A voz era inconfundível, fosse na Rádio ou na Televisão. E o mesmo aconteceu com a escrita nos jornais. Da notícia à reportagem ou ao comentário político. Pedro Cruz, ou para muitos só o Pedro, começou cedo a deixar a sua marca. Sabia o que queria e o que queria fazer no jornalismo, profissão que, diz quem o conhece, escolheu logo aos 11 anos..Por isso, foi daqueles jornalistas que fez de tudo. Ainda há bem pouco tempo, em fevereiro de 2022, quando foi dos primeiros repórteres portugueses a chegar à Ucrânia para relatar a guerra. “Podia ter ficado no sossego da Redação, era Diretor Executivo", mas escolheu ir, ser simplesmente jornalista, "e fez de tudo durante dois meses. Escreveu textos para o DN, para o site da TSF, fez várias reportagens por dia para a rádio, alguns diretos, fotografou, filmou, fez trabalho para o Tik Tok. Foi polivalente e um exemplo para todos nós”, conta Ricardo Alexandre, diretor-adjunto da TSF, que ao microfone assume ainda lhe custar “falar no passado”. Porque, acima de tudo, perdeu “um amigo” e “um camarada”..Pedro Cruz tinha 53 anos morreu ontem quando estava internado no Hospital CUF Tejo, em Lisboa, vítima de um tumor no pulmão. Formou-se na Escola Superior de Jornalismo do Porto e aos 21 anos começou a trabalhar em várias rádios locais. Passou pelo Diário de Notícias, como estagiário, e depois pela rádio TSF, mas, em 1998, decidiu abraçar um outro projeto, para fazer televisão. .Ingressou na SIC cobriu a área política, no dia a dia, nas campanhas e em outros ambientes de reportagem. “Foi um repórter extraordinário. Seguríssimo a fazer diretos, muito assertivo e incisivo a questionar os dirigentes políticos e muito eficaz no terreno, durante as campanhas e nos congressos”, recorda Ricardo Alexandre..Nesta estação de televisão, ficou até setembro de 2021, foi jornalista e subdiretor de Informação, mas volta a mudar o rumo, para regressar à rádio e à Redação da TSF, onde foi diretor executivo até setembro de 2023. No DN, passou a assinar uma crónica semanal, que manteve até há poucos dias, tendo o seu último texto sido publicado a 16 de abril e no qual questionava: “Para onde corre Passos Coelho?”..Mas na Global Media Group desempenhou ainda o cargo de diretor de inovação, deixou a direção da TSF em setembro de 2023, mas não deixou o comentário político, passando a fazê-lo numa outra estação de televisão, a CNN. A paixão pelo jornalismo fê-lo passar também pelo ensino e pela Universidade Católica de Braga, onde foi professor..Do jornalista Pedro Cruz, Ricardo Alexandre diz ainda que tinha “muita sensibilidade para os ambientes de reportagem”, como o demonstrou no Kosovo, mais um cenário de guerra onde se encontraram..Do amigo, recorda que se conheciam há muitos anos e que a relação de ambos foi crescendo ao longo dos tempos, fortalecendo-se ainda mais..Nos últimos tempos, “almoçávamos muitas vezes. Ia acompanhando o evoluir da doença. Ele fazia questão de contar passo a passo o que estava a fazer e as terapias novas que estava a experimentar. Até ao fim, senti nele muita esperança, de que iria conseguir resistir. Infelizmente não conseguiu, mas ficam a saudade, a memória e a amizade para sempre”..Nota de Pesar do Global Media Group.A Global Media Group deixou esta tarde uma nota de pesar sobre a morte do jornalista Pedro Cruz, referindo que o "seu desaparecimento é uma perda para o jornalismo e para toda a sociedade civil."."A notícia do falecimento do jornalista Pedro Cruz deixou, em todos os que o conheciam, um sentimento de profunda tristeza e saudade. Gozava de uma admiração generalizada, tanto no âmbito profissional como pessoal; o seu desaparecimento é uma perda para o jornalismo e para toda a sociedade civil. O percurso de Pedro Cruz atesta que a sua abnegada dedicação ao jornalismo era vivida com sentido de missão e elevada qualidade profissional. Passou por vários órgãos de comunicação social, trabalhando na imprensa escrita, na rádio e na televisão. Foi repórter em diversas situações de conflito bélico e de tensões internacionais. Tinha especial empenho em transmitir o seu saber, sobretudo no ensino universitário, a estudantes de comunicação e jornalismo. No Global Media Group trabalhou no Diário de Notícias e na TSF, onde foi diretor-executivo. Para além de ser reconhecido como um excelente profissional, os colegas guardam dele a memória de uma pessoa íntegra, leal e afável, era corajoso e empenhado para que todos tivessem condições dignas, prestável para ajudar e disponível para partilhar a sua experiência. Segundo o testemunho de um dos diretores da empresa, Pedro Cruz era “um jornalista apaixonado e inteligente, dos melhores com que me cruzei nesta casa”. Pedro Cruz viveu a sua profissão como serviço para uma sociedade informada, livre, democrática e justa. Em nome de todos os trabalhadores do Global Media Group, a Administração presta pública homenagem ao jornalista Pedro Cruz, agradece o seu contributo às empresas e títulos deste Grupo e reconhece o legado que deixou ao jornalismo em Portugal. À família e aos amigos em luto, apresentamos sentidas condolências", lê-se na nota..Primeiro-ministro considera que jornalismo perde uma referência.O primeiro-ministro reagiu à morte de Pedro Cruz realçando, numa mensagem publicada numa rede social, considerando que "o jornalismo português perde uma das suas referências"..Na curta mensagem, Luís Montenegro expressa "sentimentos aos familiares, amigos e colegas de profissão" de Pedro Cruz, que morreu este domingo, aos 53 anos. .Marcelo evoca uma referência do jornalismo que "elevou a classe".O Presidente da República lamentou este domingo a morte do jornalista Pedro Cruz, aos 53 anos, considerando que foi uma referência e "elevou a classe" ao longo da sua vida profissional..Numa nota oficial, Marcelo Rebelo de Sousa "lamenta a morte de Pedro Cruz, amigo e jornalista de referência que tanto elevou a classe ao longo da sua vida profissional, e apresenta à sua família, nesta hora tão difícil, as mais sentidas condolências".."Não podendo estar presente amanhã no funeral, o Presidente da República será representado pelo Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim", refere ainda a nota do palácio de Belém.