Funchal. A "difamação" e as três versões de Pedro Calado

Autarca do Funchal é alvo de nova queixa-crime por acusar o PS de "comprar votos". Pedro Calado é arguido noutro processo por difamação. Questionado pelo DN diz "nada ter a acrescentar".

Pior do que isso assisti eu aqui nas autárquicas". Pior? "E estou completamente à vontade. Não tenho qualquer questão. Nas últimas autárquicas assisti a pessoas do PS a pagarem para pessoas delinquentes e drogados irem votar à boca das urnas no PS". Pagar? "Em dinheiro e fazendo ofertas para irem lá fazer os votos". Fez queixa? "Não fizemos queixa porque ganhámos as eleições com maioria. Não tínhamos de fazer queixa".

Esta acusação de Pedro Calado em declarações ao DN, publicada a 22 de janeiro na reportagem Os "erros" e "medos", os "drogados pagos" para votar e o líder que não quis ser "candidato a presidente", que contrariava, como disse, na altura, "as suspeitas" e as "tentativas de desestabilização do PS" (as acusações de "falta de liberdade", "perversidades", "dependências" ou que, por exemplo, "iam [os do PSD] buscar as pessoas a casa e elas vinham já com uma instrução clara de orientação de voto"), indignou o PS/Madeira que vai apresentar esta semana uma queixa-crime, no Ministério Público, "por difamação" contra o presidente da Câmara do Funchal.

Em relação a este novo processo, Pedro Calado, contactado pelo DN, disse "nada ter a acrescentar".

Sérgio Gonçalves, líder do PS/Madeira, considera que "as declarações proferidas recentemente ao DN, são inaceitáveis e não correspondem à verdade. São ainda mais graves, por serem novamente proferidas pelo próprio, quando este já foi constituído arguido num processo movido pela Coligação Confiança". É, sustenta, mais uma "tentativa de denegrir a imagem do PS/Madeira, demonstrando a já conhecida incoerência de Pedro Calado, tentando justificar-se conforme convém no momento".

"Temos uma conduta irrepreensível da qual nos orgulhamos e não deixaremos este tipo de afirmações passar impune", garante.

O Ministério Público, do despacho a que o DN teve acesso, após a denúncia do primeiro caso, "entende que existem indícios suficientes de que o arguido Pedro Miguel Calado proferiu as expressões mencionadas na queixa e cometeu o crime".

Sobre este facto de Pedro Calado ter sido constituído arguido, fonte da câmara do Funchal, citada pelo Diário [Diário de Notícias da Madeira], admite que a 30 de agosto de 2021 houve uma "troca de palavras entre a coligação Confiança, liderada pelo PS, e a coligação PSD/CDS" sobre "compra de votos".

Na altura, sustenta essa fonte, não foi apresentada "qualquer queixa" porque foram "afirmações proferidas no calor da campanha eleitoral"

Nas declarações ao DN, a 22 de janeiro deste ano, a explicação foi outra. "Não fizemos queixa porque ganhámos as eleições com maioria. Não tínhamos de fazer queixa", afirmou o autarca do Funchal.

Nas declarações citadas, a 30 de agosto de 2021, Calado assegurava que "nós já denunciamos isto nas devidas instâncias. E vamos continuar a denunciar. Temos provas concretas e testemunhos de que isto está a acontecer".

O autarca do Funchal é citado - na acusação particular agora deduzida, e que é entregue hoje, na sequência do despacho do MP - acusando os socialistas da "prática recorrente de tentar comprar votos (...), uma tentativa de aproveitamento de pessoas com dificuldades económicas".

Há duas frases que se destacam na acusação. Na primeira são referidos votos comprados por "20, 30 e 40 euros": "Se querem falar em mentiras, vamos denunciar, uma vez mais, a prática que tem sido recorrente por parte dos candidatos da coligação Confiança de tentar comprar votos de pessoas que hoje têm dificuldades financeiras, aliciando-os com 20, 30 e 40 euros, isto é crime".

Na segunda frase citada, Calado elabora sobre o modo como, garante, o PS controlava os votos: "Para o candidato, é um "abuso" esta tentativa de aproveitamento de pessoas com dificuldades económicas para a compra de votos, a quem é exigido que comprovem através de fotografia a forma como colocaram a cruz no boletim de voto para que depois a Confiança dê determinada verba".

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