Daniela Martins esteve acompanhada pelo advogado, Wilson Bicalho, na Comissão Parlamentar de Inquérito.
Daniela Martins esteve acompanhada pelo advogado, Wilson Bicalho, na Comissão Parlamentar de Inquérito.Gerardo Santos / Global Imagens

“Errei, fui parva”. Daniela Martins faz mea culpa e garante nunca ter conhecido filho de Marcelo

Mãe das meninas esteve no Parlamento, pouco esclareceu sobre o caso, reiterou que não conhece Nuno Rebelo de Sousa e que não falou com o Governo, apenas com médicos.
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A defesa veio logo na declaração inicial, ainda antes de Daniela Martins começar a responder aos deputados que compõem a Comissão Parlamentar de Inquérito: “Errei, fui parva.” Depois, percebeu “que tinha caído numa armadilha” ao ser gravada “com uma câmara escondida” dentro da sua própria casa. O vídeo foi divulgado pela TVI e, aí, a mãe das duas gémeas assumiu que se “vangloriou”, dizendo que tinha conseguido um “pistolão” (uma cunha, esclareceu depois) para o tratamento das filhas em Portugal.

Apesar deste mea culpa, Daniela Martins garantiu que não se sente uma “vítima” e que foi o desespero de ver as filhas com “deformidades” que a levou a procurar o tratamento mais caro do mundo, com o medicamento Zolgensma, usado para tratar a atrofia muscular espinhal (AME). Com uma situação difícil, gastava “mais de mil euros em terapia”, a que se juntou um divórcio e um “esgotamento físico, mental e financeiro”.

Mas foi depois, durante a ronda de perguntas dos deputados, que garantiu nunca ter conhecido Nuno, filho de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República. “Não conheço. Conheci a mulher anos depois, no final de 2022, num evento público, num shopping de São Paulo”, garantiu.

E recusou ainda, em resposta a António Rodrigues (PSD), ter falado diretamente com o Governo, apenas com “os hospitais e médicos para perceber o caminho” a percorrer para tratar as crianças. Além disso, se a opção de tratamento estivesse disponível no Brasil, Daniela Martins garantiu que não teria vindo procurá-lo em Portugal.

Questionada por André Ventura sobre um putativo e-mail enviado para Juliana, mulher de Nuno Rebelo de Sousa, com o destino final a ser Lacerda Sales, ex-secretário de Estado da Saúde, Daniela Martins, mais uma vez, disse: “Não tenho conhecimento.”

Confrontada com a correspondência eletrónica, num portátil de um dos deputados que constituem a CPI, a mãe das gémeas confirmou ter visto que a mensagem “saiu da caixa pessoal” do e-mail, mas relembrou que houve uma mobilização grande em torno do caso (“Foram feitos grupos de WhatsApp, pessoas que me ajudavam a disparar os e-mails”). “Não posso garantir que fui eu que escrevi. Diversas pessoas tinham acesso à caixa de correio”, rematou. Isso não é estranho? “Não. Não acho absurdo. Várias pessoas estavam a pedir ajuda através do e-mail, Instagram e outros meios.”

André Ventura pediu também que fosse mostrado o vídeo onde era referido o “pistolão” e que conhecia a nora de Marcelo Rebelo de Sousa. Isto gerou desconforto entre os deputados e, caso tivesse sido reproduzido, o advogado de Daniela Martins pediria que o resto da audição fosse feito à porta fechada. A solução passou pela leitura de uma transcrição do vídeo, com Ventura a perguntar o que significa “pistolão” e o porquê de ser convencido que tinha uma cunha.

“Foi o que entendi do que ouvi no hospital, que tinha tido ajuda do senhor Presidente. Era o que toda a gente falava, os médicos... Sim, dentro do Hospital de Santa Maria era o que diziam. Diziam que eu estava lá a mando do Presidente”.

Questionada depois por Joana Mortágua, do BE, sobre um outro e-mail, enviado para o hospital dos Lusíadas, em Lisboa, com o nome de um alegado gestor de negócios português em CC. Daniela Martins também não se recorda de o ter copiado na mensagem, que foi “direcionada ao comercial do hospital. Não me recordo. Não me atentei a esse email em cópia. Estava mais focada no corpo do email que dizia que eu tinha conseguido consulta.”

Sobre o processo de nacionalização das meninas, sobre a qual havia suspeitas por alegadamente ter decorrido demasiado rápido, Daniela Martins garantiu que tudo correu dentro da normalidade.

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