Secretário de Estado ignora acusações de BE
Já participou numa manifestação do Chega que negava a existência de racismo em Portugal, apesar de ser militante do PSD de Macau; já escreveu que “a PIDE teve um papel fundamental para combater os atos subversivos da oposição política, nomeadamente dos comunistas que poderiam pôr em causa a unidade, liberdade e soberania nacionais”; já disse que “Aristides Sousa Mendes pôs em risco a vida de todos os portugueses”; e, acrescenta o BE, é vice-presidente de uma empresa que tem como objetivo ajudar “as empresas portuguesas a terem uma presença de sucesso na China, assim como as empresas chinesas a terem uma presença de sucesso em Portugal”.
Conclusão de Marisa Matias? Vitório Cardoso, novo secretário pessoal do secretário de Estados das Comunidades, nomeado por José Cesário no dia 4 de julho, é um “lobista e apologista de ditaduras” que passará a ter acesso a “informação sensível” do Estado português.
Questionado pelo DN, sobre se mantém a confiança em Vítor Cardodo, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, responde que “eu não comento a pergunta do BE”.
Até ao fecho desta edição não foi possível obter a reacção do secretário pessoal de José Cesário.
Marisa Matias considera que a pessoa em causa “não tem idoneidade, nem deve merecer confiança para lidar com matérias e com informações tão sensíveis” como aquelas que o cargo acarreta, nomeadamente por ser “vice-presidente das Regiões Autónomas de Portugal da PORCHAM Portugal, uma empresa que se apresenta como “uma plataforma formal para empresas, profissionais e empresários luso-chineses se conectarem”.
“É uma atividade que já vem de longe, sendo conhecido o seu papel de intermediário de negócio entre Portugal e China pelo menos desde 2014, tendo inclusivamente acompanhado uma comitiva de empresários chineses no distrito de Viseu, já na altura acompanhando José Cesário”, acrescenta. Para a deputada, “torna-se óbvio que a nomeação feita não podia ter acontecido nem deve continuar, sob pena de se colocar num lugar de acesso a informação sensível e privilegiada alguém que representa interesses económicos particulares, em clara situação de conflito de interesses”.
Marisa Matias pergunta se o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, tem conhecimento da nomeação, se “considera que alguém que defende ditaduras e polícias políticas pode ser nomeado para um cargo de tamanha confiança política e onde lidará com informação e assuntos sensíveis” e se considera que “alguém que tem ficado conhecido pela sua atividade de lobby e de facilitador económico pode ser nomeado para um cargo onde estará em claro conflito de interesse”.
Por último: Vai “compactuar com esta nomeação, mesmo sendo notório que ela vai ao arrepio de todos os valores que Portugal deve representar?”.
O MNE optou por não responder à questão que o DN colocou -”vai manter-se a nomeação de Vítor Cardoso?” - remetendo explicações para José Cesário.
O caso surgiu após a revista Sábado ter noticiado o percurso e as posições políticas de Vitório Cardoso.