Marcelo pede desculpa às vítimas de abusos sexuais
Presidente da República disse que não tinha intenção em ofender ninguém quando considerou que o número de denúncias de abusos sexuais na igreja "não era particularmente elevado", referindo-se aos casos que a comissão independente recebeu até ao momento.
"A minha intenção não foi ofender quando disse o que disse, mas se porventura entenderam, uma que seja das vítimas que está ofendida, eu peço desculpa por isso. Não era esse o meu objetivo". A afirmação é do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que pediu esta quinta-feira desculpa pelas declarações que proferiu quando considerou que o número de denúncias de abusos sexuais na igreja "não era particularmente elevado", referindo-se aos 424 testemunhos que chegaram à Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa.
Relacionados
À margem de uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez uma curta declaração aos jornalistas, começando por dirigir uma primeira palavra "às vítimas dos abusos sexuais, todos eles, mas nomeadamente em particular agora aqueles que vêm da parte de responsáveis da Igreja Católica, sacerdotes e outros responsáveis".
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que as suas palavras foram mal interpretadas, que o seu objetivo não foi ofender ninguém. "O meu objetivo era exatamente o contrário, o temer que muitas vítimas por medo, por limitação não tivessem falado e o número que deveria ser ainda mais alto tivesse ficado por onde ficou", justificou.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
O chefe de Estado agradeceu aos portugueses "as centenas e centenas de mensagens" que recebeu nos "últimos dois dias". "Dizendo, no fundo, aquilo que era óbvio, que me conhecem há não sei quantos anos, que conhecem os sete anos do meu mandato e que, portanto, sabem que as causas sociais, dos pobres, dos explorados, dos dependentes, dos abusados são as minhas causas sociais", afirmou.
Para o Presidente da República, os portugueses têm-no acompanhado dizendo: "nós conhecemos o seu caráter, é o que é, não muda aos 74 anos e ao sétimo ano de mandato".
Marcelo dirigiu ainda uma palavra especial "para a comunicação social e para aqueles que no mundo político formularam os seus juízos" sobre o que disse, "uns concordando, outros discordando".
Ao referir que "faz parte da democracia o espírito crítico, a abertura, o não haver as censuras próprias da ditadura, de haver a liberdade própria da democracia", Marcelo deixou uma palavra "aos portugueses e a todos os que servem os portugueses": "Queria garantir que o Presidente cá estará, vai continuar o seu caminho, que tem ainda pela frente três anos e meio, exatamente como sempre foi, sem mudar uma vírgula nos valores, nos princípios, na determinação, sempre ao serviço dos portugueses e de Portugal".
Na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa gerou críticas e indignação quando, ao ser questionado sobre os 424 testemunhos de abusos sexuais na igreja que chegaram à comissão independente, afirmou: "Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países, e com horizontes mais pequenos, houve milhares de casos."
Na altura, o Presidente da República disse não estar surpreendido com o número de casos, salientando que "não há limite de tempo para estas queixas" que têm estado a ser recolhidas, algumas relativas "há 60 ou há 70 ou há 80 anos". "Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares", prosseguiu, na ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa.
Face às críticas que as suas declarações suscitaram, o chefe de Estado divulgou uma nota a explicar que "este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo", admitindo que "terá havido também números muito superiores em Portugal".
Falou depois para a RTP e para a SIC a reforçar a mesma mensagem, reiterando que 424 queixas lhe parece um número "curto" face ao que estima ser a realidade, declarando que aceitava democraticamente as críticas que recebeu, mas não as compreendia.
Os 424 testemunhos foram recolhidos pela designada Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, uma estrutura constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.
Com Lusa