Centenas de brasileiros residentes em Portugal concentraram-se esta sexta-feira em frente ao Palácio de Belém, obrigando ao reforço de medidas policiais de segurança, para "receber" o Presidente eleito do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva. De um lado da barricada muitas dezenas de apoiantes do Presidente eleito e do outro muitas dezenas de apoiantes do Presidente derrotado, Jair Messias Bolsonaro..A radical polarização da política brasileira chega a todo o lado e Lisboa - a maior cidade brasileira fora do Brasil em número de eleitores registados, cerca de 45 mil - não é exceção, manifestando-se isso em frente ao Palácio de Belém, onde Lula foi recebido pelo Presidente português. A PSP conseguiu evitar confrontos diretos..A comunidade brasileira - a maior comunidade estrangeira em Portugal, com cerca de 250 mil pessoas e em continuo crescimento nos últimos anos - tradicionalmente votava à direita mas nas últimas eleições a situação inverteu-se: Lula venceu claramente Bolsonaro, tanto na primeira volta como na segunda..Vindo do Egito, onde participou COP 27, Luiz Inácio Lula da Silva - que se faz acompanhar de Fernando Haddad, o candidato do PT que Bolsonaro derrotou em 2018 e que agora foi novamente derrotado (pelo bolsonarista Tarcísio Gomes de Freitas) na candidatura a governador de São Paulo - aterrou em Lisboa depois do meio-dia e foi logo encaminhado para Campo de Ourique..Almoçou com empresários brasileiros em Portugal no Cícero Bistrot, um restaurante (com galeria de arte) onde, segundo o respetivo site, o chef português Hugo Cortez Teixeira, "com o critério de anos de experiência em cozinhas com técnicas francesas, como a do restaurante Eleven, além do espaço de Henrique Sá Pessoa" oferece "um diálogo entre a culinária de autor e os ingredientes luso-brasileiros", em menus que podem ir até aos 95 euros por pessoa (mas se for só uma omolete com um copo de vinho fica a 22 euros)..A informação de que Lula estava a almoçar neste restaurante foi rapidamente parar ao Twitter, acabando à saída o Presidente eleito do Brasil cercado por alguns apoiantes, que saudaram a sua presença gritando palavras de ordem como "Lula guerreiro, do povo brasileiro". Para hoje está previsto um encontro de Lula da Silva com apoiantes e líderes da comunidade brasileira em Portugal..Depois seguiu para o hotel onde ficará hospedado. A seguir voltou a sair, para Belém, onde às 17.00 seria recebido pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. E aqui tudo funcionou com algum improviso..Às 15.00, o PR português tinha começado a receber o seu homólogo de Moçambique, Filipe Nyusi . Porém, este encontro prolongou-se mais do que o que estava previsto e, em simultâneo, Lula chegara a Belém cerca de vinte minutos antes da hora prevista..Assim, Marcelo resolveu juntar as audiências, fazendo o Presidente eleito do Brasil juntar-se à reunião que já decorria com o Chefe de Estado moçambicano - e, evidentemente, permitindo que o encontro fosse registado pelos fotógrafos e operadores de câmara. Marcelo e Lula acabaram por estar juntos em Belém durante cerca de uma hora e quinze minutos, não tendo nem um nem outro feito declarações aos jornalistas..Pelas 20.00, Lula já estava no Palacete de São Bento, para um jantar com o primeiro-ministro, António Costa - que o recebeu com um abraço e exibindo com os dedos o L símbolo da campanha de Lula no Brasil. Mais uma vez, encontraram-se à porta "claques" dos dois lados da barricada brasileira, com a PSP pelo meio a dissuadir confrontos diretos..Em Belém, segundo a Lusa, os dois grupos de dezenas de manifestantes - ligeiramente em maior número do lado contra Lula da Silva - tinham tido menos de cinco metros a separá-los entre si, atrás de grades metálicas e perante um contingente policial reforçado.."Lula ladrão, o seu lugar é na prisão", gritaram manifestantes que contestam a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva nas presidenciais de 30 de outubro. "Brasil, Brasil, Brasil, vitória", replicavam, por sua vez, os apoiantes de Lula..O empresário Daniel Rolha, há 18 anos radicado em Portugal, disse que apesar da divisão evidente entre os brasileiros concentrados em frente ao Palácio de Belém, "o Brasil não é um país divido". "Não acredito num Brasil dividido, mas reconheço que o grande desafio de Lula da Silva é unir os brasileiros.".A administradora de empresas Joyce, há seis anos a viver em Portugal, afirmou que estava em frente ao Palácio de Belém, "para protestar contra a corrupção e o roubo da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro" nas eleições de 30 de outubro. Questionada sobre a inevitabilidade de Lula da Silva tomar posse em 1 de janeiro próximo, Joyce, que recusou revelar o apelido, foi perentória: "As Forças Armadas não vão permitir.".A seu lado, eram muitos os cartazes em que se podia ler "SOS Forças Armadas", um dos desejos dos apoiantes de Bolsonaro, nas manifestações dentro e fora do Brasil desde o anúncio do resultado das eleições. Os apoiantes de Lula da Silva foram os primeiros a abandonar a concentração, seguidos algum tempo depois dos de Bolsonaro. Do próximo dia 21 a 24 estará em Lisboa o ainda vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão..joao.p.henriques@dn.pt