Manuel Pizarro é o novo ministro da Saúde. "Não podia recusar convite"
Manuel Pizarro substitui Marta Temido, que apresentou a demissão no final de agosto. Marcelo associa escolha do novo ministro a decreto sobre SNS mais próximo da sua opinião.
Manuel Pizarro é o novo titular da pasta da Saúde. O nome foi anunciado no site da Presidência da República.
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Segundo a nota publicada "na sequência da proposta do Primeiro-Ministro, o Presidente da República conferirá posse amanhã ao novo Ministro da Saúde, Dr. Manuel Francisco Pizarro de Sampaio e Castro" no Palácio de Belém, pelas 18 horas.
O novo ministro da Saúde, entretanto, elogiou o trabalho da antecessora Marta Temido, à margem da Academia Socialista, que decorre entre 7 e 11 de setembro. "Queria prestar a minha homenagem e o meu reconhecimento a Marta Temido em defesa da saúde dos portugueses e do SNS durante estes quatro anos, sendo que três dos quais coincidiram com pandemia de covid-19", afirmou o novo governante.
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"Pelo meu percurso enquanto médico, não podia recusar este convite para voltar a Portugal", frisou, remetendo mais declarações para a cerimónia de tomada de posse, sem comentar as críticas que os partidos da oposição fizeram à sua nomeação.
Uma nomeação que já foi comentada pelo Presidente da República. Ainda no Rio de Janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o nome lhe foi proposto hoje "quase ao fim da manhã". "Naturalmente aceitei", referiu o chefe de Estado, inserindo este passo no contexto mais abrangente da "regulamentação do Serviço Nacional de Saúde". Depois da aprovação, no Conselho de Ministros da passada quinta-feira, da nova direção executiva do SNS, Marcelo lembrou que analisará agora o decreto, sublinhando que a futura legislação terá evoluído para "uma posição próxima" da que defendeu. Ou seja, a "ideia de uma separação clara entre decisões políticas e uma gestão mais independente, mais autónoma [do SNS], através de outra instituição que não o ministério".
Manuel Pizarro, de 58 anos, foi secretário de Estado da Saúde de 2008 a 2011. Médico e dirigente socialista - é líder da distrital do Porto do PS - era, até agora, deputado no Parlamento Europeu.
Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o novo ministro da Saúde é especialista em Medicina Interna, tendo participado na criação da Unidade de Cuidados Intermédios de Medicina do Hospital de S. João, da qual foi coordenador adjunto.
Em 2005, ao mesmo tempo que assumia as funções de vereador na Câmara Municipal do Porto, foi eleito deputado pelo PS à Assembleia da República pelo círculo eleitoral do Porto - onde cresceu, apesar de ter nascido em Coimbra. No Parlamento, para o qual voltaria a ser eleito nas duas legislaturas seguintes, integrou sempre a comissão parlamentar de Saúde.
Em 2008 assumiu as funções de secretário de Estado da Saúde e, no segundo governo de José Sócrates, de Secretário de Estado Adjunto e da Saúde (em ambos os casos com Ana Jorge como ministra). Pelo seu gabinete passaram dossiers como a reforma dos cuidados de saúde primários, o alargamento do programa cheque dentista às crianças, ou a criação do Banco Público de células do cordão umbilical.
Figura cimeira do PS a norte, foi presidente da Comissão Política Concelhia do PS Porto e é presidente da Federação Distrital do Porto, cargo que ocupa desde março de 2016. Desde as últimas eleições europeias, em 2019, era também deputado ao Parlamento Europeu (e presidia à delegação socialista), cargo que agora deixará.
Com a nomeação do novo titular da pasta concretiza-se a saída de Marta Temido, que liderou o Ministério da Saúde desde outubro de 2018, tendo apresentado a demissão no final de agosto. Apesar disso manteve-se no cargo até à aprovação da nova direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), um decreto que que deveria ir a Conselho de Ministros a 15 de setembro, mas acabou por ser antecipado para a última quinta-feira.
PSD diz que escolha de Pizarro mostra Costa limitado ao aparelho do PS
O PSD considerou esta sexta-feira que a escolha de Manuel Pizarro como ministro da Saúde demonstra que o primeiro-ministro "está cada vez mais limitado" ao aparelho socialista, e criticou a indisponibilidade de António Costa para mudar de política para o SNS.
"Aquilo que preocupa o PSD são as afirmações do primeiro-ministro, António Costa, aquando da demissão da ministra Marta Temido, quando afirmou que, independentemente de quem viesse a ser o próximo ministro, que não estaria disponível para mudar de política, de rumo para o SNS", criticou, em declarações à agência Lusa, o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite a propósito da escolha do novo ministro da Saúde.
Para o social-democrata, o primeiro-ministro socialista "tem de reconhecer que as políticas públicas da saúde falharam e que é preciso mudar de rumo".
"A escolha de Manuel Pizarro demonstra que António Costa, enquanto primeiro-ministro, está cada vez mais limitado àquilo que é o aparelho socialista", defendeu.
Na análise de Ricardo Baptista Leite, o primeiro-ministro "limita-se a ter que escolher pessoas" da máquina do PS perante a sua indisponibilidade em permitir que o novo ministro possa impor uma nova visão e um conjunto de reformas para o SNS, "sem desprimor para a experiência passada de Manuel Pizarro como eurodeputado e como secretário de Estado da Saúde no tempo do primeiro-ministro José Sócrates".
