Partidos indignados com declarações de Marcelo sobre número de abusos sexuais na Igreja

Da esquerda à direita, a classe política reagiu com indignação ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa não ter considerado "particularmente elevado" o número de 424 testemunhos que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu.

As declarações proferidas esta terça-feira por Marcelo Rebelo de Sousa, que disse não considerou "particularmente elevado" o número de 424 testemunhos que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu, estão a gerar indignação nas redes sociais e entre a classe política.

Pedro Filipe Soares, deputado do Bloco de Esquerda, disse que a posição do Presidente da República "é um insulto às mais de 400 vítimas".

Já o ex-deputado bloquista Moisés Ferreira disse que "a subserviência de Marcelo à cúpula da Igreja católica não pode ser a subserviência da República". "400 casos de abuso sexual são 400 casos a mais. Um Estado de Direito deve proteger estas vítimas e fazer-lhes justiça. Nunca apouca-las", escreveu no Twitter.

No outro extremo da Assembleia da República, André Ventura referiu-se às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa como "infelizes". "Uma vítima de abusos sexuais, mesmo que fosse só uma, já seria muito grave. O país deve pedir desculpa às vítimas - e o Presidente também - e não menorizar o seu sofrimento!", tweetou o líder do Chega.

Também à direita, a Iniciativa Liberal diz lamentar "profundamente o comportamento do Presidente da República no caso dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja". "O Presidente mostra estar mais preocupado em ilibar e relativizar a gravidade do comportamento de vários elementos da Igreja Católica do que com as vítimas dos atos hediondos. Marcelo Rebelo de Sousa deve um pedido de desculpas às vítimas e ao país", escreveram os liberais no Facebook.

Um dos deputados da IL, Carlos Guimarães Pinto, também se manifestou no Twitter. "O Presidente da República deve um pedido de desculpas ao país e às vítimas pelas declarações infelizes. E nem vale a pena discutir se o número está subestimado porque muitas queixas ficam por fazer. Mesmo que não estivesse, as declarações são inaceitáveis", afirmou.

Também através do Twitter a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, afirmou que "um caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!".

"É incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores na igreja por parte do Presidente da República e inaceitável o contacto que fez ao bispo José Ornelas sobre a denúncia", criticou.

Pelo Livre, Rui Tavares dirigiu-se diretamente a Marcelo: "Senhor Presidente, imagine todo o sofrimento e coragem que foi preciso para que 400 pessoas partilhassem as histórias de abusos que guardaram durante anos. As suas declarações podem ter por consequência minimizar esse sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar".

A deputada do PS Isabel Moreira também apelidou de "inaceitável" esta posição de Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionado pelos jornalistas sobre este número de testemunhos hoje divulgado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, o Presidente da República respondeu: "Não me surpreende".

O chefe de Estado disse que tem a acompanhado o trabalho desta comissão e salientou que "não há limite de tempo para estas queixas" que têm estado a ser recolhidas, algumas "de pessoas com 90 anos, 80 anos e que fazem denúncias relativamente ao que sofreram há 60 ou há 70 ou há 80 anos".

"Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares", acrescentou o Presidente da República, concluindo: "Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos".

Segundo Pedro Strecht, coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, houve até agora "424 testemunhos recolhidos", mas "o número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa".

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