Iniciativa Liberal. Margem curta na vitória da continuidade

Rui Rocha, candidato apoiado pelo líder cessante, João Cotrim Figueiredo, venceu disputa pela liderança da Iniciativa Liberal com maioria à tangente (51,7%). Principal opositora obteve 44%.
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Apenas cerca de 130 votos, num total de 1728 votantes, fizeram este domingo a diferença, na VII Convenção Nacional da Iniciativa Liberal, em Lisboa, que elegeu o deputado Rui Rocha como novo líder do partido. Rocha venceu com 51,7 por cento dos votos - ou seja, cerca de 890 votos - mas a sua principal concorrente, a também deputada Carla Castro obteve 44 por cento (cerca de 760 votos). A terceira via do empresário José Cardoso não conseguiu mais do que 75 votos (4,3 por cento).

Dito por outras palavras: embora com um partido agora fraturado ao meio, os congressistas sufragaram o candidato que avançou com o apoio expresso do líder cessante, o deputado João Cotrim Figueiredo (que vai permanecer deputado, passando agora a integrar os trabalhos da comissão parlamentar de Revisão Constitucional).

Na disputa pelo Conselho Nacional - o "parlamento" do partido, onde os vários grupos têm assento, por método proporcional - a lista de Rui Rocha também venceu mas sem maioria, ficando com 24 dos 50 mandatos. Os outros 26 mandatos ficaram distribuídos quatro listas, sendo a mais votada a do fundador do partido Miguel Ferreira da Silva (14 eleitos). Nas votações das moções setoriais, 11 das 12 apresentadas foram aprovadas. A moção chumbada defendia a eliminação das páginas e perfis de Jovens Liberais na internet.

À tarde, os congressistas assistiram a um confronto muito vivo entre linhas mais liberais (nos costumes) e outras linhas liberais na economia porém conservadoras nos costumes. Nuno Simões Melo, cabeça de lista da lista B ao Conselho Nacional (CN), criticou, por exemplo, o facto de a IL abraçar causas caras à esquerda. "Temos de deixar as minorias ativistas a falar sozinhas", "não troco as nossas ideias pela ideologia de género ou marxista", "não podemos ser melancia azul, liberal por fora e bloquista por dentro" - estas foram algumas das frases que se lhe ouviram.

Na resposta, a congressista Sandra Pimentel subiu ao palco e atacou diretamente o discurso de Simões Melo: "O senhor está enganado, está no partido errado. Vou usar o liberalómetro, o liberalismo nunca será conservador." Um outro congressista foi igualmente incisivo: "Somos contra conservadores bafientos que tentam restringir liberdades individuais" e "até alguns libertinos são cá bem-vindos, até os que o são e não sabiam".

Contados os votos, o novo líder, Rui Rocha, subiu ao palco para pronunciar o discurso de encerramento da convenção.

O sucessor de Cotrim Figueiredo voltou a comprometer-se com a meta de 15 por cento dos votos a atingir pela Iniciativa Liberal nas próximas eleições legislativas, única forma, disse, de "acabar com bipartidarismo" em Portugal.

Considerando que "o Governo do PS está completamente esgotado e politicamente morto e fomos nós que o declarámos com a moção de censura", Rui Rocha considerou que à Iniciativa Liberal compete "liderar a oposição".

Para consumo interno, ensaiou um discurso de reconciliação interna: "Para que não fiquem dúvidas, ao agradecer a Carla Castro e José Cardoso, conto com todos os liberais sem exceção. Todos os que queiram participar no futuro da Iniciativa Liberal. No futuro da Iniciativa Liberal, são todos muito bem-vindos, somos todos liberais, estamos cá para mudar Portugal", afirmou.

Citaçãocitacao"Quero perguntar daqui a Luís Montenegro o que é que seria preciso acontecer mais para votar favoravelmente a moção de censura da Iniciativa Liberal?"

Antes de subir ao palco para encerrar a convenção, já tinha afirmado que o papel que a candidata derrotada Carla Castro terá no partido "é aquele que tem hoje e tudo o que quiser fazer dentro da participação possível no partido". "O passado termina hoje na IL, hoje abrimos uma nova página de crescimento, só interessa o futuro da IL", afirmou, em breves declarações aos jornalistas, entre muitos abraços com apoiantes.

O PSD também esteve na mira do novo presidente do partido. Rui Rocha interpelou diretamente o líder do PSD, Luís Montenegro, nomeadamente pelo facto de os sociais-democratas não terem votado a favor da moção de censura que a IL apresentou contra o Governo: "Quero perguntar daqui a Luís Montenegro o que é que seria preciso acontecer mais para votar favoravelmente a moção de censura da Iniciativa Liberal?"

Não se ficou, porém, por aqui. Também questionou a posição dos sociais-democratas face à revisão constitucional que já está a ser discutida no Parlamento: "Quero perguntar daqui também a Luís Montenegro se nessa revisão constitucional vai estar do lado da liberdade ou do lado daqueles que querem retirar a liberdade aos portugueses." Segundo prometeu, a IL irá já em fevereiro "para a rua" lutar contra a revisão da Lei Fundamental.

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