Tiago Mayan ataca idolatria "pessoal ou sistémica" no partido
LUSA/MANUEL FERNANDO ARAUJO

Tiago Mayan ataca idolatria "pessoal ou sistémica" no partido

Na convenção serão votadas alterações aos estatutos do partido, uma das quais proposta pela oposição interna (denominada Estatutos + Liberais), da qual Tiago Mayan Gonçalves é um dos assinantes.
Publicado a

O ex-candidato presidencial apoiado pela IL Tiago Mayan Gonçalves, opositor à atual direção, atacou hoje a existência de idolatria "pessoal ou sistémica" nas estruturas do partido.

"Cumprir valores liberais é reconhecer as capacidades dos outros e a nossa própria incapacidade. É aceitar que só nos aproximamos da omnisciência e da omnipresença com a colaboração livre e profícua entre todos. Não com 'idolatração' pessoal ou sistémica", disse hoje, numa curta intervenção na VIII Convenção Nacional da IL.

Esta foi a conclusão de uma intervenção no evento que decorre no Europarque, em Santa Maria da Feira (distrito de Aveiro), em que dissertou acerca do ser humano - "limitado, finito, vulnerável" - e da sua condição social "com forte impulso de colaboração e convivência".

"É esta consciência da nossa natureza limitada, mas capaz, única mas com paridade com os demais, que é a base onde se constrói o liberalismo", considerou.

Na convenção serão votadas alterações aos estatutos do partido, uma das quais proposta pela oposição interna (denominada Estatutos + Liberais), da qual Tiago Mayan Gonçalves é um dos assinantes.

"Há uma só proposta aqui hoje em discussão que cumpre este modelo que vos descrevi, que respeita, aproveita e inclui cada um de vocês enquanto membros. Essa proposta é [a dos] 'Estatutos + Liberais'", defendeu.

Tiago Mayan Gonçalves disse confiar "plenamente" nos membros da IL, "homens e mulheres capazes, livres de amarras e de narrativas", apelando a que "votem em consciência".

Vários militantes da IL alertaram para o eventual "sequestro" do Conselho Nacional pela Comissão Executiva, caso venha a ser aprovada a proposta de alteração de estatutos apresentada por aquele órgão.

Numa intervenção via zoom, após a pausa para o almoço, Miguel Ferreira da Silva, primeiro presidente da IL, alertou para a possibilidade de um terço do partido poder apropriar-se da Comissão Executiva e do Conselho Nacional.

"Na proposta do grupo de trabalho dos estatutos, com 107 conselheiros nacionais, dos quais 75 eleitos em convenção, basta eleger um terço (25 membros) que com os 25 da comissão executiva e com os novos sete da mesa, passamos a ter a maioria absoluta. Queremos mesmo um partido em que possa um terço do partido apropriar-se de toda a Comissão Executiva e do Conselho Nacional?", questionou.

O antigo dirigente da IL e um dos subscritor da proposta de alteração dos "Estatutos + Liberais", da oposição interna, referiu que o papel dos estatutos é possibilitar que todos estejam representados para ajudar os órgãos. "Mas representados, não apenas a aconselhar", defendeu.

Em defesa da proposta do Conselho Nacional, Miguel Barbosa rejeitou a ideia de haver a hipótese de alguma comissão executiva "tomar de assalto" o partido, por ter assento no conselho nacional.

"Na proposta que é apresentada por nós, não há nenhum ponto que diga respeito à avaliação do trabalho da comissão executiva que se mantenha com o seu voto, e a mais importante de todas é a possibilidade do conselho nacional, sem o voto da comissão executiva, convocar quando entender uma convenção nacional para vos devolver a palavra e decidirem o que é que fazem com ela", explicou.

Numa outra intervenção, João Caetano Dias, da direção da IL, considerou "perigosíssima" a ideia de "subjugar a Comissão Executiva ao Conselho Nacional" e Bernardete Santos, coordenadora do núcleo da IL de Viseu, considerou que a proposta do Conselho Nacional "desvia-se ainda mais do caminho liberal", que disse ser necessário para o futuro do partido, colocando em causa a autonomia dos núcleos.

Um dos temas que divide a atual direção e a oposição é precisamente a alteração dos estatutos, em relação à qual haverá duas propostas em discussão e em votação pelos liberais: uma apresentada pelo Conselho Nacional da IL e uma outra dos opositores internos.

Sequestro" do Conselho Nacional

No caso da proposta de alteração de estatutos apresentada pelo Conselho Nacional da IL está prevista a criação da Mesa do Conselho Nacional, um novo órgão, e que a Comissão Executiva passe a ter o poder de aprovar as candidaturas a eleições.

Já a da oposição interna, apresentada pela iniciativa "Estatutos + Liberais", e assinada por 211 membros entre os quais Tiago Mayan Gonçalves, propõe uma alteração dos estatutos que prevê uma maior descentralização do partido, com mais poderes deliberativos para os núcleos territoriais, e menos poderes para a Comissão Executiva.

Diário de Notícias
www.dn.pt