Pedidos de convenções, congresso e diretas. PSD vai "refletir"
O PSD vai reunir o seu órgão máximo entre congressos, o Conselho Nacional, no dia 19, em Barcelos, e sucedem-se os apelos para que o partido entre num período de reflexão após os maus resultados nas legislativas antes de pensar em qualquer mudança de presidente. Mas também há quem, como Miguel Relvas, antigo ministro de Pedro Passos Coelho, defenda que a melhor via avançar para uma nova liderança "o mais rapidamente possível".
"O congresso é quase tudo, mas não permite ouvir os militantes", diz ao DN Nuno Carvalho, que foi cabeça de lista do PSD por Setúbal. O deputado eleito sublinha que se for convocado um congresso, mesmo que seja prévio às eleições diretas, "os militantes só irão eleger os delegados e não vão participar na discussão que é necessária".
Nuno Carvalho defende, assim, que sejam organizadas convenções distritais para que todo o partido se envolva na discussão sobre o futuro e, em particular, sobre a reconfiguração do espaço político à direita.
O facto do PS ter conseguido uma maioria absoluta a 30 de janeiro e Rui Rio se ter disponibilizado para ficar ao leme do partido pelo menos até junho, leva Nuno Carvalho a dizer que "há tempo para fazer isto".
Entre as coisas que gostava de ver todos os militantes a pensar destaca a transferência do voto de protesto da esquerda para a direita e a passagem do voto jovem também para esta área política, nomeadamente para a Iniciativa Liberal.
Para Nuno Carvalho é precisamente a grande dimensão de militantes, espalhados por todo o país e representados no Parlamento, nas autarquias e nos governos regionais, que tornam o PSD diferente dos outros partidos e apenas próximo do PS na sua estrutura. "Os militantes do PSD representam o país do seu ponto de vista sociológico e ideológico", diz e insiste: "Não ouvir os militantes diminui a discussão".
O eurodeputado Paulo Rangel, que está a ponderar uma recandidatura à liderança, também defende essa "debate profundo" e que a derrota eleitoral não deve ser tomada "pelo seu valor facial". No seu habitual artigo de opinião, publicado no jornal Público, considerou que as eleições legislativas resultaram de "alteração substancial da paisagem político-partidária" e que o partido tem "novos desafios e novos reptos".
O DN sabe que vê com bons olhos a realização de um congresso extraordinário para fazer essa reflexão e sempre antes da marcação de eleições diretas. Como o DN já escreveu, se o processo de eleição da nova liderança fosse muito acelerado, Paulo Rangel nem considerava a hipótese de entrar novamente na corrida à sucessão de Rui Rio.
Na mesma linha, Miguel Pinto Luz, que também é visto como um potencial candidato à sucessão de Rui Rio - que já clarificou que não se recandidata - defendeu a "reflexão profunda" no partido e rejeitou um desfile de "protocandidatos".
O antigo líder da distrital de Lisboa do PSD, afirmou na sequência da derrota eleitoral que a serenidade "será a melhor conselheira" a breve prazo, elogiando o presidente do partido, Rui Rio, por não se ter demitido de imediato na noite eleitoral "dando tempo a que o partido respire fundo".
Mas há quem não queira respirar fundo e até defenda celeridade no processo de eleição da nova liderança. É o caso do antigo ministro Miguel Relvas que ontem defendeu, em entrevista à CNN, que o partido deve ter a nova liderança "o mais rapidamente possível".
Relvas foi questionado sobre quem será o melhor líder para suceder a Rui Rio, mas escusou-se a apontar um nome, considerando que "neste momento é mais importante a definição da estratégia e do posicionamento do partido".
Instado a comentar a possibilidade de uma candidatura do eurodeputado Paulo Rangel, o antigo secretário-geral do PSD juntou a este os outros nomes mais apontados para a futura disputa de liderança."Paulo Rangel, como Luís Montenegro, como Miguel Pinto Luz, que são os nomes que têm sido falados, e Jorge Moreira da Silva, têm de criar condições - aquele que for líder - para que os outros estejam na mesma equipa", afirmou, dizendo que também o atual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, deve integrar a futura direção do partido. Ainda assim, o antigo dirigente apontou Miguel Pinto Luz - que apoiou nas diretas de 2020 - como o militante que, no último congresso do partido em dezembro, "teve a coragem de ir pôr o dedo na ferida, disse a verdade e o partido não quis ver essa realidade", criticando o posicionamento ao centro que Rui Rio imprimiu ao partido.
Este apelo de Miguel Relvas parece estar a surtir efeito junto dos presidentes das distritais, que já agendaram uma reunião para o início da próxima semana para concertarem posições sobre este processo. Recorde-se que a maioria dos dirigentes distritais apoiaram Paulo Rangel na última disputa contra Rui Rio e podem estar a preparar a uma "candidatura de unidade" que pode passar ou não pelo eurodeputado, dado que Rangel não está virado para o acelerar dos tempos eleitorais internos.
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