O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta quinta-feira que os sistemas políticos democráticos têm de se reformar, tornando-se mais eficazes e inclusivos, para se preservarem e combaterem o populismo..O chefe de Estado português deixou esta mensagem na "Cimeira para a Democracia", organizada pelo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, que decorre até sexta-feira, em formato virtual..Numa intervenção gravada a partir do Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que muitas sociedades "parecem hoje menos protetoras do seu pluralismo e mais recetivas ao populismo".."Em vez de procurarmos alternativas à democracia, deveríamos antes procurar reformar os nossos sistemas através de medidas concretas em pelo menos três áreas. Em primeiro lugar, precisamos de democracias mais eficazes", afirmou..Segundo o Presidente da República, isso implica "eleições com integridade que legitimem os vencedores e proporcionem ao público confiança nos seus líderes e instituições", tendo em conta que "no outro lado do espectro há espaço para o aumento do populismo, líderes autoritários e sociedades divididas".."Em segundo lugar, precisamos de combater a desigualdade, tanto económica, social e política. Isto significa também democracias mais inclusivas, trazer os jovens, as mulheres, os pobres e as minorias para o sistema político", prosseguiu..Em "terceiro e último" lugar, Marcelo Rebelo de Sousa apelou a uma defesa constante da democracia: "Não esqueçamos que a democracia é sempre um trabalho em curso. Precisamos de a acarinhar e defender, precisamos de a reformar para as gerações futuras"..O chefe de Estado referiu que, segundo a sua experiência, "o populismo prospera mais facilmente sempre que as pessoas perderam a confiança nos seus governos, parlamentos e tribunais, quando um grande número de cidadãos se sente privado de oportunidades, quando as minorias não foram integradas numa sociedade mais ampla"..Marcelo Rebelo de Sousa advertiu que não se pode banalizar a democracia, dando-a por garantida, considerando que isso faz "a narrativa populista ganhar terreno quase sem oposição".."Não devemos tomar como certo algo que precisa de ser construído em conjunto, uma e outra vez, todos os dias, através das palavras e dos atos. Através das palavras, como estamos a fazer aqui hoje. Através de atos, proporcionando aos nossos cidadãos liberdade e democracia, demonstrando os direitos são de facto direitos e não apenas promessas. A democracia deve ser vivida e sentida por todo e cada um dos cidadãos", reforçou..No início da sua intervenção, de cerca de cinco minutos, transmitida hoje à tarde, o Presidente da República sustentou que, apesar de tudo, "a democracia resistiu ao teste do tempo" e "permaneceu forte", enquanto outros regimes falharam, e "tem provado repetidamente a sua importância e o seu impacto".."Quão resilientes são, de facto, as nossas democracias?", questionou, contudo, em seguida..Sobre o contexto europeu, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que, "de certa forma, a Europa virou uma página do seu passado opressivo e trabalhou para construir sistemas constitucionais, parlamentares, nos quais os seus cidadãos participam em eleições e praticam a liberdade de expressão, usufruindo dos benefícios de viver em sociedades regidas pelo Estado de direito".."No caso de Portugal, a democracia tem estado ligada ao projeto de construção europeia. De facto, o nosso pedido de adesão à União Europeia teve muito a ver com o objetivo de preservar as ainda jovens instituições democráticas nos anos agitados que se seguiram à nossa revolução de 1974", enquadrou..Marcelo Rebelo de Sousa desejou "o maior sucesso" a esta iniciativa "tão importante para a causa da democracia", na qual foi convidado a participar pelo Presidente norte-americano.