De todos os 27 Estados-membros, Portugal ainda é um daqueles que olha para a Europa como um lugar de elite. A perspetiva é de Fernanda Gabriel, jornalista correspondente da RTP em Estrasburgo há muitos anos..No Parlamento Europeu, a jornalista falou ao DN, de que foi correspondente europeia durante vários anos, no dia em que foi condecorada pelo Presidente da República (que esteve em visita oficial a Estrasburgo) pelo trabalho desenvolvido ao serviço da informação sobre a Europa. Com tantos anos de contacto com a realidade e a política comunitária, Fernanda Gabriel destaca a importância que Portugal dá à Europa. É, aliás, um dos poucos países que exporta os seus melhores políticos para o contexto europeu. "Temos eurodeputados muito bons. Portugal tem um peso importante nas decisões e ainda manda os seus melhores políticos para o Parlamento Europeu", considera Fernanda Gabriel. "Não acontece nos outros países. A França envia aqueles que criam problemas dentro de um partido, por exemplo, ex-ministros que não estão nada interessados e não sabem onde os meter e, portanto - lista europeia. Portugal nunca foi assim", considera. Isto pode dever-se, talvez, à chegada tardia ao contexto Europeu e, também, à democratização mais tardia do que noutros contextos. "A nossa delegação tem muito peso e há eurodeputados jovens, como a Lídia Pereira [PSD], que vão fazer um grande caminho", diz. Outro exemplo desta relevância são, por exemplo, eurodeputados do passado, como Mário Soares ("As pessoas diziam que ele não vinha fazer nada, mas esteve sempre presente e até escreveu uns relatórios", recorda) ou José Pacheco Pereira. "Temos tido pessoas de grande, grande qualidade", diz, destacando ainda os nomes de José Manuel Fernandes e Paulo Rangel (PSD) e de Marisa Matias (Bloco de Esquerda) atuais membros do Parlamento Europeu. "Esta geração de deputados é também excelente e é a continuação daquilo que tem sido ao logo dos anos"..E isto pode ser um fator importante para uma eventual liderança portuguesa de uma instituição europeia, nomeadamente na pessoa do atual primeiro-ministro, António Costa? "Tem apetência. Gosta da Europa. É afável, as pessoas gostam dele. Até os próprios eurodeputados o apreciam e respeitam. Isso é muito importante", diz a jornalista. Ainda assim, o país devia "apostar mais em altos cargos dentro das instituições europeias", algo que acontece com os políticos espanhóis. "É um bocado duro dizê-lo, mas acho que a política portuguesa, muitas vezes, tem falta de sentido de Estado. Está demasiado partidarizada e não devia ser assim. Os espanhóis, por exemplo, se tiverem um candidato a líder de alguma instituição europeia, apoiam independentemente do partido a que pertença", explica..Aquando do Dia da Europa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou palavras duras sobre o futuro da UE - e do projeto europeu - pedindo uma União livre de egoísmos e nacionalismos. A preocupação é partilhada por Fernanda Gabriel. "O Partido Popular Europeu [PPE, ao qual pertence o PSD] está numa lógica de abertura e a extrema-direita é vista como um possível aliado. Estamos a ir no sentido de uma Europa mais fechada. Somos muito menos exigentes do que éramos há uns anos", diz..Recuando no tempo, Fernanda Gabriel dá um exemplo: "Lembro-me quando, na Áustria, a extrema-direita ganhou e eles quiseram fazer um coligação. Nessa altura, Portugal tinha a presidência [do Conselho da União Europeia, em 2000] com António Guterres e foi dito que se a extrema-direita entrasse no governo, a Áustria seria dispensada do Parlamento Europeu. E acabaram por não entrar. Como é que se pode banalizar alguém assim, que não respeita nada nem ninguém? Como europeísta, não me imagino a ter um Parlamento Europeu fragmentado, como se prevê que seja, e governado pela extrema-direita ou com o seu apoio.".Já sobre a condecoração que recebeu de Marcelo Rebelo de Sousa, Fernanda Gabriel classifica-a como "absolutamente inesperada"..Apesar do orgulho que tem em ser agraciada com a Ordem de Camões, Fernanda Gabriel destaca outro fator: o reconhecimento de outros jornalistas. "É muito importante para mim. E as mensagens que recebi, realmente, foram extraordinárias e encheram-me o coração", diz, acrescentando: "Obviamente, ser reconhecida pelo país é uma honra. E, depois, receber uma medalha na casa da Europa, na casa da democracia, no Parlamento Europeu, pelo PR, aí é realmente a cereja no topo do bolo.".O DN viajou a convite do Parlamento Europeu