Arranca ao final da tarde desta segunda-feira a primeira edição da Universidade de Verão do PSD desde que os sociais-democratas regressaram ao poder, e o seu diretor, Carlos Coelho, admite que os pedidos de inscrição no evento, que decorre até ao próximo domingo, foram “talvez um pouco mais” do que em 2023, mas “dentro do que tem sido habitual”..Certo é que a organização do evento, que é aberto a militantes da Juventude Social-Democrata (JSD), a jovens quadros do PSD e a independentes com ligação ao partido nas autarquias, no movimento estudantil ou em qualquer outra atividade social, recebeu 350 candidaturas para os 100 lugares disponíveis. Essa centena irá passar os próximos sete dias num hotel de Castelo de Vide, ouvindo especialistas em política, economia, tecnologia e comunicação e participando em exercícios práticos que visam formar a próxima geração de políticos. A média etária dos participantes é de 22 anos, vêm de todas as partes de Portugal e de países africanos lusófonos, e um terço são do sexo feminino. .Garantido por Carlos Coelho, desde há muito o principal responsável pela Universidade de Verão do PSD, agora na 21.ª edição, está que o facto de o partido ter voltado ao poder não teve reflexo no programa. “Não é a primeira que se realiza quando o PSD está no Governo”, realça o antigo eurodeputado, recordando que Luís Montenegro estará na sessão de encerramento enquanto primeiro-ministro tal como antes dele estiveram Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e Pedro Passos Coelho (ver texto nestas páginas). E recorre a outro argumento: “Não houve a preocupação de ‘encher’ a semana de formação com membros do Governo.”.Ao todo serão três os ministros a participar, com destaque para a titular da pasta da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes. A antiga presidente da JSD vai ser a oradora do jantar-conferência na quarta-feira, mas também divide com Carlos Coelho a avaliação do desempenho dos participantes. Já na terça-feira será o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, a encerrar os trabalhos, e na sexta-feira o titular dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, debaterá o tema “Crise nos Media: o Estado deve intervir?” com o publisher do jornal online Eco, António Costa..Outras figuras destacadas do programa da Universidade de Verão do PSD incluem o cabeça de lista da Aliança Democrática nas eleições para o Parlamento Europeu, Sebastião Bugalho, que falará sobre “a instabilidade na incerteza” da Europa, na tarde de terça-feira; o antigo secretário de Estado da Energia Nuno Ribeiro da Silva, a apresentar a “grande oportunidade para Portugal” de ligar ambiente e economia, na tarde de quarta-feira; e o conselheiro de Estado, comentador político (e potencial candidato à Presidência da República) Marques Mendes, que é orador convidado para o jantar-conferência na quinta-feira. Na manhã de sexta-feira, os professores universitários Nuno Severiano Teixeira, ministro da Administração Interna e da Defesa em executivos socialistas, e Mónica Ferro, que foi secretária de Estado da Defesa no efémero segundo Governo de Pedro Passos Coelho, debaterão as eleições presidenciais nos Estados Unidos e os seus reflexos no resto do Mundo..Sinal das mudanças em curso na política é a existência de uma sessão, na manhã de sábado, dedicada ao tema “Inteligência Artificial: O que vem aí?”, que conta com a participação dos especialistas portugueses Daniela Braga e Paulo Dimas. “Creio que a Inteligência Artificial é uma conquista da evolução da tecnologia que lança vários desafios éticos e societais. A nova geração de quadros políticos tem de estar atenta à sua importância e aos riscos que comporta”, justifica o diretor da Universidade de Verão..Exercícios e olímpicos Na “oportunidade de formação pluridisciplinar para valorizar a participação cívica e política de jovens com talento”, nas palavras do diretor da Universidade de Verão do PSD, existe uma sucessão de sessões práticas, com o próprio Carlos Coelho e o especialista em comunicação Rodrigo Moita de Deus a iniciarem os trabalhos, amanhã de manhã, depois da sessão formal de abertura na véspera - com o presidente da JSD, João Pedro Louro, o coordenador dos eurodeputados sociais-democratas, Paulo Cunha, e o secretário-geral (bem como líder parlamentar) do PSD, Hugo Soares - com o desafio “Falar Claro”. Workshops de escrita de discursos (amanhã), de sondagens e estudos de opinião (na