“O Pedro foi um exemplo para todos nós”
Leonardo Negrão Global Imagens

“O Pedro foi um exemplo para todos nós”

Pedro Cruz morreu este domingo aos 53 anos vítima de doença prolongada. Quem o conhece sabe que até ao fim acreditou que venceria o tumor que o atacou. Lutou. Sempre. Mas não foi possível. Ficam “as memórias” e “a saudade” do “amigo”, do “camarada”, do jornalista que “fazia tudo”.
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A voz era inconfundível, fosse na Rádio ou na Televisão. E o mesmo aconteceu com a escrita nos jornais. Da notícia à reportagem ou ao comentário político. Pedro Cruz, ou para muitos só o Pedro, começou cedo a deixar a sua marca. Sabia o que queria e o que queria fazer no jornalismo, profissão que, diz quem o conhece, escolheu logo aos 11 anos.

Por isso, foi daqueles jornalistas que fez de tudo. Ainda há bem pouco tempo, em fevereiro de 2022, quando foi dos primeiros repórteres portugueses a chegar à Ucrânia para relatar a guerra. “Podia ter ficado no sossego da Redação, era Diretor Executivo", mas escolheu ir, ser simplesmente jornalista, "e fez de tudo durante dois meses. Escreveu textos para o DN, para o site da TSF, fez várias reportagens por dia para a rádio, alguns diretos, fotografou, filmou, fez trabalho para o Tik Tok. Foi polivalente e um exemplo para todos nós”, conta Ricardo Alexandre, diretor-adjunto da TSF, que ao microfone assume ainda lhe custar “falar no passado”. Porque, acima de tudo, perdeu “um amigo” e “um camarada”.

Pedro Cruz tinha 53 anos morreu ontem quando estava internado no Hospital CUF Tejo, em Lisboa, vítima de um tumor no pulmão. Formou-se na Escola Superior de Jornalismo do Porto e aos 21 anos começou a trabalhar em várias rádios locais. Passou pelo Diário de Notícias, como estagiário, e depois pela rádio TSF, mas, em 1998, decidiu abraçar um outro projeto, para fazer televisão.

Ingressou na SIC cobriu a área política, no dia a dia, nas campanhas e em outros ambientes de reportagem. “Foi um repórter extraordinário. Seguríssimo a fazer diretos, muito assertivo e incisivo a questionar os dirigentes políticos e muito eficaz no terreno, durante as campanhas e nos congressos”, recorda Ricardo Alexandre.

Nesta estação de televisão, ficou até setembro de 2021, foi jornalista e subdiretor de Informação, mas volta a mudar o rumo, para regressar à rádio e à Redação da TSF, onde foi diretor executivo até setembro de 2023. No DN, passou a assinar uma crónica semanal, que manteve até há poucos dias, tendo o seu último texto sido publicado a 16 de abril e no qual questionava: “Para onde corre Passos Coelho?”.

Mas na Global Media Group desempenhou ainda o cargo de diretor de inovação, deixou a direção da TSF em setembro de 2023, mas não deixou o comentário político, passando a fazê-lo numa outra estação de televisão, a CNN. A paixão pelo jornalismo fê-lo passar também pelo ensino e pela Universidade Católica de Braga, onde foi professor.

Do jornalista Pedro Cruz, Ricardo Alexandre diz ainda que tinha “muita sensibilidade para os ambientes de reportagem”, como o demonstrou no Kosovo, mais um cenário de guerra onde se encontraram.

Do amigo, recorda que se conheciam há muitos anos e que a relação de ambos foi crescendo ao longo dos tempos, fortalecendo-se ainda mais.

Nos últimos tempos, “almoçávamos muitas vezes. Ia acompanhando o evoluir da doença. Ele fazia questão de contar passo a passo o que estava a fazer e as terapias novas que estava a experimentar. Até ao fim, senti nele muita esperança, de que iria conseguir resistir. Infelizmente não conseguiu, mas ficam a saudade, a memória e a amizade para sempre”.

Nota de Pesar do Global Media Group

A Global Media Group deixou esta tarde uma nota de pesar sobre a morte do jornalista Pedro Cruz, referindo que o "seu desaparecimento é uma perda para o jornalismo e para toda a sociedade civil."

"A notícia do falecimento do jornalista Pedro Cruz deixou, em todos os que o conheciam, um sentimento de profunda tristeza e saudade. Gozava de uma admiração generalizada, tanto no âmbito profissional como pessoal; o seu desaparecimento é uma perda para o jornalismo e para toda a sociedade civil.  O percurso de Pedro Cruz atesta que a sua abnegada dedicação ao jornalismo era vivida com sentido de missão e elevada qualidade profissional. Passou por vários órgãos de comunicação social, trabalhando na imprensa escrita, na rádio e na televisão. Foi repórter em diversas situações de conflito bélico e de tensões internacionais. Tinha especial empenho em transmitir o seu saber, sobretudo no ensino universitário, a estudantes de comunicação e jornalismo. No Global Media Group trabalhou no Diário de Notícias e na TSF, onde foi diretor-executivo. Para além de ser reconhecido como um excelente profissional, os colegas guardam dele a memória de uma pessoa íntegra, leal e afável, era corajoso e empenhado para que todos tivessem condições dignas, prestável para ajudar e disponível para partilhar a sua experiência. Segundo o testemunho de um dos diretores da empresa, Pedro Cruz era “um jornalista apaixonado e inteligente, dos melhores com que me cruzei nesta casa”. Pedro Cruz viveu a sua profissão como serviço para uma sociedade informada, livre, democrática e justa. Em nome de todos os trabalhadores do Global Media Group, a Administração presta pública homenagem ao jornalista Pedro Cruz, agradece o seu contributo às empresas e títulos deste Grupo e reconhece o legado que deixou ao jornalismo em Portugal. À família e aos amigos em luto, apresentamos sentidas condolências", lê-se na nota.

Primeiro-ministro considera que jornalismo perde uma referência

O primeiro-ministro reagiu à morte de Pedro Cruz realçando, numa mensagem publicada numa rede social, considerando que "o jornalismo português perde uma das suas referências".

Na curta mensagem, Luís Montenegro expressa "sentimentos aos familiares, amigos e colegas de profissão" de Pedro Cruz, que morreu este domingo, aos 53 anos. 

Marcelo evoca uma referência do jornalismo que "elevou a classe"

O Presidente da República lamentou este domingo a morte do jornalista Pedro Cruz, aos 53 anos, considerando que foi uma referência e "elevou a classe" ao longo da sua vida profissional.

Numa nota oficial, Marcelo Rebelo de Sousa "lamenta a morte de Pedro Cruz, amigo e jornalista de referência que tanto elevou a classe ao longo da sua vida profissional, e apresenta à sua família, nesta hora tão difícil, as mais sentidas condolências".

"Não podendo estar presente amanhã no funeral, o Presidente da República será representado pelo Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim", refere ainda a nota do palácio de Belém.

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