"Para não ter esta governação socialista, têm de votar PSD. Não há segunda escolha nem geringonça" 

Vice-presidente social-democrata explica projeto do partido que acredita ser alternativa a um governo de Costa e de um PS esgotado e degradado. Para Leitão Amaro, carga fiscal é prioridade, mas também os serviços públicos. E acredita que Montenegro será o próximo primeiro-ministro, "quando Marcelo convocar eleições".

Foi deputado e secretário de Estado da Administração Local, o governante mais próximo dos autarcas. É presidente da Assembleia Municipal de Tondela e vice-presidente do PSD, e é uma das vozes que se fará ouvir hoje, no terceiro Encontro Nacional de Autarcas do PSD, onde também vai estar Aníbal Cavaco Silva, que fecha os trabalhos.

A base eleitoral do PSD partiu sempre das autarquias e do poder local. O encontro deste sábado é uma afirmação de força autárquica ou apenas um momento bem pensado de oposição para o qual foi convocado Cavaco Silva?
É um momento de construção de alternativa. A parte em que o PSD ouve, envolve, discute e constrói políticas públicas capazes de transformar o país e oferecer uma governação decente a Portugal faz-se neste espírito, com todos os intervenientes e até com capacidade de envolver antigas figuras que muito nos honram no PSD, como o antigo primeiro-ministro, antigo Presidente da República e antigo presidente do PSD, Cavaco Silva, além de autarcas de várias sensibilidades, e não apenas eleitos pelo PSD.

Mas quando Cavaco Silva fala, o país escuta e os políticos, sobretudo os de esquerda, reagem. Cavaco é uma espécie de arma secreta no encontro para provocar danos?
O professor Cavaco Silva é, por muito mérito próprio, das vozes mais ouvidas em Portugal. É o político que em democracia mais votos recebeu do povo, sucessivamente, incomparavelmente mais do que todos os outros. Mas foi sobretudo o primeiro-ministro que liderou o governo que mais transformou o país, que maior prosperidade, transformação e construção do Estado Social conseguiu. Tem o mérito de um percurso e de uma vida feita não só de resultados eleitorais, mas sobretudo de transformação no país. No PSD temos seguramente muito orgulho em toda a sua história e todos os seus líderes. Nem todos os partidos - a começar por aquele com o qual mais nos confrontamos como alternativa no país - podem dizer a mesma coisa. No PSD temos. E nesta direção temos procurado também no plano interno construir um partido único, no sentido de ser com pluralidade, um partido que teve Luís Marques Mendes no Congresso, Pedro Passos Coelho no Pontal, Manuela Ferreira Leite numa conferência sobre o papel e o envolvimento das mulheres na sociedade portuguesa, Francisco Pinto Balsemão no aniversário... Estamos a construir um partido uno, unido e plural. Cavaco é uma grande referência da construção do Portugal democrático e é um grande orgulho tê-lo connosco.

Diz que não será apenas o PSD a estar representado, quem é que estará mais nesse encontro? Há uma aproximação a outros partidos, até para futuras soluções de governação?
Não, não, estava a falar de um painel de intervenientes que inclui por exemplo o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Este processo de construção faz-se muito da capacidade dos quadros de produzir e de gerar ideias e de ir ouvindo, tendo momentos de contacto com outros. Um partido que se abre à sociedade, ouve, interage, às vezes envolve, noutras vezes é o contexto de uma conversa; e é isto que fazemos, com pessoas que têm lideranças marcantes no seu território.

Ainda assim, o PSD não consegue descolar das sondagens. O que é que se passa com a alternativa? O país não acredita que o PSD possa vir a ser uma solução sozinho?
Em primeiro lugar, o país hoje não tem dúvidas de que há duas alternativas, duas possibilidades de governo - há um ano e tal, até isso era colocado em causa e hoje ninguém coloca, é o PS ou o PSD. Em algumas dessas sondagens, se nos governássemos apenas por isso, o PSD está a ultrapassar o PS, o que é coisa muito rara num governo que teve a maioria absoluta há um ano.

Mas vai no 8.º ano de governação.

​​​​​Que vem de oito anos de governação e conseguiu um apoio tão expressivo quanto uma maioria absoluta. Portanto, há um caminho que temos de fazer com consistência. A trajetória tem sido de crescimento. E no momento em que o Presidente da República decida convocar eleições - decida, no sentido de utilizar os seus poderes constitucionais -, há primeiro uma resposta do PSD e uma demonstração da sua alternativa, que vamos construindo e mostrando aos portugueses. E podemos falar sobre isso, áreas onde temos mostrado o que faríamos de diferente, onde e como... mas há também um efeito imediato do chamado voto útil, de quais são os partidos verdadeiramente capazes de governar. E, como disse, acho que hoje é claro que só há dois partidos que podem governar e aspirar a vencer. Acho que já estamos fartos de socialismo e que os portugueses - que trabalham, que se esforçam, que são decentes - hoje olham para a forma como estamos a ser governados e dizem "o que é isto?", "que degradação de instituições é esta?", "como é que estas pessoas que nos estão a governar, este PS, esta cúpula, trata do nosso dinheiro?". E têm ao lado um partido que na sua história mostrou que governa de uma maneira muito diferente dessa.

Acredita que Marcelo Rebelo de Sousa deitará o governo abaixo e não que haverá eleições só no final da legislatura?
Não, eu usei a expressão "quando Marcelo Rebelo de Sousa convocar as eleições".

Mas não acredita que elas serão convocadas apenas no final da legislatura - nessa altura Marcelo Rebelo de Sousa já não será o Presidente da República...
Não faço futurologia, mas digo uma coisa aos portugueses: estamos preparadíssimos para governar quando o Presidente da República escolher fazer eleições.

Dizer que o PSD está preparado para eleições é uma formulação vazia. Os partidos, sobretudo os que têm vocação e tradição de poder, têm de estar sempre prontos para ir a eleições.
Posso tentar explicar aos portugueses as razões pelas quais estamos preparados.

Mas é preciso dizer? Não é suposto estarem preparados?
Seguramente, mas está a perguntar se estamos ou se não estamos...

A minha pergunta é se é preciso fazer essa proclamação. Não é suposto estarem prontos?

É bom, e é suposto, e estamos preparados, mas o mais importante é estarmos preparados para fazer melhor. E é também isso que gostava de explicar porquê. Para não nos alongarmos e irmos a muitas coisas, há três diferenças fundamentais. Primeiro, um governo socialista, em particular um liderado por António Costa - embora não haja grande diferença face a José Sócrates - significa uma governação sem decência institucional e que está a arrasar a credibilidade das instituições. Nada desta podridão governativa, deste desrespeito do Estado de Direito, aconteceu ou acontecerá connosco. Em segundo lugar, o Estado Social está em falência: José Sócrates deixou o país, o Estado português, em falência financeira e económica, António Costa está a deixar o Estado em falência operacional. Os portugueses pagam impostos maiores do que alguma vez pagaram e recebem os piores serviços que alguma vez receberam. E nós temos experiência em salvar o Estado, mas temos um programa - falo da habitação, da educação, da saúde, em que podemos desenvolver ideias...

Há um projeto alternativo.
As nossas medidas são conhecidas, para dar médicos de família a todos os portugueses, designadamente contratualizando com IPSS; também na educação, com um reforço da autoridade, da credibilidade dos docentes e da avaliação dos alunos. E na habitação, em vez de ter este programa radical e que não funciona do PS, um choque de ofertas, estimulado por tantas coisas quanto uma redução de custos fiscais, uma redução da burocracia, apoios às famílias que têm créditos à habitação... não é aquela pequena cosmética, é um instrumento que lhes permita deferir para o final do crédito à habitação com um apoio público, de alguma forma congelando as prestações, tudo isto com o objetivo de os portugueses poderem voltar a ter casas que possam pagar. Sobretudo os jovens, que estão a emigrar de uma forma incrível.

E a terceira dimensão?
É o empobrecimento em que o PS está a cair e para onde está a levar o país. É um empobrecimento real, porque as pessoas estão a perder rendimento real - o que está a acontecer aos salários da classe média é gritante -, mas também o empobrecimento face aos outros países da União Europeia com os quais competimos, e é isso que nos preocupa mais, aqueles que estão à nossa volta em condições parecidas e o facto de estarmos a perder para eles. E isso faz-se com uma mudança de agulha nas políticas públicas, não é apenas este intervencionismo dirigista de apropriar-se do Estado para intervir em todas as áreas, incluindo na economia, em que o PS cai, fazendo do PRR quase um instrumento de campanha partidária, mas antes ser capaz de libertar o potencial de investimento e de competitividade da economia nacional. Isso passa designadamente por não passar mensagens como esta a propósito da habitação, contra o alojamento local e com o rasgar de contratos retroativamente. Portanto, é toda uma maneira diferente, uma aposta no investimento, nas exportações, que tiveram o maior salto numa governação do PSD, na qual vários de nós participámos.