quarta-feira) e de relações com a comunicação social (na sexta-feira), sendo esse último feito por Pedro Esteves, diretor de Comunicação do Governo, conciliam-se com exercícios de grupo, entre os quais não falta a simulação de uma assembleia. Os critérios de avaliação do desempenho dos participantes são, nas palavras de Carlos Coelho, concissos e claros: “Preparação dos argumentos, seriedade das abordagens, capacidade de exposição e eficácia no debate.” .Tal como em edições anteriores, o programa prevê a presença de figuras da sociedade civil. Desta vez haverá uma sessão sobre temas culturais na manhã de quinta-feira, com o maestro Rui Massena e a ex-deputada centrista Ana Rita Bessa, que é a CEO do grupo editorial Leya. Mas especialmente mediático será o jantar-conferência de sexta-feira, com Fernando Pimenta. O canoísta de Ponte de Lima, que foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, obteve uma medalha de bronze oito anos mais tarde, em Tóquio, e voltou a ser finalista olímpico neste ano, em Paris, irá falar aos participantes na Universidade de Verão sobre a sua experiência. .Avançando que o critério para os convites a estas personalidades reside no “mérito pessoal e no interesse para a Universidade de Verão”, Carlos Coelho realça que no caso de Fernando Pimenta, “nome que estava pensado há muito tempo”, esteve em causa um convite pessoal feito por Luís Montenegro..Adivinhem quem vem jantar no sábado antes de seguir para a Comissão EuropeiaO programa da Universidade de Verão do PSD ainda tem uma incógnita na noite de sábado, véspera do encerramento desta edição, havendo a convicção de que os participantes poderão ver e ouvir a escolha do Governo da Aliança Democrática para integrar a Comissão Europeia, que volta a ser presidida por Ursula von der Leyen. .O “jantar-conferência com convidado/a surpresa” ocorre na véspera do final do prazo para que os Estados-membros anunciem os nomes, e a proximidade entre a democrata-cristã alemã e Luís Montenegro - bem como o facto de quase todos os países já terem revelado as escolhas - deverá permitir que o primeiro-ministro fique dispensado da obrigação de sugerir um homem e uma mulher, cabendo a última palavra à presidente da Comissão Europeia. Embora não haja qualquer confirmação do Governo de que a Universidade de Verão terá esse interesse adicional, tal cenário é considerado provável..Caso se confirme que o(a) sucessor(a) de Elisa Ferreira aparece para jantar em Castelo de Vide no sábado, o primeiro-ministro poderá também estar presente. Até porque Luís Montenegro está confirmado para a manhã seguinte, na sessão de encerramento, tal como o presidente da Juventude Social Democrata, João Pedro Louro, e o diretor da Universidade de Verão do PSD, Carlos Coelho..Com o ex-primeiro-ministro António Costa a presidir ao Conselho Europeu, é voz corrrente em Bruxelas e Estrasburgo que Portugal não deverá aspirar a uma das pastas mais relevantes, como a da Coesão e Reformas, agora desempenhada por Elisa Ferreira. O Governo só deverá anunciar a escolha no fim do prazo, estando entre os nomes mais falados os de Mónica Ferro (que vai debater com Nuno Severiano Teixeira na sexta-feira), Teresa Morais, Maria Luís Albuquerque e Poiares Maduro. .A possibilidade da escolha do Governo para a Comissão Europeia monopolizar atenções é algo que não preocupa Carlos Coelho. “Trabalhamos para proporcionar a 100 jovens talentosos uma semana integrada com diversas atividades e experiências. A medida do nosso sucesso é o que esses jovens podem fazer na sua intervenção na nossa sociedade. Não depende do que possa ter mais ou menos atenção da comunicação social.”.Atuais ministros na última vez com PSD no poderA edição de 2015 da Universidade de Verão do PSD acabou a 30 de agosto, 35 dias antes das eleições legislativas que, apesar da vitória da coligação Portugal à Frente, ditaram o início do ciclo de governação socialista de António Costa. E, no que foi, até agora, a derradeira vez em que o evento decorreu com sociais-democratas no poder, participaram três homens que agora participam no Conselho de Ministros..O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro foi um dos oradores, tal como os eurodeputados Nuno Melo e Paulo Rangel. A última edição de Passos Coelho como primeiro-ministro também contou com os seus ministros Jorge Moreira da Silva, Maria Luís Albuquerque e Miguel Poiares Maduro, o ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza.