João Tilly acaba de assumir o mandato de deputado. Era conhecido pelos vídeos que partilha no YouTube.
João Tilly acaba de assumir o mandato de deputado. Era conhecido pelos vídeos que partilha no YouTube.Leonardo Negrão / Global Imagens

Deputado do Chega estrela do YouTube corta vídeo sobre “golpe de génio” de André Ventura

João Tilly desmentiu a “patranha” de que o líder do Chega o levou a tirar centenas de vídeos. Mas alterou o mais recente, acerca da estratégia para forçar o PSD e o PS a “unirem-se”.
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O deputado do Chega João Tilly, que foi cabeça de lista do partido em Viseu, alterou o vídeo mais recente do seu canal de YouTube, cortando a parte em que descrevia como “golpe de génio” a estratégia de André Ventura para forçar o PSD a entender-se com o PS na eleição do social-democrata José Pedro Aguiar-Branco para a presidência da Assembleia da República. Algo que só ocorreu à quarta tentativa, na tarde de quarta-feira, graças a um acordo em que os socialistas trocaram os votos favoráveis pela garantia de que poderão contar com Francisco Assis como segunda figura do Estado na outra metade da legislatura que agora começa.

No vídeo mais recente da conta do deputado do Chega na rede social YouTube, onde tem mais de 65 mil seguidores, intitulado Primeiras impressões e primeiros choques na AR, João Tilly faz um balanço da sua experiência na Assembleia da República. E, por entre referências ao “papel desgraçado dos jornalistas que estão ali o dia inteiro”, seja “atrás de Pedro Nuno Maserati [sic]” ou a tentar obter reações de um primeiro-ministro indigitado que “não diz uma palavra”, sendo “uma autêntica múmia paralítica” que lhe faz “lembrar aquele idoso de Boliqueime” - localidade algarvia que é terra natal do antigo primeiro-ministro e Presidente da República Cavaco Silva, e onde o Chega foi o mais votado nas legislativas de 10 de março -, surge uma leitura política sobre o arranque dos trabalhos parlamentares.

“O que se tratou nestes últimos dois dias [terça e quarta-feira] foi apenas de saber quem é que manda ali dentro e se o Chega era ou não irrelevante. Provou-se que sem o Chega não se faz nada, a não ser que se una o PS ao PSD”, comenta Tilly na versão do vídeo que ontem republicou no YouTube, sendo visível um corte antes de se referir aos desmentidos de três responsáveis da Aliança Democrática ao acordo com o Chega, o que foi apontado por André Ventura para justificar o impasse que travou a eleição de Aguiar-Branco para o lugar antes ocupado pelo socialista Augusto Santos Silva.

Sucede que uma primeira versão anterior do vídeo em que João Tilly descreveu as suas primeiras impressões da Assembleia da República, e a que o DN teve acesso, não acabava aí. Depois de o deputado recém-empossado dizer que “sem o Chega não se faz nada, a não ser que se una o PS ao PSD”, o deputado acrescentava: “Foi exatamente o que o Chega obrigou e conseguiu que acontecesse. Para mim, foi um golpe de génio, este de Ventura.”

A assunção pública da estratégia do Chega para “empurrar” a Aliança Democrática, que tem 80 deputados (78 do PSD e dois do CDS-PP), longe dos 116 necessários para a maioria absoluta, para os braços do PS foi apontada como um motivo para que a conta de YouTube de João Tilly tenha ficado com menos mil vídeos disponíveis na sexta-feira, logo após ter publicado a versão original de Primeiras impressões e primeiros choques na AR.

Acusado no Twitter, pelo utilizador João Oliveira Dias, de ter sido obrigado a “apagar mais de mil vídeos” pelo Chega, tendo este perguntando se “o pedido ou ordem para apagar veio de Ventura ou do líder parlamentar [Pedro Pinto]”, João Tilly repôs os vídeos ontem. Mas já com o mais recente sem a referência ao “golpe de génio” do presidente do partido, obrigando Luís Montenegro a entender-se com Pedro Nuno Santos, após o que Ventura se proclamou “líder da oposição”.

Também através do YouTube, Tilly negou ontem que Ventura o tenha obrigado a retirar seja o que for, pois “se ele achasse que os vídeos eram prejudiciais nem seria candidato”.

Justificou a ausência temporária dos vídeos com uma tentativa de manutenção do canal - que diz ser alvo de “grupos de denúncia do Berloque da Canhota”, como chama ao Bloco de Esquerda -,  e admitiu que, “daqui para a frente”, devido ao Código de Conduta dos Deputados, “pode não ficar muito bem certas brincadeiras”.

Ao DN, o deputado garantiu que “nunca ninguém” o pressionou para editar ou retirar vídeos. “Edito-os muitas vezes e por muitas razões. A principal é que, como faço tudo de improviso, por vezes acontecem repetições”. 

Líder do Chega tem 276 mil seguidores só no TikTok

A presença de André Ventura no YouTube ocorre através do canal Chega TV, com 167 mil seguidores, mas ultrapassa esse número no TikTok, muito popular entre os mais jovens, com mais de 276 mila seguirem a sua conta oficial. Nesse espaço não se limita a partilhar excertos de discursos e “explicadores” das posições do partido, tendo vídeos polémicos, como aquele em que se fez gravar junto à “cadeira de Augusto Santos Silva” - apesar de o cenário ser a Sala do Senado e não a das sessões plenárias -, prevendo (corretamente) que o até então presidente da Assembleia da República não seria reeleito a 10 de março. E outros mais bizarros, como o vídeo em que demonstra “o que é liderança e confiança”, manuseando uma faca de cozinha de olhos fechados enquanto um colaborador deixa a mão aberta no tampo da mesa de um restaurante. 

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