Os ataques (quase) generalizados da oposição ao ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, após a divulgação do relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) sobre a TAP, levaram o governante, que concluiu o processo de privatização da transportadora aérea em 2015, quando era secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações no efémero segundo executivo de Passos Coelho, a colocar-se nas mãos de Luís Montenegro..O primeiro-ministro, por sua vez ao início da noite, à entrada para um encontro com militantes do PSD/Lisboa, no âmbito da recandidatura à liderança da presidência do partido, afirmou que Miguel Pinto Luz estava "fortalecido pelo excelente trabalho" que tem feito, considerando mesmo que o relatório da Inspeção-Geral das Finanças sobre a TAP "não tem nenhuma novidade"..“Desde o dia em que assumi funções, o meu lugar pertence ao senhor primeiro-ministro”, disse nesta terça-feira Pinto Luz, à chegada para uma reunião na sede da Área Metropolitana do Porto, confrontado com perguntas sobre “uma possível relação de causalidade” entre a aquisição de 61% do capital social pelo consórcio de David Neeleman e Humberto Pedrosa, o compromisso de capitalizarem a empresa em 226,75 milhões de dólares e a penalização de igual montante assumida pela TAP em caso de incumprimento da compra de 53 aviões à Airbus, levando a IGF a sugerir o envio do relatório para o Ministério Público. Perante isto, o ministro das Infraestruturas e Habitação garantiu que pretende continuar a exercer o cargo, “com toda a competência, com toda a seriedade e com todo o comprometimento para com os portugueses”..A crítica mais cáustica veio da coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, para quem Pinto Luz é “o maior ativo tóxico que este Governo tem” e “não tem idoneidade para gerir o dossier da TAP”, pois “esteve envolvido no passado com um negócio ruinoso” para a empresa. Diagnóstico que levou a líder partidária a defender que “não pode ter qualquer coisa a ver com a gestão da TAP no presente”, numa referência ao facto de o ministro das Infraestruturas, acompanhado pelo ministro das Finanças, Miranda Sarmento, se ter reunido com a Lufthansa, potencial interessado em participar na reprivatização da empresa..Mas a pressão sobre o Governo foi assumida de forma direta pelo PS, através da líder parlamentar, Alexandra Leitão, que desafiou Luís Montenegro a revelar, com urgência, se Pinto Luz “pode continuar a dirigir um processo semelhante a um anterior, em que se revelou que não houve transparência.” E anunciou que pedirá a audição parlamentar do agora ministro, mas também de Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças escolhida para ser a nova comissária europeia, e de outro antigo secretário de Estado das Infraestruturas e Comunicações, Sérgio Monteiro..A chamada ao Palácio de São Bento de Miguel Pinto Luz, Maria Luís Albuquerque e Sérgio Monteiro também foi defendida pela líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, pela homóloga do PCP, Paula Santos e pela deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, para quem o primeiro-ministro “deve indicar outro governante que fique responsável por todo este processo ou chamá-lo a si, para que não haja qualquer dúvida de que o interesse público vai prevalecer”, juntando à lista também Miranda Sarmento..Também houve fortes críticas do Chega, cujo líder parlamentar, Pedro Pinto, acusou Montenegro de ser “cúmplice” no que disse como “uma trapalhada”, pois “sabia quem estava a nomear” ao chamar Pinto Luz para o Governo. Pronto a chamar o atual ministro e Maria Luís Albuquerque, o deputado insistiu também que a reprivatização da TAP precisa de ser retirada a Pinto Luz, pois “não tem condições políticas”..Bem diferente foi a reação do deputado da Iniciativa Liberal Rodrigo Saraiva, para quem cabe a Luís Montenegro avaliar se devem ser retiradas consequências políticas, ressalvando que “neste momento não nos parece que exista necessidade disso.” E que é mais importante apurar quando e como a TAP será privatizada e será “defendido o dinheiro dos contribuintes.”.Com o CDS a reservar-se para mais tarde, a defesa de Pinto Luz coube ao deputado do PSD Gonçalo Lage, dizendo que este tem “todas as condições para continuar a exercer as funções como ministro”. E, além de mencionar um nexo entre o timing da divulgação do relatório da IGF e a escolha de Maria Luís Albuquerque para a equipa de Ursula von der Leyen, “do que conhecemos até hoje, não há um único facto novo ou questão nova que tenha aparecido.”