Saiu do Aliança, que fundou em 2018, mas não desiste de ter voz no futuro do país. Santana Lopes não excluiu voltar às fileiras do PPD/PSD, partido a que os portugueses o veem colado. .Deixou o Aliança que fundou em 2018. Porquê agora? Desde a noite das eleições legislativas que sair era uma questão de tempo, sobretudo sair da liderança. O resto exigia mais tempo e reflexão porque fui educado na escola que quando uma pessoa tem um resultado péssimo deve demitir-se. A Dra. Assunção Cristas demitiu-se nessa noite das eleições e eu disse: não faço como ela porque o Aliança não é um partido com a organização do CDS. Mas fui pedindo um congresso para ser substituído e em junho de 2020 lá se convenceram. As eleições foram em outubro e depois começou a pandemia em fevereiro/março, e acabei por sair da liderança em setembro. Saio de militante porque não fiz a Aliança por capricho ou para ser um pequeno partido sem qualquer influência nas orientações do país. Não fiz o Aliança para ser presidente do partido, já tinha sido de outro maior. Muita gente dizia que eu devia ter sido cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu e que teria sido eleito, não quis porque quis que ficasse claro que eu não fundava o partido para ter cargos. Para continuar a ter intervenção política no Aliança, um partido fundado com a imagem muito colada a mim, era muito difícil. E ficou provado que foi uma relação que não resultou. A conclusão que tiro é que para os portugueses não fez sentido eu apresentar-me por outro partido, eu vi isso pelo país todo. Também ficou provado que havia espaço para novas formações políticas, agora acho que no centro-direita este é o momento de rassemblement [união]. É de juntar, unir forças, e eu quero contribuir para isso, com intervenção política como cidadão. Logo se vê a que título..No país veem-no como militante do PSD, onde liderou e até esteve quase na fundação, com Sá Carneiro. É possível um regresso ao seu partido de sempre? Não quis e não quero misturar assuntos. Agora iniciei uma fase em que estou a respirar fundo. Foi um processo muito duro e exigente, até doloroso, que me exigiu muita coisa interiormente, esforço físico e até financeiro na saída do Aliança. Não estou ainda nessa fase, sou um cidadão independente. Posso tomar uma decisão sobre isso... não escondo que há muita gente do PSD a pedir-me e a escrever-me todos os dias, o que me sensibiliza muitíssimo, e onde leio "volte a casa" ou "tens de voltar a casa". Sensibiliza qualquer ser humano porque eu saí e as pessoas podiam ter ficado zangadas, algumas ficaram. Mas aos mais variados níveis têm sido absolutamente extraordinárias e a convidarem-me, das estruturas das bases, a nível concelhio e distrital, para concorrer às autárquicas pelo PSD ou com apoio do PSD. E isso ainda mais me sensibiliza porque tive um resultado eleitoral muito mau no Aliança e as pessoas continuam a acreditar, isso surpreende-me. O Aliança até pode ter mais futuro sem mim, porque sou uma pessoa que faz política há décadas, não sou só eu, há muitos que fazem, desde o Presidente da República ao primeiro-ministro ou ao líder da oposição. Hoje é um tempo de discursos antissistema e esses novos partidos têm de marcar muito esse discurso. Quero há muitos anos mudar o sistema eleitoral, até o sistema de governo, mas radical nunca! E nas eleições de 2019, por mais que falasse na questão da produtividade, do crescimento económico, dos seguros para todos, fizemos outdoors sobre uma questão atual que é a Segurança Social, sobre o caos nos serviços de saúde e nas lojas do cidadão, mas as pessoas não queriam ouvir, não queriam debater esses assuntos. Estamos num tempo das fake news e das frases radicais, do chamar nomes a toda a gente, de ofender as pessoas, e esse não é o meu estilo nem a minha maneira de ser e de estar. Não digo nada que não pense ou sinta só para ter votos. Por isso, não tenho dúvida nenhuma de que é melhor para o Aliança eu não estar. E não me venham dizer que é por causa de cargos. Há dois ou três anos deixei o cargo na Santa Casa da Misericórdia, recusei convites para seguir o meu caminho, um caminho de pedras. Continuo a ser um insatisfeito com a política externa portuguesa em matéria de União Europeia, que tem levado Portugal a estar nos piores rankings do nível de desenvolvimento e de nível de vida dos seus cidadãos. Esta é uma questão-chave para o desenvolvimento português dar a volta e haver crescimento a um nível mais sustentável e eu no PSD nunca convenci a maioria de que o caminho tinha de ir por aí e pensei fazer isso numa força política nova..Tem-se