"Aquilo que nos preocupa é que o SNS consiga responder efetivamente às necessidades e à procura dos doentes portugueses", enfatizou, considerando que neste momento os portugueses "não têm encontrado no SNS aquilo que são as respostas às suas necessidades".
Segundo o deputado do PSD, "se o Governo não mudar de rumo", continuará a haver "um desgaste cada vez maior do sistema público de saúde".
Iniciativa Liberal diz que escolha de Pizarro mostra que Costa "está contente" com situação da saúde
A Iniciativa Liberal (IL) considerou esta sexta-feira que a escolha de Manuel Pizarro para ministro significa que o primeiro-ministro "está contente" com a situação da saúde e que "cabe sempre mais um fiel do aparelho do PS" no Governo.
Num vídeo enviado às redações, a deputada da IL Joana Cordeiro afirmou que a nomeação de Manuel Pizarro para suceder a Marta Temido no Ministério da Saúde "é uma má notícia para todos os portugueses que não têm alternativa ao SNS quando mais precisam de cuidados de saúde".
"A escolha de Manuel Pizarro para ministro da saúde significa que António Costa está contente com o estado da saúde e que não tem qualquer intenção de mudar as políticas que têm conduzido o SNS ao colapso", criticou.
Para a liberal, esta escolha "significa também que, para o Governo, cabe sempre mais um fiel do aparelho do PS e mais um ex-governante de José Sócrates".
Na opinião de Joana Cordeiro, "António Costa será sempre o principal responsável pelo estado calamitoso do SNS" enquanto "não reconhecer os efeitos catastróficos da sua política e não reformar o sistema de saúde como um todo no sentido da concorrência entre prestadores e da liberdade de escolha das pessoas".
PCP espera que Pizarro dê prioridade ao "subfinanciamento crónico" do SNS
O PCP considerou esta sexta-feira que mais importante do que a escolha de Manuel Pizarro para ministro da Saúde é aquilo que vai fazer e apontou como prioridade acabar com "subfinanciamento crónico" do SNS.
À Lusa, o deputado comunista João Dias disse que "mais importante do saber quem vem, importa saber o que vem com estes novos responsáveis do Ministério da Saúde".
O dirigente comunista acrescentou que até hoje o Governo socialista demonstrou que "não quer fazer aquilo que é necessário" para que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) assegure a resposta necessária à população.
João Dias apontou duas prioridades ao até agora eurodeputado socialista e antigo secretário de Estado da Saúde: acabar com o "desinvestimento crónico" do SNS e valorizar as carreiras dos profissionais de saúde.
"É necessário restabelecer as carreiras dos profissionais de saúde, carreiras estáveis com remunerações justas, que permitam a sua realização pessoal e profissional, com um estímulo que nós defendemos - e que este Governo não tem querido defender - que é à dedicação exclusiva", completou o deputado.
Escolha do novo ministro da Saúde não garante qualquer mudança, diz Catarina Martins
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, considerou que a escolha de Manuel Pizarro como novo ministro da Saúde, em substituição de Marta Temido, "não garante qualquer mudança", salientando que "nada muda com a mesma política".
Numa publicação na sua conta pessoal na rede social 'Twitter', a líder do BE sublinha que "a degradação do SNS levou à demissão da anterior ministra", Marta Temido.
"A escolha do novo ministro não garante qualquer mudança. Salvar o SNS exige fixação de profissionais, mais investimento e menos vetos de gaveta. Nada muda com a mesma política", acrescentou.
Chega critica escolha de "homem do aparelho do PS" para ministro da Saúde
O presidente do Chega considerou esta sexta-feira que o novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, é "um homem do aparelho do PS" e defendeu que o primeiro-ministro perdeu uma oportunidade para escolher "alguém independente" e com "capacidade de diálogo".
Em declarações aos jornalistas à chegada para um jantar-comício em Sintra, distrito de Lisboa, André Ventura começou por considerar que Manuel Pizarro "era uma escolha previsível, mas que ao mesmo tempo é uma escolha que acarreta riscos".
"É um homem da confiança do primeiro-ministro, é alguém que faz parte do aparelho do PS, muito próximo do aparelho do PS, e que sabemos que António Costa tem escolhido esses perfis para escolher ministros. O risco é que é um homem do aparelho do PS, aquilo que é simultaneamente uma previsibilidade, é um risco", argumentou.
Na sua opinião, "é sinal de que António Costa está mesmo decidido a fazer do Governo um forte do aparelho do PS".
O líder do Chega considerou que Pizarro "é um homem excessivamente ligado ao aparelho" e considerou que, como secretário de Estado, "não deixou obra particularmente conhecida nem de boa memória, pelo contrário, deixou uma obra fraca num contexto em que a saúde, como todos sabem, em 2011, ficou particularmente afetada".
O presidente do Chega advogou que "quando se escolhe um ministro da Saúde neste contexto deveriam ter-se em conta critérios de experiência na área da negociação com vários operadores da saúde e também algum histórico de experiência com resultados feitos".
"Ora, Manuel Pizarro não tem nem uma coisa nem outra, e o que tem tem mau. O histórico que tem na saúde não deixou boa memória a ninguém", apontou.
O presidente do Chega disse que "dá naturalmente o benefício da dúvida" dado que o contexto é "muito difícil", mas antecipou que "será uma continuidade de Marta Temido".
"Com uma agravante, é que a responsabilidade agora será totalmente de António Costa, porque ao escolher um nome como este assume as responsabilidades pelas consequências que esta escolha terá", salientou.