Com tudo o que acabou de dizer, e disse também já Luís Montenegro e outros vice-presidentes do PSD, insisto: porque é que o PSD não exige eleições antecipadas?
Neste momento, podemos escolher uma de duas mensagens a transmitir aos portugueses. Podíamos escolher transmitir uma mensagem que podia ser lida por muitos como "estes senhores querem é poder", porque é isso que estão a ver com António Costa - o encobrimento da verdade, a eliminação da responsabilidade política, uma sucessão de mentiras para tapar outras mentiras, o aproveitamento de ministros até estarem politicamente completamente incapazes e debilitados, mas que António Costa aguenta para ir resistindo e põe-nos um bocadinho como para-raios, para sempre manter o poder. Mas a mensagem que queremos transmitir aos portugueses é que nós não somos um partido sôfrego, não somos um partido cuja razão de existência é o controlo do poder e o ganhar eleições a todo o custo. A nossa mensagem é diferente e o que o país precisa agora é desta governação diferente. Portanto, podíamos ir repetindo todos os dias que é preciso eleição e era absolutamente espúrio porque no Parlamento, que é o instrumento que os partidos têm, o PS tem maioria absoluta e a alternativa é o Presidente decidir - e já estabeleceu as condições. A mensagem prioritária que nós queremos não é uma sofreguidão pelo poder, é dizer assim: isto ultrapassou os limites do aceitável, há um partido que governava isto de maneira diferente, que respeitava o vosso esforço, que governava de uma forma decente, onde haveria responsabilidade política e o Estado seria de todos, e não do PS, e o Estado Social seria defendido, e não esmagado como está a ser, com o país a empobrecer e as pessoas a sofrer.

Diz que existem só duas soluções de governo, com PS e com PSD. O PS liderou seis anos apoiado numa geringonça de extrema-esquerda e não saímos da Europa, apesar de serem partidos de caráter antieuropeísta, não houve nacionalizações em barda - salvo a TAP. ..
E já não foi pouco...

Mas não se nacionalizou a economia, apesar de serem partidos contra a iniciativa privada, e o país não saiu do euro. O governo dos Açores nasceu em cima de uma geringonça à direita, sem derivas radicais ou xenofobia. Se chegar a hora, é possível o PSD contar, para garantir a alternativa de governo, com apoio parlamentar do Chega?
O presidente do partido já respondeu isso. Não governaremos em formulações de geringonça, governamos ganhando eleições. Em segundo lugar, governamos e só governaremos em condições de substância, com uma plataforma política - seja de apoio parlamentar seja de apoio governamental - em que haja um espírito reformista, moderado, tolerante, construtivo, sem espaço não apenas para xenofobias, racismos, populismos, mas também imaturidades e incapacidade de estar preparado. Nós queremos transformar o país, não queremos, à PS, chegar ao governo. Vimos para transformar este país num país que volte a ser aquele em que os portugueses se entusiasmam, onde não haja esta trágica sangria de jovens, sobretudo qualificados. O que está a acontecer é que um jovem recebe menos de 850 euros, não dá para viver em nenhuma das grandes cidades, e por isso é a geração que mais tarde sai de casa dos pais e tantos emigram. O saldo ou a dimensão da população portuguesa vai-se mantendo por causa da imigração, mas é uma imigração que em termos de saldo de qualificações está a ser, na perspetiva do longo prazo para o país, um resultado preocupante. Nós estamos a gastar muitas centenas de milhares de euros a formar jovens para depois não os aproveitar no reforço da competitividade da economia portuguesa.

E o PSD quer transformar isso.
Durante muito tempo, o grande foco era a dimensão do empobrecimento e salvar o Estado da falência, mas juntou-se este terceiro triângulo: é preciso resgatar a decência e a credibilidade das instituições, a saúde e a qualidade da democracia portuguesa e do Estado de Direito. Hoje estamos a ter, aos olhos de todos, a demonstração disso a propósito do caso TAP, mas vários destes comportamentos são recalcitrantes, repetidos. É o modo de governação socialista, com a primeira e principal responsabilidade de António Costa.

Mas, insisto, e se a alternativa for uma nova geringonça à esquerda e o PSD sozinho não conseguir segurar a governação alternativa?
Não o vamos fazer, o presidente do partido já o disse.

