Sócrates, a "retórica baixa" e o "jogo limpo". Começou a campanha em Lisboa

Estão abertas as hostilidades entre sociais-democratas e socialistas em Lisboa e o tom já começou azedo. PSD quer que Fernando Medina suspenda o comentário televisivo.
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As eleições ainda não estão marcadas, mas em Lisboa está dado o pontapé de saída para as próximas autárquicas. E se são ainda os primeiros passos, o tom já disparou e a adjetivação também. Desde segunda-feira, o PSD já acusou a governação socialista de contribuir para a falta de credibilidade da autarquia, e para uma cultura de irresponsabilidade política que corrói a democracia, chamando à liça o nome de José Sócrates. "Tentativa de aproveitamento tosca, pérfida e abjeta", responderam os socialistas, uma "retórica muito baixa" que não visa mais que a "sobrevivência política de alguns" (leia-se nas entrelinhas Rui Rio), e "tentativa de trampolim político para outros" (leia-se Carlos Moedas).

Ontem, o líder do PSD Lisboa, Luís Newton, abriu uma nova frente de ataque, exortando Fernando Medina a deixar o espaço de comentário que tem na TVI24 - uma "tribuna de autopromoção semanal" para fazer "campanha eleitoral encapotada". Num comunicado intitulado "Jogo Limpo", o também deputado municipal e presidente da freguesia da Estrela refere que "a campanha eleitoral para Lisboa está no terreno, independentemente do calendário oficial" e que, se Carlos Moedas tem apresentado as suas ideias para a cidade, o "mesmo não se pode dizer do ainda presidente da câmara que nos últimos tempos se tem refugiado nos monólogos" na TVI24.

"Numa luta leal, o debate de ideias deve ser feito de forma igual, sem benefícios e palcos de privilégio", diz Newton, desafiando Fernando Medina a "suspender o seu espaço de comentário na TVI 24 para que, à vantagem como presidente incumbente, não some a de ter uma tribuna de autopromoção semanal". O social-democrata diz ainda que, se o autarca socialista "não tiver dignidade de o fazer", deverá ser a TVI a suspender o espaço.

Ao DN, o gabinete do presidente da autarquia responde que não há eleições marcadas e que Fernando Medina é presidente da câmara, e não candidato, condição que ainda não oficializou. Quando as eleições forem marcadas, o autarca deixará então o espaço de comentário televisivo, exatamente como fez há quatro anos, sublinha a mesma fonte, questionando por que razão os sociais-democratas não levantam a mesma questão com outros nomes em situação semelhante, caso de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto. As próximas eleições - que são marcadas pelo Governo - decorrerão na segunda quinzena de setembro ou primeira de outubro.

A presença de candidatos a eleições em espaços de comentário, sobretudo televisivo, é um tema recorrente sempre que se aproximam eleições. Nas últimas presidenciais, a questão colocou-se com Ana Gomes, que tem também um espaço de intervenção na SIC Notícias, ao domingo à noite. Ana Gomes suspendeu o comentário no final de outubro de 2020 - a três meses das eleições para Belém - e retomou-o no início de abril.
Luta política já azedou

O repto de Luís Newton é já o segundo round esta semana, depois do comunicado com que Carlos Moedas reagiu às buscas da Judiciária às instalações do departamento de urbanismo da câmara, na segunda-feira, falando em "casos de gestão urbanística que há vários anos têm vindo a levantar suspeitas sobre a prática política" da autarquia e sustentando que "o sistema não deve funcionar de forma pouco transparente, com base em favores e amiguismos". Moedas foi mesmo buscar o nome de José Sócrates para afirmar que as suspeições que se levantam sobre a autarquia da capital também corroem a democracia - usando as mesmas palavras com Medina se referiu, na semana anterior, ao antigo primeiro-ministro.

As palavras de Moedas caíram mal entre os socialistas, que não tardaram a reagir, pela voz do presidente da concelhia de Lisboa, que acusou o candidato social-democrata de uma "tentativa de aproveitamento tosca, pérfida e abjeta" daquilo que qualifica como um "processo de recolha de informação, na sequência de denúncias e sem que alguém tenha sido constituído arguido". "Caiu a máscara" a Carlos Moedas, escreveu Sérgio Cintra, sustentando que na candidatura do PSD a Lisboa se joga a "sobrevivência política de alguns e a tentativa de trampolim político para outros". Para o dirigente concelhio a "nova forma de fazer política" de Moedas "rapidamente passou a uma retórica que encontra paralelo nas sondagens sobre a confiança que os lisboetas têm em si. Ou seja, baixa, muito baixa".

Ao contrário do PSD, o CDS, maior partido da oposição em Lisboa e que avança agora coligado às autárquicas, não fez comentários às buscas da PJ às instalações da autarquia.

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