Um dos dois será primeiro-ministro. Ou António Costa consegue renovar a vitória para o PS nas legislativas de 30 de janeiro ou Rui Rio conseguirá potenciar ao máximo a dinâmica de uma mudança de ciclo, iniciada nas autárquicas, e vence a contenda eleitoral. Os politólogos ouvidos pelo DN dizem que os dados estão todos em aberto, sobretudo depois de ambos se terem mostrado disponíveis para diálogo pós-eleitoral, caso nenhum dos partidos atinja uma maioria absoluta..A vitória de Rui Rio nas diretas do PSD no passado sábado representou uma "linha de continuidade, mas em termos políticos há uma grande alteração", afirma José Adelino Maltez. O politólogo recupera o "vou ganhar!" do líder do PSD - garantido aos militantes do partido na noite da vitória contra Rangel - mas lembra que Rio admitiu um acordo de governabilidade com o partido que ficar em segundo lugar nas eleições..António Costa, diz, apela a uma maioria reforçada, mas se não a tiver admitiu já que irá falar com a esquerda, sem fechar a porta ao PSD. Coisa que fez em 2019. E é aqui que reside a diferença para os eleitores.."Como cidadão sinto-me extremamente confortável porque sei que das eleições irá resultar a governabilidade do país, ganhe um ou ganhe o outro", frisa José Adelino Maltez. "Não há dramatismo nenhum nestas eleições antecipadas, é só ver qual fica à frente"..Há, diz Adelino Maltez, um campo mais amplo do que os fantasmas anteriores das eleições de 2015, quando a coligação PSD/CDS, de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, ganhou nas urnas, mas o PS conseguiu congregar a esquerda para governar. "Agora sabe-se à partida que mesmo que um dos partidos tenha maioria relativa o outro deixá-lo-á governar". O que era a prática pré-2015..E sendo muito improvável o desenho de um governo de Bloco Central - Costa e Rio já afastaram essa hipótese -, a ideia de que pode acontecer ganhou força com a crise política e foi explorada à direita e à esquerda, porque serve os dois campos políticos que tentam potenciar o eleitorado contra os partidos do centrão.."O Bloco Central vai ser o mote destas eleições", afirma António Costa Pinto. Recorda que essa ideia foi imediatamente lançada como elemento de "legitimação dos partidos à esquerda". "Sobretudo a líder do BE, Catarina Martins, acenou com a ideia de que o PS quer fazer compromissos de governo com o centro-direita, desde o dia da dissolução. O mesmo acontece com o Chega", afirma o politólogo, acrescentando: "André Ventura explora esta ideia, fê-lo no recente congresso, para apelar ao voto útil e de protesto no seu partido"..O investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa admite que PS e PSD vão tentar fugir a todo o custo a esta aproximação na campanha eleitoral e demarcar-se da ideia de Bloco Central, porque António Costa sonha com uma maioria absoluta e Rui Rio em ganhar as legislativas. Mas, sublinha, sobretudo "Rio não pode trair-se na campanha eleitoral, depois de ter ganho o PSD com uma mensagem clara de que posiciona o partido ao centro e que está aberto ao diálogo com o PS"..Citaçãocitacao"Enquanto à esquerda o PS tem consolidados dois partidos, o BE e o PCP, estas eleições são as da consagração dos partidos nascidos à direita, no caso IL e Chega, e o PSD não os pode menosprezar sob risco de perder eleitorado.".Acresce que há ainda a incógnita se o PSD caminhará para uma coligação pré-eleitoral com o CDS, o que ficará mais esclarecido a 7 de dezembro, dia de reunião do Conselho Nacional social-democrata..Costa Pinto afirma que o PSD posicionado ao centro, como quer Rio, não pode deixar de espreitar à direita. "Enquanto à esquerda o PS tem consolidados dois partidos, o BE e o PCP, estas eleições são as da consagração dos partidos nascidos à direita, no caso Iniciativa Liberal e Chega, e o PSD não os pode menosprezar sob risco de perder eleitorado"..Outra das investigadoras do ICS, Sofia Serra Silva, reconhece que estas eleições antecipadas são uma "incógnita" a vários níveis. Terá de se perceber se o apelo de Rui Rio ao diálogo com "todas as forças moderadas", sem promessas de pré-acordos eleitorais, gerará reforço eleitoral para o PSD ou até pode levar a um estreitamento do eleitorado socialista..Sofia Serra Silva admite também que não existem ainda dados para antever o que irá acontecer com a eventual transferência de votos no campo da direita, nomeadamente para o Chega. Diz, no entanto, que as sondagens têm apontado para um crescimento do partido de André Ventura, o que aconteceria independentemente de ter sido Paulo Rangel ou Rui Rio a conquistar a liderança do PSD.."Um dos segmentos que era mais fiel ao PSD era o dos pequenos e médios comerciantes, estas eleições vão provar se ainda o serão com a estratégia de Rio", diz..A politóloga frisa ainda que se os dados das sondagens durante esta disputa eleitoral apontarem para uma dinâmica de bloco central "podem influenciar o jogo eleitoral e pós-eleitoral"..paulasa@dn.pt