Uma campanha semiconfinada traz apelos ao voto útil e forte aposta nos debates

Já começaram os confrontos televisivos. Isso ditará a prioridade dos líderes nos próximos 15 dias. Só depois, nas duas semanas que antecedem a ida às urnas, é que irão partir para o contacto direto com os eleitores. O DN explica as prioridades de cada líder partidário
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Sentados nas cadeiras dos vários estúdios de televisão ou de rádio ou até nos jornais nas entrevistas programadas, os líderes dos partidos vão esgrimir argumentos e desferir ataques para que a 30 de janeiro tenham o melhor ganho eleitoral. E estão todos sintonizados para dar tudo nestes primeiros 15 dias do ano nos debates que vão travar. O maior combate será entre os dois candidatos a primeiro-ministro, António Costa e Rui Rio, a 13 de janeiro nos três canais abertos em simultâneo. Mas os líderes dos partidos mais pequenos também lutam por não perder ou conquistar um lugar ao sol no parlamento. Ontem à noite, na SIC, Rui Rio enfrentou André Ventura, que o tem desafiado sobre o papel do Chega na eventual solução de governo à direita.

"Desperdiçar um voto é pôr em perigo o que foi conquistado e dar azo ao regresso da direita ao poder", diz ao DN uma fonte do PS, naquela que será uma das mensagens mais presentes na campanha do líder socialista.

Nos debates televisivos ou fora deles, António Costa vincará sempre a ideia de que o que está em causa nestas legislativas antecipadas é a escolha entre um governo liderado por si ou por Rui Rio e vai apelar ao eleitorado que reflita quem "gera mais confiança. dá mais estabilidade, tem mais garantias de conhecimento e experiência governativa, nomeadamente para gerir a crise pandémica e toda a subsequente", diz a mesma fonte socialista.

E apesar do desgaste que a governação socialista sofreu, a mensagem será a convicção de António Costa de que o PS conseguiu inverter a tendência negativa das contas públicas e que com isso foi possível "aguentar" estes dois anos de crise com apoios sociais e à economia, e que isso vai garantir o sucesso eleitoral, mesmo que não seja o muitíssimo difícil de uma maioria absoluta. Basta ver o lema dos outdoors e percebe-se: "Seguimos e conseguimos."

Fechados, dia 15, os debates entre candidatos - período em que Costa acumula com as funções de primeiro-ministro e, por isso, na linha da frente da gestão da pandemia -, o secretário-geral do PS parte para o terreno com maior intensidade. Vai estar em todos os círculos eleitorais, incluindo Açores e Madeira, e não estão descartadas as ações de rua. "Serão cumpridas todas as regras sanitárias e teremos contenção nos eventos de campanha", assegura ao DN a mesma fonte socialista.

Os 11 dias de campanha que sobram e ainda em programação, segundo o secretário-geral do PSD, vão depender muito da evolução da pandemia. "Só daqui a uma semana é que conseguiremos perceber se poderemos ter ações de rua, e as aglomerações que são possíveis", afirma José Silvano. Afastada está a possibilidade de almoços com militantes ou jantares-comício - de resto, um modelo de campanha de que e Rui Rio nunca gostou.

Sem querer adiantar muito sobre a mensagem eleitoral - os outdoors de Rio já a apontam: "Um governo com responsabilidade" -, José Silvano vai à mesma base do PS e de António Costa. "Haverá uma bipolarização entre PS e PSD e dizer aos portugueses se querem a continuidade escolham António Costa se querem uma mudança votam em Rui Rio."

"É um período de contenção das famílias e se os partidos andassem em campanhas malucas ninguém perceberia", diz ao DN Catarina Oliveira, assessora do Bloco de Esquerda. Catarina Martins vai estar como os restantes líderes muito focada nos debates nestes primeiros 15 dias do ano, com pontuais incursões no terreno e para falar de temas caros ao Bloco de Esquerda, como, por exemplo, a falta de professores.

Na reta final para a ida às urnas, a líder bloquista fará a volta pelo país e o BE está a planear sessões em tendas, "locais arejados" e com limitação de pessoas.

Na mensagem que transporta, e com a que tem sempre andado, Catarina Martins vai insistir na ideia de que o BE é essencial a uma governação à esquerda.

Num momento em que as sondagens estão a dar sinais de que o seu partido pode ser penalizado nas urnas, os temas laborais, de saúde e alterações climáticas serão o combustível para a campanha do Bloco de Esquerda.

Do PCP, outro ex-parceiro de geringonça, vem a garantia de que a campanha da coligação que agrega também os Verdes será feita para "mobilizar o voto" e que respeitará todas as medidas de "proteção sanitária". "Como em todos os outros momentos se verificou, privilegiando o contacto direto e o diálogo com as pessoas." Jerónimo de Sousa vai bater-se "pela eleição de mais deputados" (atualmente são 12) e mantém acesa a chama do combate por melhores salários e pensões - lembrará que foi essa guerra perdida que ditou o voto contra no OE 2022 -por vínculos e horários trabalho estáveis e sobre melhores condições para o SNS e a escola pública.

Francisco Rodrigues dos Santos aposta tudo na campanha eleitoral do CDS e parte com caravana para a estrada no dia oficial de arranque da campanha. O líder centrista vai bater a rua, feiras e mercados e os comícios, almoços e jantares estão condicionados à evolução da pandemia. O presidente do CDS andará na campanha com várias bandeiras: baixar os impostos sobre os cidadãos e empresas; privatizar a TAP; liberdade de escolha na saúde; implementação do vale farmácia para ajudar idosos mais necessitados; mais policiamento nas ruas; impedir ideologia de género nas escolas; e lutar contra a eutanásia e a corrupção, entre outras. "Vamos demonstrar que o voto no CDS é um voto que conta para a formação de um eventual governo de centro-direita", garante um dos assessores do partido.

O PAN também quer conjugar a campanha com as condições epidemiológicas do país e apostar forte nos meios digitais. No período de campanha eleitoral, a porta-voz do partido, Inês de Sousa Real, visitará os distritos para ouvir as populações e irá participar em iniciativas que visam os problemas das crises ambiental, sanitária e socioeconómica. "O PAN estará focado nas respostas ambientais urgentes, na saúde de proximidade e preventiva, na proteção social e no tratamento digno dos animais", segundo responsáveis da campanha.

Os liberais portugueses vão concorrer pela primeira vez aos 22 círculos eleitorais e o seu líder, João Cotrim Figueiredo, já visitou vários distritos ainda na pré-campanha eleitoral, o que fará com mais intensidade nas duas últimas semanas de janeiro.

João Cotrim Figueiredo, que aposta na eleição de mais deputados, vai bater-se pela redução e a simplificação fiscal para famílias e empresas, mais e melhor acesso a cuidados de saúde, combate à corrupção e por salários mais altos. A sua missão é convencer os eleitores de que "há soluções liberais experimentadas noutros países que resultam e que os catapultam para o desenvolvimento".

No Livre, já se percebeu pelo debate de domingo entre Rui Tavares e António Costa, qual será o principal argumento: mostrar-se essencial numa solução de governo à esquerda.

O DN tentou, sem sucesso, contactar o Chega.

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