Sai Jerónimo e entra Raimundo, o novo secretário-geral do PCP
Jerónimo de Sousa sai da liderança por razões de saúde, mas fica no Comité Central. Paulo Raimundo, de 46 anos, é o mais novo de todos os líderes na história do PCP
A decisão foi anunciada por Jerónimo de Sousa durante a reunião do Comité Central, que, tinha sido anunciado, preparava a Conferência Nacional do PCP, a decorrer no próximo fim de semana, em que este, "no prosseguimento de uma avaliação própria, refletindo sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume, colocou a questão da sua substituição nas funções que desempenha, mantendo-se como membro do Comité Central do PCP".
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O Comité Central elogia, neste momento, "a grande dedicação e empenho com que assumiu estas elevadas responsabilidades, por um longo período, exemplo de compromisso com o ideal e projeto do PCP, ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país, da paz, da amizade e solidariedade entre os povos". E sublinha a "disposição" de Jerónimo de Sousa" de "prosseguir a sua ação militante" no Comité Central.
Perante a questão, que o partido "compreende face à situação concreta" - as razões de saúde -, será proposto, no dia 12, o próximo sábado, a "eleição de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP", que o partido diz ter "um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no coletivo" e "preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública à ligação, contacto e identificação com os trabalhadores e as massas populares e com o Partido, as suas organizações e militantes".
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É sublinhada uma ideia: "Paulo Raimundo é de uma geração mais jovem."
No perfil que o PCP traça do seu novo secretário-geral, apresenta à cabeça a marca de ser "filho de trabalhadores naturais do concelho de Beja". Paulo Raimundo nasceu em Cascais, mas foi viver para Setúbal a partir dos três anos, "onde os pais se fixaram e trabalharam".
"Frequentou a Escola Primária do Faralhão, freguesia do Sado, em Setúbal, uma escola construída durante a Revolução de Abril, na dinâmica do trabalho solidário e voluntário dos trabalhadores e populações da localidade", e teve, diz o PCP, uma "infância marcada pela vivência de rua e junto ao rio Sado", tendo até estado na "apanha do marisco", ajudando a mãe.
O percurso escolar, todo realizado em Setúbal, é resumido assim: "Frequentou a telescola no 5.º e 6.º anos e a partir daí frequentou a Escola Ana de Castro Osório, na Bela Vista, em Setúbal, onde fez o 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade e teve o primeiro contacto com dinâmicas associativas, de organização e de luta estudantis. Mais tarde ingressou no 10.º ano na Escola Secundária da Bela Vista, num período em que a dinâmica estudantil em diferentes expressões é muito viva e a luta política é intensa. Participou em listas para a Associação de Estudantes, integrou a Associação de Estudantes e também a comissão de finalistas dessa escola. Passou à condição de trabalhador-estudante e acabou o seu percurso escolar finalizando o 12.º ano, a estudar à noite, na Escola Secundária D. Manuel Martins, também em Setúbal."
No perfil são sublinhadas "as realidades que lhe permitiram sentir as contradições do dia a dia, a realidade do trabalho mal pago, da exploração e da precariedade" enquanto "trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade (ACM) na Bela Vista".
Paulo Raimundo, hoje com 46 anos, "aderiu à Juventude Comunista Portuguesa em 1991 [...] é membro do Partido desde 1994 e funcionário desde 2004 [...] Em 1996, no XV Congresso do PCP, foi eleito membro do Comité Central. No âmbito do XVI Congresso, em 2000, foi eleito para a Comissão Política do Comité Central do PCP".
Mas recentemente, "na realização do XX Congresso, foi eleito para o Secretariado do Comité Central" e "durante o XXI Congresso foi eleito para a Comissão Política e o Secretariado do Comité Central".
Ou seja, há 31 anos que desempenha funções no PCP.
Jerónimo de Sousa, 75 anos, abandona a liderança do partido após perto de 18 anos no cargo. É atualmente, no Parlamento, o único deputado que fez parte da Assembleia Constituinte de 1975.
artur.cassiano@dn.pt
atualizado às 22.30