Arguidos da investigação na Madeira foram esta quinta-feira transportados para Lisboa num avião da Força Aérea
Arguidos da investigação na Madeira foram esta quinta-feira transportados para Lisboa num avião da Força AéreaHomem de Gouveia/Lusa

Madeira. PS com discurso duplo de polícia bom e polícia mau

Na Madeira, o líder socialista regional pede a demissão de Miguel Albuquerque. Porém, no continente, o líder nacional do PS recusa-se a alinhar na mesma exigência.
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Paulo Cafôfo, presidente do PS da Madeira, fez de polícia mau: “Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional [PSD/CDS-PP], foi constituído arguido e é suspeito de vários crimes de corrupção. Perante estes factos, deixou de ter condições para governar a Madeira”, afirmou o líder socialista regional, ontem, numa conferência de imprensa na sede do partido, no Funchal.

Mas no continente, porém, o líder nacional do partido, fazia de polícia bom, recusando pedir a demissão do presidente do Governo Regional madeirense, agora arguido sob suspeita suspeito de corrupção, prevaricação, abuso de poder e atentado contra o Estado de Direito, entre outros crimes, segundo documentos judiciais.

"Não vamos aproveitar nenhum caso judicial para fazer política, a justiça tem o seu tempo, faz o seu trabalho, e os políticos devem fazer em cada momento o seu juízo próprio sobre as condições para exercerem os respetivos cargos e protegerem as instituições", declarou . "É preciso respeitar a independência do poder judicial e a presunção de inocência. Levamos esses princípios muito a sério, envolvendo militantes do PS, do PSD ou de qualquer outro partido. Nós não vamos ser incoerentes na forma como temos separado a política da justiça."

Na Madeira, Miguel Albuquerque voltou a reafirmar que não é a sua condição judicial que o levará a deixar a presidência do Governo Regional: "Não tenho nenhum problema de ser arguido. Sou arguido, mas não me demito."

Acrescentou que, se for caso disso, a bem do esclarecimento do caso,  pedirá o levantamento da imunidade  de que beneficia por ser membro do Conselho de Estado: “Vamos aguardar que o processo corra, que sejam as coisas organizadas. À medida que o processo e o tempo da justiça for [correndo], nós vamos exercer a nossa defesa e esclarecer tudo o que é preciso esclarecer no processo.”

Caso que “perturba”

De volta a Lisboa, Luís Montenegro, presidente do PSD nacional, reconheceu implicitamente como teria preferido que a atitude de Albuquerque fosse outra - demitir-se:  “Este caso naturalmente perturba o trabalho de esclarecimento que estamos empenhados em fazer perante os portugueses.”

Depois acrescentou que os termos internos do partido para determinar que algum dirigente se tem mesmo de afastar são quase só quando estão prestes a cumprir pena:  “Se alguém for condenado no exercício de funções públicas, deve sair do partido, estas são as nossas balizas e os nossos critérios e vamos aplicá-los seja a quem for.”

Ontem, arguidos do caso como o presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD), o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, e Custódio Correia, CEO e principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, que é sócio de Avelino Farinha em várias empresas, foram transportados para Lisboa num avião da Força Aérea, para serem interrogados.

O executivo municipal do Funchal reuniu mas dirigido pela vice-presidente da autarquia, Cristina Pedra. “A Câmara não é envolvida, houve buscas, deixemos a justiça fazer o seu trabalho. É um processo de inquérito, não há acusações. Estamos, todo o executivo, ao lado do senhor presidente”, disse a autarca.  Calado há muito que é visto no PSD regional como o delfim para a sucessão de Albuquerque - posição agora definitivamente em risco. 

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