vindo a falar que poderá liderar uma lista do PSD às autárquicas. As eleições autárquicas devem ser adiadas e devíamos tratar disso com tempo. Nas presidenciais foi à última hora, andou-se em discussão se era constitucional ou não. Mas adiar as eleições autárquicas não é inconstitucional. E a questão não é o voto, que até funcionou bem, é a campanha. Porque uma coisa é a campanha para as presidenciais, que foi muito sui generis, mas tiveram a imprensa atrás e debates, mas nas autárquicas não é assim. Nas autárquicas por muito que sejam conhecidos os candidatos têm de ir correr as capelinhas todas, têm de ir a todas as freguesias, aos cafés, às coletividades, e isso é impossível nas circunstâncias atuais e que são previsíveis para os próximos meses. Quando fui candidato autárquico as decisões foram tomadas em fevereiro para eleições no fim do ano. Quem é que aceita ser candidato autárquico se não forem adiadas? Os que já estão é diferente porque são os incumbentes, os que estão dentro da câmaras. O país tem de saber decidir essas coisas com tempo, a duração dos mandatos autárquicos está estipulada por legislação ordinária, e pode ser encontrada justificação nacional para o adiamento de seis meses. Era muito sensato dentro do que se prevê do tempo de vacinação e criação de imunidade para o regresso à normalidade, e todos os especialistas dizem que até ao verão ou até ao final do ano isso será impossível. E foi o Presidente da República no seu discurso de vitória que disse que temos de aproveitar as lições para as eleições. Há um trabalho enorme a fazer e o parlamento tem obrigação de o fazer imediatamente . Eu é que nestas circunstância nunca seria candidato..E se o parlamento aprovar o adiamento das eleições autárquicas, admite ponderar essa hipótese? Em circunstâncias normais, sim. Não porque precise, é por gosto! Fui presidente de câmara e vereador em Lisboa por gosto. É o trabalho na vida política de que mais gostei dos vários cargos que já desempenhei. É fantástico o trabalho autárquico! Por essa razão admito que isso volte a acontecer, ser candidato a uma câmara, se houver juízo!.E gostava de tentar Lisboa novamente, ou Figueira da Foz, onde foi muito feliz como autarca? Isso é passar ao segundo capítulo. Já veio a público que os vários desafios que me fizeram são para vários sítios do país e mais do que uma hipótese no distrito de Lisboa. O primeiro capítulo é ver como tudo isto corre, vamos ver... Não sou hipócrita e admito que gosto muito do trabalho autárquico. Mas quero deixar claro que estou muito bem como estou e já não tenho 30 nem 40 anos e estou muito calmo e sereno. E não fui nem vou pedir a ninguém para ser candidato seja onde for. Se houver essa hipótese é porque têm de me convidar. Agora quando me desafiam e apresentam projetos mobilizadores já me conhecem, é-me difícil recusar se eu achar que posso ser útil..É sá-carneirista, mas também disse admirar o espírito combativo de Soares, sobretudo por nunca desistir da política. É nisso que se inspira para não rejeitar a ideia de uma candidatura presidencial em 2026? [Riso] Sim, talvez. Agora é o segundo mandato deste Presidente e quem for candidato às próximas eleições presidenciais tem de tomar essa decisão daqui a três anos. Em teoria todos os que têm mais de 35 anos - e eu tenho um bocadinho mais - e estão no pleno gozo dos seus direitos podem ser. Veremos. Não faço ideia, mas não sou hipócrita, nunca excluo completamente..O resultado de Marcelo Rebelo de Sousa é reflexo de um bom mandato em Belém? Mesmo depois de o terem acusado de ter estado sempre alinhado com o governo socialista? É verdade. Conheço muita gente que estava descontente. Mas houve uma grande diferença entre Marcelo Rebelo de Sousa e os outros candidatos. Com a devida vénia, ficou claro para as pessoas, mesmo para várias que estavam zangadas com ele, que pensando em Portugal era quase a única opção. A embaixadora Ana Gomes também tinha currículo mais do que suficiente, mas tem posições que são mais fomentadoras de divisão do que de união. Marcelo é, de facto, um personagem único. Havia um slogan de Otelo Saraiva de Carvalho que era "Otelo, um amigo na Presidência", em 1976, e quem se tornou assim foi Marcelo Rebelo de Sousa. Tornou-se amigo dos portugueses e vice-versa, independentemente das diferenças, e toda a gente respeita as qualidades intelectuais dele. 60% é um bom resultado. Os outros candidatos estavam a marcar o seu espaço..A votação em André Ventura, que lidera um partido de extrema-direita, não o preocupa? Está de acordo com o que se passa no mundo. As coisas cá demoram