É preferível ter um novo governo de esquerda?
Repare, não é uma questão de ser preferível, são os eleitores que vão escolher.

Precisamente. E o terceiro partido mais votado é o Chega.
E os eleitores sabem que o presidente do PSD, que acredito que vai ser o próximo primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem as suas condições de governação. Os portugueses têm que escolher votar para não ter mais António Costa, para não termos mais uma governação com esta podridão institucional, este empobrecimento coletivo e esta falência do Estado Social. E já agora, toda a linha seguinte à volta de António Costa participa nos mesmos erros, nas mesmas falhas, envolveram-se todos eles no mesmo encobrimento e mentiras. Veja como toda a cúpula socialista, ao longo destes últimos meses, uns após outros, demonstrou o mesmo tique. Por uma razão: foi uma cultura que se instalou - primeiro na governação de Sócrates, teve uma pequena pausa quando o PSD esteve no governo, mas agora voltou. Para os portugueses não terem esta governação socialista, têm de votar no PSD, não há segundas e terceiras escolhas, é no PSD e não há essa solução da geringonça, o presidente do partido já disse que governa se ganhar.

Mas o PSD não deve e não pode ser indiferente à mudança da geografia política nos últimos anos: há dois novos partidos à direita, Chega e IL, que estão num crescimento exponencial e tiraram eleitorado ao PSD, que repartiram o eleitorado de direita. A direita que durante 47 anos foi PSD e CDS já não existe: o CDS desapareceu e há dois partidos novos que juntos terão mais de 20%. Como é que se governa sozinho, sem fazer cedências ou acordos de governação e sem uma maioria sólida?
Em primeiro lugar, vai governar porque os resultados de sondagens que cita hoje não são os resultados nas urnas quando as eleições acontecerem. Em segundo lugar, a governação em maioria relativa também é uma possibilidade - aliás, mais frequente em democracia portuguesa do que formulação da geringonça. A geringonça foi uma novidade. A governação em maioria relativas é comum, por exemplo, a de Aníbal Cavaco Silva abriu portas a um processo de grande transformação da sociedade portuguesa. Portanto, estamos muito tranquilos com isso, os portugueses sabem ao que vimos. Não sabem é ao que é que o PS vem. Vai voltar a unir-se a um partido que teve uma cumplicidade inaceitável com a Rússia? Está disponível para fazer e continuar a fazer uma espécie de aliança tática e tácita com o Chega num interesse, num jogo, numa dança que serve os dois? Eu sei porque é que as pessoas não perguntam tanto isso ao PS: é porque já ninguém acredita que António Costa ganhe e nem que o PS ganhe as próximas eleições. Mas, já agora, valia a pena perguntar.

E o PSD consideraria fazer algum tipo de acordo com o PS se houvesse um grande crescimento do Chega, por exemplo, que não permitisse uma governação sem sobressaltos? Numa era pós-António Costa, evidentemente... ou as posições estão demasiado extremadas para se falar em acordos de bloco central? Aqueles que se diz serem imprescindíveis para garantir a estabilidade que permitisse introduzir as reformas que precisam de acordo mais alargado?
Com uma pequena exceção, o país não teve blocos centrais desde 1980...

Mas grandes transformações que existiram partiram de acordos, ainda que não de governação, entre PS e PSD. A reforma da justiça, por exemplo.
A resposta à sua pergunta é não.

Não há hipótese nenhuma?

​​​​​Entre o PSD e este PS, que é um longo PS, que é o PS que existe, não vale a pena estarmos aqui a apontar cenários, porque a sucessão é igual a esta prática política, a esta cultura política, e, portanto, mesmo que se mude António Costa, os potenciais sucessores vão na mesma linha. PSD e PS representam duas maneiras de estar num governo: nós, responsabilidade e decência na política, o PS, encobrimento da mentira, das falhas de Estado, cultura de irresponsabilidade, que multiplica e faz crescer como cogumelos estes comportamentos de indecência democrática e de violação do Estado de Direito. Aliás, aquilo que se passa com qualquer que seja a formulação, com a intervenção do SIS, agravada com umas expressões da chefe de gabinete do ministro que sugerem que havia orientações ou alguma orientação genérica, faz-nos pensar em que tipo de Estados é que a Polícia Secreta está ao serviço da ação do governo? Com ilegalidade, muito provavelmente, mas com uma perigosidade para a saúde da democracia, em que tipo de Estados é que isso acontece?

