Protestos na AR? Foram "uma cena de ridículo", diz Lula da Silva

Comportamento dos deputados do Chega mereceu dura reprimenda de Augusto Santos Silva. Presidente brasileiro disse ter-se sentido "em casa" nesta visita a Portugal.
Publicado a
Atualizado a

O dia era de festa, mas a polémica também acabou por ser protagonista. Apesar dos protestos já anunciados há várias semanas, Lula da Silva acabou por discursar na Assembleia da República no dia 25 de Abril.

No discurso que fez, e que marcou o fim da sua visita oficial ao país, Lula afirmou que teve "a inconfundível sensação de estar em casa", que espera ser comum por "todos os brasileiros que visitam Portugal" e vice-versa. No 49.º aniversário da Revolução dos Cravos, o presidente brasileiro não esqueceu, também, a data que "permitiu que Portugal desse um verdadeiro salto para o futuro". "O movimento iniciado pelos Capitães de Abril, há exatos 49 anos, reconquistou as liberdades civis, a participação política dos cidadãos" ou, por exemplo, "a democratização política e a livre organização sindical". "É isso que hoje estamos recordando e celebrando", disse.

Na sua alocução, o presidente brasileiro apontou ainda baterias à extrema-direita. Chamou-lhe "o vírus da anti-ciência e do desprezo pela vida humana" que, disse, durante a pandemia no Brasil causou 700 mil mortes devido ao "negacionismo". Já na Europa, afirmou Lula da Silva, "políticos demagogos que dizem não serem políticos, negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia".

E nem a guerra na Ucrânia ficou de fora - "condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia"; "acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais". Isto depois de as declarações que fez na visita oficial à China terem sido consideradas "ambíguas", ao pedir que "os Estados Unidos e a União Europeia "falem de paz em vez de continuar a fornecer material militar à Ucrânia.

Esta afirmação veio contribuir para a contestação à vinda de Lula da Silva a Portugal, sobretudo pelas bancadas de direita. E, esta terça-feira, houve protestos contra o presidente brasileiro dentro e fora do hemiciclo. No plenário, foram os deputados do Chega e da Iniciativa Liberal (IL) a protestarem contra a presença de Lula. No caso dos liberais, a manifestação foi silenciosa, com o líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, a ser o único deputado presente na bancada - e remetido ao silêncio.

Mas, no caso do Chega, a tática foi mais agressiva: os deputados do partido de André Ventura envergaram cartazes contra a presença de Lula e quando os outros parlamentares aplaudiram o líder brasileiro, o Chega bateu nas mesas como forma de protesto. O incidente mereceu uma reprimenda dura de Augusto Santos Silva, presidente da mesa da Assembleia da República: "Se os deputados querem ficar na sala têm de se comportar com a urbanidade têm de se comportar com urbanidade, cortesia e a educação exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal". A afirmação mereceu aplausos da esmagadora maioria dos deputados e, até, de alguns convidados, como Vasco Lourenço, capitão de Abril, ou Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP.

Em reação - já depois do final da sessão de boas-vindas -, o presidente brasileiro relativizou a atitude dos deputados. "Quem faz política está habituado a isso. Acho que essas pessoas quando voltarem para casa e deitarem a cabeça no travesseiro vão falar: que papelão nós fizemos". Foi, classificou, uma "cena de ridículo".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt