Ministros de Montenegro mais velhos e com menos tempo a exercer o poder
Na primeira reunião do Conselho de Ministros do XXIV Governo Constitucional será improvável que os participantes tenham uma sensação de déjà vu. A escolhida por Luís Montenegro para assumir a pasta do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, é a única que tem experiência prévia enquanto ministra, então da Ciência e do Ensino Superior, nos executivos de Durão Barroso e Santana Lopes.
A escassez de experiência governativa é um dos traços distintivos dos ministros que foram revelados anteontem e tomam posse na terça-feira, tendo a inexperiência em funções executivas sido esgrimida por adversários políticos contra Montenegro na campanha eleitoral. O primeiro-ministro indigitado nunca foi ministro, ou secretário de Estado, apesar do currículo de deputado e líder parlamentar do PSD, nomeadamente na legislatura em que Passos Coelho governou sob o signo da austeridade ditada pela troika, tendo o então líder do Governo enfrentado o mesmo desafio: ser primeiro-ministro sem nunca ter liderado um ministério ou uma secretaria de Estado.
Comparando as escolhas iniciais de Luís Montenegro com as dos três primeiros-ministros que o antecederam, os pontos de contacto com o Governo de Passos Coelho não vão muito além de os responsáveis máximos não terem feito o habitual caminho da governação, juntando-se a um rol onde também se encontra o atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que se tornou primeiro-ministro, ao levar o PS à vitória nas legislativas de 1995, após uma década de cavaquismo, sem nunca ter tido funções executivas. Pelo contrário, Durão Barroso já tinha sido ministro dos Negócios Estrangeiros e Pedro Santana Lopes era presidente da Câmara de Lisboa quando chegaram ao poder.
Ainda que seis dos 17 escolhidos por Montenegro tenham sido secretários de Estado, o próximo ministro-adjunto e da Coesão Territorial, Castro Almeida, é de longe o que tem experiência mais relevante, como secretário de Estado da Educação e Desporto e secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, além de ter sido presidente da Câmara de São João da Madeira. Pelo contrário, Miguel Pinto Luz só foi secretário de Estado das Infraestruturas por um mês, no segundo Executivo de Passos Coelho, com Leitão Amaro (Administração Local), Paulo Rangel (Adjunto da Justiça), Pedro Duarte (Juventude) e Fernando Alexandre (Adjunto da Administração Interna) com experiências mais duradouras.
Contraste com os socialistas
Nas primeiras escolhas de ministros dos últimos socialistas a formar Governo o peso da experiência governativa foi muito diferente. Em 2015, ao tornar-se pri- meiro-ministro, com apoio dos partidos à esquerda do PS, António Costa não só tinha sido ministro dos Assuntos Parlamentares e da Justiça como estivera à frente da Câmara de Lisboa. E fez-se rodear no Conselho de Ministros dos ex-ministros Augusto Santos Silva (Negócios Estrangeiros), Vieira da Silva (Trabalho) e Capoulas Santos (Agricultura), e ex-secretários de Estado Maria Manuel Leitão Marques (Presidência), Eduardo Cabrita (Adjunto), Pedro Marques (Planeamento), Manuel Heitor (Ciência) e Ana Paula Vitorino (Mar). Acusado de juntar “tralha socratista”, teve um acréscimo de experiência.
Algo idêntico ocorreu em 2005, pois José Sócrates tinha sido ministro do Ambiente e distribuiu pastas a mais cinco ex-ministros de Guterres (António Costa, Administração Interna; o independente Freitas do Amaral, Negócios Estrangeiros; Alberto Costa, Justiça; Correia de Campos, Saúde; e Augusto Santos Silva, Assuntos Parlamentares), “promovendo” ainda os ex-secretários de Estado Pedro Silva Pereira (Presidência), Luís Amado (Defesa) e Vieira da Silva (Trabalho).
Peso dos veteranos
Os escolhidos de Montenegro ditaram uma média etária mais elevada do que nas primeiras reuniões de Conselho de Ministros presididas por José Sócrates, Passos Coelho e António Costa, sendo que só o último foi primeiro-ministro mais velho do que o líder da Aliança Democrática. Apesar de Margarida Balseiro Lopes bater o recorde de ministra mais nova de sempre, aos 34 anos, na pasta da Juventude e Modernização, os 17 ministros que tomam posse na terça-feira, dia em que Leitão Amaro celebra o 44.º aniversário, têm em média 54,88 anos, num valor elevado por cinco sexagenários: Dalila Rodrigues (Cultura), Rosário Palma Ramalho (Trabalho), Castro Almeida (Adjunto e Coesão Territorial), Margarida Blasco (Administração Interna) e Maria da Graça Carvalho (Ambiente e Energia).
Os 17 ministros iniciais de António Costa tinham menos um ano em média (53,88), acima dos 52,68 anos no primeiro Conselho de Ministros de Sócrates. Mas nada que se compare com os 47,90 anos do Governo de Passos Coelho, sem sexagenários - Nuno Crato era o decano, com 59 anos - e com os centristas Assunção Cristas (36 anos) e Mota Soares (37 anos) a baixarem a média entre apenas 11 ministros.