legislatura, permitiu a resolução da questão da presidência do parlamento, viabilizou o Orçamento do Estado para 2025 e "garantiu a sobrevivência do Governo a duas moções de censura"."Uma coisa é contribuir com sentido de responsabilidade para a estabilidade política, outra coisa é servir de muleta do Governo, e isso seria o que significaria uma posição do PS que viabilizasse a moção de confiança apresentada pelo Governo", apontou.