Chega mobiliza deputados para conquistar câmaras com discurso anticorrupção

André Ventura recusa comprometer-se com uma estimativa do número de câmaras municipais que conta ver o Chega a vencer nas próximas Eleições Autárquicas, mas deixa claro que o objetivo passa por ficar à frente em vários concelhos. Nomeadamente naqueles em que o partido foi o mais votado nas Legislativas de 2024, concentrados no Ribatejo, Alentejo e Algarve. Mas sem deixar de apostar noutros municípios em que, mesmo sem sair vencedor, possa condicionar quem assegurar a gestão.Trata-se de um objetivo difícil, sobretudo depois da falsa partida nas autárquicas de 2021, até porque a transposição de resultados nacionais para a realidade dos concelhos é incerta. E potencialmente prejudicada pela sucessão de escândalos que tem abalado o partido, levando Ventura a apresentar uma proposta para a criação da Subcomissão Parlamentar de Integridade e Ética, capaz de suspender mandatos de deputados no caso de “evidências de crimes graves”, feita à medida de Miguel Arruda, que insiste em continuar na Assembleia da República, na qualidade de deputado não inscrito, apesar dos fortes indícios de furto qualificado de malas de viagem que levaram a que fosse constituído arguido.Mas André Ventura aposta forte nas Autárquicas, com candidaturas protagonizadas por membros do Grupo Parlamentar do Chega e recrutamento de figuras ligadas ao PSD. “São eleições absolutamente desafiantes para o partido, que procura desafiar consolidar o resultado de março de 2024”, disse nesta segunda-feira, na sede do partido, antes da reunião com a Comissão Autárquica Nacional, da qual deveriam sair os nomes dos candidatos à maioria das capitais de distrito. Previamente anunciados tinham sido os candidatos a Viseu (Bernardo Pessanha) e Santarém (Pedro Correia), ambos escolhidos entre os agora 49 deputados do partido, bem como a Setúbal (a ex-deputada social-democrata Lina Lopes) e a Vila Real (Alberto Moura). Daqui a duas semanas serão anunciadas as escolhas para a Câmara de Lisboa e para a Câmara do Porto, autarquias onde o Chega não elegeu qualquer vereador em 2021. Apenas foi revelado que serão “pessoas com experiência autárquica e vontade de fazer transformação”, mas existe uma forte hipótese de mais sociais-democratas se juntarem ao partido criado por alguém que se tornou conhecido enquanto polémico candidato do PSD à Câmara de Loures em 2017. O mesmo que apresenta esses futuros candidatos como “homens e mulheres que nas várias capitais de distrito denunciaram corrupção, apontaram o dedo a interesses instalados e foram capazes de estar acima da baixa política”. Certo é que, num partido existente há poucos anos, e com escassa presença autárquica, será do grupo parlamentar que sairão boa parte dos candidatos autárquicos. Rita Matias já foi anunciada como candidata à Câmara de Sintra, Rui Paulo Sousa avança para a Amadora e Bruno Nunes recandidata-se a Loures, onde foi o autor da proposta de revogação de contratos de habitação social a envolvidos em desacatos que gerou uma crise interna no PS, ao ser apoiada por Ricardo Leão. Outros deputados confirmados são Manuela Tender, em Chaves, João Tilly, em Seia, e Nuno Gabriel, em Sesimbra, mas os concelhos algarvios poderão contar com figuras destacadas, como o líder parlamentar Pedro Pinto. “É expectável que uma grande maioria dos deputados sejam candidatos. Uns como cabeça de lista, outros como cabeça de lista a Assembleia Municipal”, reforçou André Ventura..Afirmação do partido.Regressado de Madrid, onde participou do encontro da família política dos Patriotas pela Europa, o líder do Chega não esconde que conquistar algumas câmaras municipais nas próximas autárquicas, disputadas entre o final de setembro e o início de outubro, teria um efeito de consolidação idêntico ao que os seus aliados franceses da Reunião Nacional obtiveram em 1995, ainda com a designação Frente Nacional e a liderança do falecido Jean-Marie Le Pen, quando venceram em quatro autarquias, incluindo Toulon, uma das principais cidades do Sul. A gestão da Frente Nacional ficou marcada pela “preferência nacional”, mas até agora Ventura prefere apontar outras prioridades à eventual gestão autárquica do Chega. Defende, em declarações ao DN, que a diferença consistirá sobretudo na forma de gerir os recursos públicos, “pela capacidade de exigir transparência nos negócios públicos, sobretudo nos que tenham a ver com urbanismo e imobiliário”, e por uma “articulação permanente com a justiça”.O líder do Chega diz que as lideranças do seu partido não vão ser como as do PS e PCP, sobretudo no Sul de Portugal, “aumentando a desertificação e garantindo que o investimento vai para o Norte ou para outros países”. Até porque, nas suas palavras, ter a câmara municipal ou a junta de freguesia como o principal empregador “cria um círculo de vícios de corrupção absolutamente intragável”..Mais de metade dos 19 vereadores saíram.Nas Autárquicas de 2021, quando André Ventura era o deputado único do recém-criado Chega,o partido teve apenas 208 232 votos (4,16%), elegendo 19 vereadores, nenhum dos quais nas principais cidades, com as candidaturas de Nuno Graciano (Lisboa) e António Fonseca (Porto) aquém das expectativas. Por outro lado, mais de metade dos vereadores eleitos acabaram por se desfiliar. Assim sucedeu em Sintra, onde Nuno Afonso ficou no executivo, mas como independente, tal como os eleitos no Seixal (Henrique Freire), Sesimbra (Márcio Souza), Moita (Ivo Pedaço), Benavente (Milena Castro), Moura (Cidália Figueira), Serpa (Ana Moisão), Entroncamento (Luís Forinho) e Vila Verde (Fernando Silva). Em Santarém e Salvaterra de Magos, Pedro Frazão e Helena Salema Lino renunciaram, mas foram substituídos por outros eleitos do Chega.

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