A reunião entre o primeiro-ministro António Costa e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, já terminou e demorou cerca de 1.15 horas. O chefe do Governo deixou a residência oficial do PR acompanhado dos seus assessores..Costa reuniu-se ao final da tarde com Marcelo depois de ter viajado desde Barcelos, onde esteve numa iniciativa no âmbito do PRR, durante a tarde. Depois desta conversa, Marcelo tinha agendada a sua comunicação ao país, marcada para as 20.00 horas..Marcelo Rebelo de Sousa terá dado conhecimento a Costa sobre aquilo que iria anunciar aos portugueses na sequência dos mais recentes casos que têm afetado o Governo..No final do Conselho de Ministros, a ministra da Presidência afirmou esta quinta-feira que é com "total naturalidade e interesse" que o Governo vai acompanhar a declaração do Presidente da República ao país.."É com total naturalidade e naturalmente interesse que acompanharemos a intervenção do senhor Presidente da República", disse Mariana Vieira da Silva na conferência de imprensa após o final do Conselho de Ministros que, hoje, se realizou em Braga..Questionada sobre um possível braço de ferro entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, Mariana Vieira da Silva rejeitou tal situação. "Aquilo que aconteceu com a comunicação do senhor primeiro-ministro foi uma comunicação ao país explicando detalhadamente as razões pelas quais o senhor primeiro-ministro, no âmbito das suas exclusivas competências, tomou aquela decisão e nenhum braço de ferro, nenhuma falta de lealdade, nenhum dos diferentes adjetivos ou caracterizações que tenho lido", afirmou..A ministra vincou que António Costa perante uma situação "grave e excecional" tomou uma decisão com base nos levantamentos dos atos que fez e comunicou essa mesma decisão ao país..Apesar da insistência dos jornalistas presentes na sala, a governante reafirmou que o primeiro-ministro já disse tudo o que havia para dizer sobre essa matéria..Dizendo que o Governo PS não está a desvalorizar o que aconteceu no Ministério das Infraestruturas, a ministra da Presidência sublinhou que o executivo está concentrado naquilo que lhe compete, nomeadamente em cumprir o seu programa, aplicar e executar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e proteger os portugueses num momento de inflação..Já na tarde desta quinta-feira, em Barcelos, o primeiro-ministro António Costa escusou-se a falar do caso Galamba e da declaração do Presidente da República anunciada para esta noite, limitando-se a "marcar encontro" para 19 de dezembro de 2024 para uma inauguração em Barcelos.."Sobre isso [caso Galamba] já disse o que tinha a dizer", referiu. "Não precisamos desta correria toda, já disse o que tinha a dizer e já falei aqui sobre esta obra que está em curso", avisou..Depois, questionado sobre se ia encontrar-se com o Presidente da República, Costa contrapôs que já tem encontro marcado para 19 de dezembro, em Barcelos, para inaugurar uma residência universitária e um centro de investigação do Instituto Politécnico do Cávado e Ave..Nos últimos dias, o ministro das Infraestruturas esteve envolvido em polémica com o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, que demitiu na quarta-feira, sobre informações a prestar à Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP..Em concreto, estão em causa notas tomadas por Frederico Pinheiro sobre uma reunião por videoconferência com a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e elementos do grupo parlamentar do PS, em 17 de janeiro deste ano, véspera da sua audição na Comissão de Economia da Assembleia da República..O caso envolveu denúncias contra Frederico Pinheiro por violência física no Ministério das Infraestruturas e furto de um computador portátil, depois de ter sido demitido, e a polémica aumentou quando foi noticiada a intervenção do Serviço de Informações e Segurança (SIS) na recuperação desse computador..Na terça-feira, João Galamba pediu demissão, mas o primeiro-ministro não aceitou o pedido, optando por mantê-lo no Governo..No mesmo dia, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou discordância em relação à decisão de António Costa. O chefe de Estado salientou que "não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro"..Nessa mesma nota, publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet pelas 21:25, Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que ao apresentar o seu pedido de demissão João Galamba invocou "razões de peso relacionadas com a perceção dos cidadãos quanto às instituições políticas" e que o primeiro-ministro "entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável"..O primeiro-ministro estava nesse exato momento a terminar uma conferência de imprensa na residência oficial de São Bento iniciada cerca das 20:50, na qual anunciou que não aceitava o pedido de demissão de João Galamba do cargo de ministro das Infraestruturas: "Trata-se de um gesto nobre que eu respeito, mas que em consciência não posso aceitar"..António Costa considerou não poder imputar "qualquer falha" a João Galamba e repetiu vinte vezes a palavra "consciência" para justificar a sua decisão, pela qual se responsabilizou "em exclusivo", admitindo estar provavelmente a agir contra a opinião da maioria dos portugueses e certamente dos comentadores..O primeiro-ministro referiu ter informado o Presidente da República antes de anunciar publicamente esta decisão, ressalvou o respeito pelas opiniões e decisões do chefe de Estado, mas realçou que é sua a competência de propor a nomeação e exoneração de membros do Governo..Em reação a esta decisão, os presidentes do Chega, André Ventura, e da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, defenderam a dissolução do parlamento, enquanto o líder do PSD, Luís Montenegro, acusou António Costa de querer provocar eleições e disse que o seu partido não as pedirá, mas também não as recusa..Na quarta-feira, os presidentes do PSD e da Iniciativa Liberal fizeram-se fotografar a almoçar juntos, encontro que Rui Rocha, em entrevista à SIC Notícias, disse que teve como objetivo de "manter e criar uma linha de comunicação para promover uma solução alternativa em Portugal", excluindo desde já qualquer entendimento pré-eleitoral..O primeiro-ministro declarou ter apurado que as acusações contra o ministro das Infraestruturas não têm fundamento: "Tem sido dito que o ministro quis ocultar informação à comissão parlamentar de inquérito -- é falso. Diz-se que o ministro deu ordens aos serviços de informações ou quis utilizar os serviços de informações -- também é falso"..Na sequência desta polémica, o chefe de Estado escusou-se a comentar os relatos de violência dentro do Ministério da Infraestruturas, o recurso ao SIS neste caso e as versões contraditórias de João Galamba e do seu ex-adjunto sobre informações a prestar à comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP..O Presidente da República classificou este caso como uma matéria sensível de Estado sobre a qual iria em primeiro lugar falar com o primeiro-ministro..Depois de António Costa falar à RTP na segunda-feira à noite, fazendo saber que na manhã seguinte iria falar pessoalmente com o ministro das Infraestruturas, o Expresso noticiou na madrugada de terça-feira que o chefe de Estado esperava que o primeiro-ministro demitisse João Galamba.