Não são Estados democráticos, são regimes mais com linhas autoritárias. A gravidade desta situação marca a nossa diferença. Este é só um exemplo, mas esta opção de fazer falir o Estado social à custa de uma narrativa em que se matou o investimento público, se deixou decapitar, se introduziu incompetência, se mataram melhores exemplos como as PPP na saúde, que funcionavam bem e custavam menos. E, por último, a tal estratégia económica, fingida e tapada durante um tempo porque o ciclo económico internacional era favorável e havia reformas que vinham de trás, que estavam a gerar efeitos - o grande salto nas exportações ocorreu no período e por causa das escolhas de abertura da economia nacional que o PSD e o governo do PSD promoveu... Mas voltando à qualidade das instituições e à defesa das autoridades independentes, a uma justiça que funciona. A mera ideia de que processos que tocam poderosos económicos, políticos, mediáticos - que começaram a ser investigados não com num governo socialista - possam não chegar ao fim, incluindo porque houve decisões políticas que ficaram na gaveta, é uma ideia sinistra. E ela está à vista de acontecer com o PS. E connosco isto não acontecia. Portanto, há dois mundos e a resposta é esta, é simples: PSD e PS são mesmo diferentes e não há casamento possível para a formação de um governo.

O que é que seria um bom resultado para o PSD nas próximas europeias? Ganhar, naturalmente, mas um resultado que deixasse confortável a liderança, os militantes e o partido confiante para as próximas eleições?
Há muitas combinações possíveis de resultados e a mim cabe-me dizer aos militantes, mas sobretudo aos portugueses, que o PSD é um partido que cá está para ganhar e com a ambição de ganhar. E sim, a nossa obrigação é ganhar as eleições europeias.

E se for por poucochinho?
Chegamos às tais tentativas de a seguir começar a fazer muitas qualificações... acho que não é preciso dizer mais do que isso. O presidente do partido, com todo o desassombro, disse, "sinto que tenho de ganhar as eleições; faço a avaliação e não me escondo". O tempo de pessoas que estão agarradas ao poder, que acham que nasceram para ter um lugar, para ter poder, para estar próximo dos círculos de influência, este não é o tempo desta geração no PSD. E já agora, não era da anterior liderança, não era dos tempos transformadores de Cavaco Silva. O nosso projeto é dar prosperidade, crescimento, integração, solidariedade social e que as pessoas nasçam num país e cresçam num país onde sabem que o seu projeto de vida pode ser realizado e que podem deixar ao país e aos seus filhos uma condição de vida melhor. Isso, esse elevador social, o crescimento da riqueza coletiva e individual, a proteção da propriedade e do património, isso tudo está em risco hoje. E nós cá estamos para voltar a dar aos portugueses esse sonho e essa aspiração de viver como os melhores da Europa.

Mas admite que - já o admitiu e o presidente do partido também -, se este resultado nas eleições europeias não for robusto, pode pôr em causa não só a atual liderança, como todos esses objetivos que acaba de enumerar. Se os portugueses não derem confiança suficiente ao PSD daqui a ano e pouco nas urnas, se calhar tudo isso que têm dito ao longo desta entrevista fica em causa para esta direção, ou não?
E se os portugueses apoiarem esta nossa mensagem, se nós formos competentes, porque a responsabilidade de não ter o apoio suficiente popular é sempre dos próprios. O presidente do partido, Luís Montenegro, disse isso no Congresso. Não podemos olhar para trás e para os resultados menos bons e dizer que a culpa é dos portugueses, que não perceberam. Se assim foi, é porque não fomos competentes o suficiente. Houve um treinador do Sporting a quem perguntaram numa jogada de risco: "E se isto correr mal?" E ele respondeu: "E se isto correr bem?"

Acho mesmo, e digo isso aos portugueses, que há aqui uma oportunidade, um espaço, um líder, que é Luís Montenegro e a sua equipa, com a renovação que traz. Há hipótese de podermos viver num país - e orgulhamo-nos de Portugal, mesmo num momento de dificuldade, com certeza -, mas onde podemos sonhar, em que se vai crescer mais, em que trabalhar tem a sua recompensa, em que coletivamente somos fortes o suficiente para não desamparar aqueles que tropeçaram, se se está doente há um sistema de saúde que funciona em complementaridade. É mais uma diferença que temos do PS, aquela rejeição cega, ideológica da complementaridade de oferta de saúde pública privada e social - nós queremos é que as pessoas sejam tratadas em tempo e em qualidade, não que fiquem presas à cegueira ideológica.