sempre uns anos a chegar. Ou o sistema político português demonstra capacidade - nomeadamente no sistema eleitoral - de se regenerar ou então já sabemos que as condições para o crescimento dessas forças políticas aumentam. Agora não vale a pena diabolizar ou a deixar de fora, é ao contrário é procurar integrar no sistema. É chamar às responsabilidades. Aquilo não é propriamente uma força política muito organizada, como aconteceu noutros países. Fiz esta viagem pelo mundo dos pequenos partidos e sei o que aquilo é, as divisões que há, incluindo no Chega, são públicas..Tem defendido que é preciso convergência nacional para responder a este momento de profunda crise. Estamos num tempo tão grave em que devia existir um governo de emergência nacional, respeitando os resultados das eleições legislativas. A generalidade dos países da Europa tem governos com apoio maioritário no parlamento. Neste momento em Itália o governo até caiu por não ter maioria. Na altura da maior crise que houve até hoje nas nossas vidas, porque simultaneamente é sanitária, económica e social, somos originais como sempre, o único país que tem um governo minoritário. Acho extraordinário que isto não se tenha discutido nas presidenciais, acho absolutamente fantástico que nenhum candidato tenha falado nisso. A questão coloca-se para o partido que está no governo, que tem uma tarefa hercúlea, e para os da oposição, que não se podem pôr fora desse esforço. A seguir ao 25 de Abril houve uns governos provisórios, com PS, PSD e PCP. Na altura em que vivemos não é para se andar a fazer oposição e propaganda como se fossem tempos normais, é altura para se concentrarem no essencial e convergirem esforços. Em circunstâncias normais os governos têm de ter maioria para não perderem tempo em negociações difíceis como foi agora no Orçamento do Estado. Falou-se em exigir um acordo escrito, que garanta o apoio parlamentar maioritário, que é o mínimo, mas a situação que vivemos justificaria um governo de salvação nacional ou de emergência nacional. Ontem ouvi o primeiro-ministro a reconhecer que a situação não é má, é péssima. É preciso uma grande mobilização nacional. Fala-se, por exemplo, do terceiro setor e estou convencido de que muitas estruturas que este setor tem, nomeadamente nos antigos hospitais das Misericórdias, não estão a ser utilizados para toda esta situação como deviam. Era muito mais natural do que falar-se de mandar doentes para o estrangeiro. É algo que me horroriza. Logo no inicio da pandemia, ainda era presidente do Aliança, fiz um vídeo a dizer "estes são tempos de coesão nacional". E continuo a pensar isso e a melhor forma de isso acontecer é todos serem chamados a um governo para assumirem responsabilidades, porque a gravidade da hora que vivemos o justifica..Mas voltando ao Chega, é possível o PSD vir a aliar-se ao partido de André Ventura nas próximas eleições legislativas, se a direita tiver maioria? Não quero contribuir para esse caminho de falar mais do Chega nem fazer polémicas com isso. Há uma série de posições do Chega com as quais não concordo, discordo totalmente, agora também há posições do Bloco de Esquerda das quais o PS provavelmente discorda completamente e, no entanto, não se importa de ter o apoio do BE. Não estou a comparar os dois partidos, estou só a dizer que não são partidos propriamente próximos nas suas ideologias verdadeiras do PS ou PSD. Não tenho a certeza completa de qual é a do Chega. Agora já há alguns acordos e parcerias internacionais que dá para esclarecer um pouco. Não quero estar a falar pelo PSD, mas acho que fez bem nos Açores. Principalmente depois de o Dr. António Costa ter dito - do que deve estar arrependido - que se precisasse do apoio do PSD o governo caía. Não está tempo para isso, nem de um lado nem do outro. Se o Bloco tem de apoiar, o Chega tem de apoiar, se for a bem de Portugal e se não se aplicarem medidas que não aceitamos no campo dos princípios e valores, então é de aceitar. Mas à esquerda, o Bloco tem imposto a sua agenda fraturante, isso é que é perigoso numa coligação ou num acordo de governo. O partido maior deixar o partido mais pequeno impor a sua agenda com a qual em alguns pontos nem está de acordo. Isso é que é perigoso e não pode acontecer. Chegámos ao ponto de estar a discutir a eutanásia no meio de uma pandemia..O governo tem conseguido responder à crise sanitária, dada a situação grave a que o país chegou? É manifesto que não correu bem, mas tenho dúvidas de que tenha sido só a questão do Natal, ainda que não queira contribuir para especulações. Já estive como primeiro-ministro