Montenegro ainda só trouxe o PSD para o sítio onde Rio o deixou nas legislativas
Luís Montenegro foi eleito líder do PSD em maio de 2022 e a primeira sondagem publicada a seguir, da Intercampus, com recolha de dados de 8 a 14 de junho, atribuía 34,3% das intenções de voto ao PS, ficando os sociais-democratas a longínquos 12,6 pontos percentuais de distância (21,7%). Dito de outra forma: mantinha-se quase idêntica a superioridade percentual do PS sobre o PSD que se tinha verificado meses antes, nas eleições legislativas de janeiro desse ano, que tinham dado maioria absoluta aos socialistas (13,7 pontos percentuais).
Entretanto já passou mais de um ano e, preparando-se esta segunda-feira para a sua segunda rentrée como líder do PSD, como de costume na Festa do Pontal (jantar-comício no calçadão de Quarteira), Montenegro pode dizer que tem feito um caminho lento, mas consistente, de progresso nas sondagens. A última que consta no site da ERC, feita pela Aximage para o DN, a TSF e o JN, com recolha de dados de 7 a 11 de julho, coloca o PSD, com 27,7% nas intenções de votos, a um escasso ponto percentual do PS (28,8%). É o chamado "empate técnico".
Mesmo assim, o que esses números indicam é que o PSD não sobe face ao score obtido por Rui Rio nas últimas legislativas (27,7%, precisamente). Trata-se, antes, de uma descida forte do PS, que venceu essas eleições com 41,37% (e maioria absoluta dos eleitos no Parlamento). À sua direita, Luís Montenegro vê agora o Chega nas sondagens com 13% (quase o dobro da percentagem obtida nas legislativas, 7,18%) e a IL com 5,2% (4,9% nas últimas eleições).
Portanto: se a direita cresce não é por força do PSD. Montenegro pôs o partido a subir das sondagens mas em boa verdade beneficiou do facto de estar em mínimos históricos. E até agora só o trouxe, nas intenções de voto, até ao ponto onde Rui Rio o deixou nas últimas eleições legislativas. Este é o desafiante quadro que enfrenta no início da saison 2023-24.
A rentrée deste ano marca o início de um ano que representará também o regresso ao ciclo eleitoral. Em setembro haverá eleições regionais na Madeira e o PSD concorrerá coligado com o CDS, visando a maioria absoluta e manter-se na governação. Para Montenegro, o pior destas eleições será se o PSD regional precisar do Chega para formar maioria absoluta no Parlamento regional. O líder nacional sabe que o líder regional, Miguel Albuquerque, não hesitará um minuto nessa aliança. E sabe também quanto o PSD nacional de Rui Rio penou eleitoralmente por causa do entendimento PSD-Chega que levou os sociais-democratas de regresso ao poder nos Açores.
Depois, em maio-junho do próximo ano, serão as eleições europeias, na verdade o primeiro grande teste eleitoral nacional à liderança de Montenegro e também uma enorme sondagem sobre a legitimidade da atual maioria.
Seguem-se as eleições legislativas regionais açorianas (outubro de 2024), as eleições autárquicas (setembro/outubro de 2025), as presidenciais (janeiro de 2026) e, finalmente, as legislativas, que serão em setembro/outubro de 2026 (se a legislatura não for entretanto interrompida).
Montenegro levará ao Pontal o presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, agora a surfar a onda do evidente sucesso de adesão popular que foi a Jornada Mundial da Juventude. Este sucesso levou alguns comentadores a colocarem Moedas na pole position para uma eventual futura disputa pela liderança do PSD - quem sabe se contra Montenegro. O líder do PSD parece assim seguir o princípio de manter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto - sendo que Moedas hoje é amigo mas amanhã nunca se sabe. De resto, parece que foi a seguir o mesmo lema que Montenegro levou no ano passado Pedro Passos Coelho à festa da rentrée dos sociais-democratas. Dentro do partido há quem acredite que o futuro que Passos quer para si não inclui uma candidatura presidencial mas antes tentar ser de novo primeiro-ministro. E para isso Montenegro teria de se afastar ou ser afastado.
Esta segunda-feira o presidente do PSD irá centrar a sua mensagem em ataques ao Governo e na afirmação cada vez mais insistente de que o PSD já é alternativa. Mais do que criticar, começa a ser importante fazer passar a mensagem de políticas novas.