Quando as pessoas querem apanhar um comboio, não estão a olhar para ver se o comboio diz se é público, se é privado, querem é saber se o comboio passa e se vem a horas. Se chegam a um hospital doentes, não querem saber se o médico é público ou privado - já agora, todos os médicos que tratam, todos os enfermeiros, são pessoas privadas, singulares, não é? Podem estar ao serviço de uma entidade que pode estar organizada sob a forma pública, mas não é isso que conta. O PSD, e este PSD é profundamente defensor da importância da escola pública e do Serviço Nacional de Saúde - e queremos salvá-lo, salvá-lo porque quem está a sofrer são aqueles que não têm dinheiro para contratar o seguro de saúde, que ainda são seis milhões. Queremos ajudar quem não tem dinheiro para pagar um colégio privado e estão sem vagas porque toda a sua oferta está esgotada, ou não pode pagar explicações no privado. São esses portugueses que estão a sofrer porque não há ou está a degradar-se a oferta pública de saúde e de educação, entre outras que precisam também da nova esperança que o PSD vai trazer.

O governo tem-se vangloriado dos bons resultados da economia, mas as famílias não estão a sentir esses bons resultados. Já aqui focou a falta de investimento, mesmo o PRR está a custar a chegar ao terreno, há maus sinais a acumular-se no desemprego, falências, o crescimento sobretudo suportado no turismo e na inflação, à boleia da carga fiscal. O PSD tem reagido a estes números, mas não tem marcada a agenda. Quais são as prioridades concretas que o PSD atacaria de imediato?
A primeira é que é preciso dar um reforço e um incentivo ao trabalho, e isso faz-se em primeira linha com uma redução do IRS. E, portanto, a prioridade fiscal é a redução do IRS e dentro da redução do IRS, um estímulo extraordinário aos jovens. O PSD propôs que todas (tirando o último escalão) as taxas de IRS sejam cortadas para um terço. Tirarmos dois terços de carga fiscal sobre os jovens até aos 35 anos. E não é só temporariamente, não são coisas assim, pequenos descontinhos, porque nós precisamos mesmo de manter esta geração. Já agora, tomámos no nosso pacote de habitação a medida a que chamamos de casas para quem não tem pais ricos, porque pomos o Estado a desonerar o pagamento de IMT e de imposto de selo, que liberta uma entrada e o Estado, através de uma garantia pública, viabiliza o financiamento e portanto liberta os jovens da tal segunda entrada ao banco. Portanto, em primeiro lugar, a redução de carga fiscal, iniciada no IRS, depois gradualmente no IRC. Portanto, o domínio de fiscalidade fundamental.

Reduzindo a taxa ou retirando todas as derramas e complementos que fazem subir a taxa real?
O nosso caminho, que era bastante estabilizado e chegou a ser acordado com o PS de António José Seguro, mas foi rasgado pelo PS de António Costa, privilegiava uma redução da taxa do IRC. As derramas seriam para retirar, mas numa fase posterior.

E no IVA não considera que é importante mexer, tendo em conta que, por exemplo em Espanha, não há nenhum produto alimentar acima da taxa intermédia, que é uma coisa que em Portugal existe e que penaliza brutalmente não só o consumo, como também a indústria?
Essa discussão foi feita em Portugal a dada altura e a conclusão é que a viabilidade da mexida implicaria uma correção na taxa máxima. E, portanto, na ótica do PSD, essa não é a prioridade que temos pela frente. A prioridade que temos pela frente é, claramente, desagravar a fiscalidade sobre o rendimento do trabalho, em particular do trabalho, porque nem todo o rendimento é tributado à mesma taxa. E há, aliás, outro tipo de rendimento que até tem tributação mais vantajosa do que o trabalho, mas é no trabalho que temos de concentrar o esforço fiscal. E, em segunda linha, aliviar a tributação das empresas e do investimento. Há um terceiro caminho, onde há um bom trabalho a fazer, que é o da eliminação da chamada despesa fiscal. Há muito benefício fiscal que devia ser reduzido, alargando a base fiscal. Esta é uma das formas de viabilizar estas reformas e este alívio das taxas. É alargando a base. Pagando todos, todos pagam menos - ou quase todos pagam menos, exceto aqueles que estavam isentos.

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