e é muito difícil estar no governo numa altura destas. Têm feito, com certeza, o melhor que podem e sabem. Agora com erros grandes, sim. Agora este disparo de contágios acho que também é muito uma questão de fiscalização. Quando houve a abertura viam-se muitos abusos nas grandes urbes, até em público, mas houve pouca fiscalização das autoridades. Agora há grandes campanhas de esclarecimento e de pedagogia sobre a gravidade da doença. Não quero fazer críticas ao governo porque quando foi do Natal eu vi a generalidade dos partidos a concordarem com a abertura. Era difícil acertar. O próprio primeiro-ministro disse que se soubesse da variante britânica mais cedo, se calhar, não teria tomado as mesmas de decisões. Lá está, pedir o esforço a um partido só é algo irracional. Até do ponto de vista das ideias, do planeamento, seria muito enriquecedor ter um apoio maioritário..E como responder agora a este descontrolo da pandemia? O grande trabalho tem de ser na massificação, tanto quanto possível, da vacinação. E se há algo que não aceito é que haja esta vinculação ao acordo feito na União Europeia, que foi muito importante e uma prova de solidariedade da UE, mas deve haver liberdade para os Estados, como a Alemanha já começou a dar sinais, para poderem fazer aquisições de vacinas fora do que é esse concerto europeu porque esse é o ponto principal. As farmacêuticas tiveram vários atrasos e há vários estados do mundo que adquiriram vacinas até à China e não acredito que os governos desses países queiram matar os seus cidadãos, nem há sinais de reações adversas. O que temos de fazer é vacinar muito depressa porque já vimos, com novas variantes a toda a hora, que não é fácil, e olhar também para as terapias. Há medicamentos no mundo que agora começam a ser falados que mostram grande eficácia na cura, e que o seu princípio ativo é produzido em Portugal, mas não estão autorizados pelo Infarmed para serem vendidos em Portugal, mas são vendidos no Brasil. A questão é o estudo e o caminho tem de ser esse. As pessoas estão saturadas, mas têm de dar graças por viver uma pandemia com as condições tecnológicas que existem e não as que existiam há um século durante a gripe espanhola, em que não havia Facetime, nem Zoom, nem Teams, nem telemóveis, e as pessoas estavam isoladas ou caíam na rua doentes, porque não havia as infraestruturas de saúde que há hoje. O secretário-geral da ONU tem falado muito na solidariedade internacional na partilha de vacinas e também é preciso um discurso de solidariedade nacional. Lá está a tal emergência nacional e o Presidente da República sai destas eleições com a força política para o poder exigir..Há mesmo razão para contestar o plano de vacinação, nomeadamente não se ter começado pelos mais idosos? A minha preocupação de não contribuir para o caudal de críticas é porque quem já desempenhou funções de governação não o deve fazer. Já ouvi a ministra da Saúde dizer que falar de falta de planeamento "é criminoso", não quero ir por aí. Parece óbvio que a vacinação das pessoas dos grupos de risco, dos mais velhos, parecia óbvia. Agora há esta polémica escusada da vacinação dos políticos, o que é normal é que seja vacinado o Presidente da República, o primeiro-ministro e a ministra da Saúde e os secretários de Estado da Saúde, os que estão mais em contacto com a população e os profissionais de saúde, o resto não vejo razões para que isso aconteça e percebo a atitude dos que já disseram que não queriam..Desta pandemia já resultam consequências económicas graves, mas a crise vai ainda ser mais profunda. O que é preciso fazer para minimizar esta situação e onde aplicar a chamada "bazuca europeia"? Aproveitar a última oportunidade para aplicarmos os recursos de forma a mudar a situação do país. Sobre os fundos não vamos pensar que vai ser muito diferente das outras vezes, Portugal é Portugal. Por isso é que era importante existir toda essa convergência. A orientação dos fundos deve ir principalmente - e já não falo do plano Costa e Silva - para garantir a coesão económica e social entre as parcelas do território nacional, nomeadamente nas infraestruturas de saúde, na ferrovia e na proteção dos recursos naturais, nomeadamente a floresta. Aquelas áreas que tornam Portugal atrasado e, por isso, é que o investimento público nas ligações à Europa, nomeadamente em alta velocidade, são também importantes. Obviamente, na altura em que vivemos, mais do que o novo aeroporto. Nunca concordei com essa opção, sempre achei Alverca muito mais económica e mais prática. Aquilo que o Presidente falou e em que devia falar mais - e eu disse que votar Marcelo dependia do seu empenhamento na causa do crescimento económico -, porque estamos quase no último lugar na Europa, temos a Bulgária atrás e pouco mais. Como é que se pode aceitar isto? Também tem de se dizer a Bruxelas para olhar para isto, porque a culpa também é das políticas de coesão. Os orçamentos são aprovados em Bruxelas há muitos anos e, portanto, tem responsabilidade nisto. A coesão económica e social é um princípio basilar da construção europeia e até no tempo em que tivemos intervenção da troika houve países nossos parceiros, além dos que nos emprestaram dinheiro, que ganharam dinheiro com a crise económica. Bruxelas tem de fazer um esforço grande e vai fazer com estes fundos, mas não podemos falhar. Portugal esteve muito tempo em polémicas perfeitamente estéreis e estúpidas. Por exemplo, há de chegar o tempo em que vai ser aproveitado o aeroporto de Beja. Já há movimentos que procuram ligar muito o Algarve, o Alentejo e a Andaluzia, chamam-lhe os três "A". O que há a fazer é ser inteligente e investir o dinheiro onde seja possível explorar as áreas onde o país tenha níveis de desenvolvimento capazes. Governos que não tenham sistemas fiscais atrativos para o investimento estão a cometer um erro. Portugal precisa de investimento como de pão para a boca. Irlanda, Luxemburgo, Áustria, Malta, Holanda, têm regimes fiscais especialmente atrativos para o investimento estrangeiro. Portugal tem das taxas mais altas e é dos países que precisam de mais investimento. Depois há a questão do mar e até da exploração mineira, ou seja, tudo o que se possa fazer e trazer riqueza aos portugueses. Os bloqueios só se ultrapassam e até pela "bazuca" com esse tal governo de solidariedade nacional. Tem de se aproveitar os próximos anos para crescer muito economicamente, porque quando a pandemia passar poderá haver anos gordos e de forte recuperação económica. Agora com a pequena visão e a pequena política e o grande compadrio não vamos a lado nenhum. Tem de ser com grande visão e com o conhecimento do país real..Não se caminhando para esse governo de solidariedade nacional, acha que o executivo de António Costa conseguirá chegar ao final do mandato? Não é fácil. Com certeza que o próximo Orçamento vai ser difícil e depende de tudo isto, da evolução da pandemia. Um governo minoritário já é muito difícil de cumprir uma legislatura, numa situação destas se isso acontecesse... O centro-direita ainda está numa fase de reestruturação e se não houver esse governo de solidariedade nacional - repito, respeitando os resultados das eleições de 2019 - tem de haver uma alternativa. E para que haja alternativa o centro-direita tem de se juntar, trabalhar em conjunto, atualizar programas, princípios, objetivos e metas. E a esse título as novas forças políticas são úteis. A Iniciativa Liberal trouxe novas ideias, o Aliança tentou trazer, o Chega à sua maneira faz-nos pensar ainda mais no que queremos e não queremos, como o Bloco de Esquerda foi aqui há uns anos, que foi uma inovação. O centro-direita precisa desse grande trabalho de rassemblement e é para isso que quero contribuir, com a experiência que tenho e as responsabilidades que já tive para me juntar a esse esforço de unidade. Às vezes as questões pessoais ganham uma força excessiva perante as prioridades nacionais e tem de se pôr de lado desavenças, rivalidades, guerras antigas, porque a hora do país é de salvação. Pode haver líderes de partidos de quem não gostamos, pois então resolvam lá isso como está o CDS nesse processo. Fora isso tem de se trabalhar com quem está. Marcelo não é o Presidente que alguns queriam, pois é, mas é ele o Presidente. Eu votei nele e tem de ser ajudado. O primeiro-ministro não é para muitos quem queriam, pois é, mas enquanto ele for o primeiro-ministro em altura de pandemia a obrigação principal - e Rui Rio tem feito isso muitas vezes - é ajudar e apoiar as decisões difíceis. São tempos muito graves, há muita gente a morrer e a sofrer e não há direito à política das ofensas e das calúnias. É tempo da política dos bons sentimentos, sem preconceitos ideológicos. Não faz sentido falar em hospitais públicos e privados nesta altura ou no terceiro setor, têm de estar todos juntos. E também ninguém deve procurar o lucro fácil numa altura destas, seria inaceitável. E é isso que eu ainda não sinto no meu país, que é tempo de estarmos juntos. É preciso ter respeito por quem sofre, quem está confinado em casas sem condições, por quem está internado. As pessoas têm de se pôr no lugar do próximo e tomarem as decisões de unidade nacional.