No dia em que o XV Congresso da CGTP-IN começará a validar o nome de Tiago Oliveira para suceder a Isabel Camarinha no cargo de secretário-geral, na próxima sexta-feira, os trabalhadores da Auto Sueco, no Porto, estarão em ação de luta contra a proposta de atualizações salariais apresentada pela administração. Para o mais do que provável futuro líder da Intersindical, será uma espécie de círculo completo, desde as raízes até ao topo do sindicalismo, ele que iniciou este percurso precisamente como delegado sindical da empresa que representa a marca Volvo em Portugal, em 2003, tinha então 22 anos..Hoje com 43 anos, Tiago Oliveira mantém-se como mecânico de pesados na unidade da Auto Sueco na Maia, mas a sua atividade como sindicalista há muito saltou as fronteiras da empresa, acumulando desde cedo uma larga experiência que o projetou para ser agora o nome proposto pela comissão executiva da CGTP para a sucessão de Isabel Camarinha. Por isso, garante quem conhece bem o próximo secretário-geral, a juventude não será um contra. “É um jovem veterano destas lutas, com capacidade para marcar uma longa era na CGTP”, assegura um dirigente sindical ouvido pelo DN..Antes da experiência, havia já uma propensão familiar. Tiago, natural de Matosinhos - onde ainda reside, em São Mamede de Infesta - é também filho de um sindicalista, Américo Oliveira, que pertenceu longos anos ao sindicato dos metalúrgicos. Um sindicato para o qual o filho entrou também como dirigente muito cedo, em 2006, com apenas 25 anos. Para trás, tinha já ficado uma experiência como ajudante de carpinteiro, aos 16 anos, e outra como ajudante de pintor, antes de ter decidido tirar um curso de formação profissional em metalomecânica que lhe abriu as portas da Auto Sueco, ainda menor de idade (17 anos)..O trajeto precoce como sindicalista fê-lo ascender ao Conselho Nacional da CGTP em 2012, no XII Congresso da intersindical, e à comissão executiva no congresso seguinte, em 2016, ano desde o qual exerce as funções de coordenador da União de Sindicatos do Porto (USP). Aí, conviveu com e sucedeu a João Torres, que terá sido um dos seus mais influentes mentores. O histórico sindicalista rejeita catalogar Tiago Oliveira como seu “delfim”, mas “não podia ficar mais satisfeito” com a possibilidade de o seu sucessor na USP passar a ser o rosto da mais antiga central sindical portuguesa..“Todos gostam do Tiago”, sublinha João Torres sobre as qualidades que terão valido o reconhecimento ao futuro líder da CGTP. “A verdade é essa, não sei porquê, mas é um rapaz fácil de se gostar”, acrescenta, antes de enumerar as características que podem sustentar essa popularidade: “Já o conheço há uns 20 anos e é, acima de tudo, uma excelente pessoa, com muito boas qualidades humanas. Muito humilde, preocupado com os outros, solidário. É uma pessoa com firmeza nos princípios, perfeitamente enquadrados na filosofia da atividade sindical.”.A capacidade para “ouvir e agregar diferentes sensibilidades” é um traço de personalidade destacado por várias das fontes ouvidas pelo DN sobre Tiago Oliveira. “É um dirigente conciliador, está sempre a tentar apaziguar e é muito calmo nas decisões”, diz João Vitória, que conheceu Tiago no Site-Norte, sindicato que reúne os trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte. Um dirigente local do PCP, partido a que Tiago Oliveira também está ligado - é membro do Comité Central, faz parte das listas da CDU às próximas legislativas pelo círculo do Porto e é membro da Assembleia da União das Freguesias São Mamede de Infesta e Senhora da Hora -, realça-lhe “a combatividade e determinação, conjugadas com uma sensibilidade intrínseca que fazem dele uma pessoa capaz de ouvir e interpretar diferentes visões, e de construir um caminho em defesa dos trabalhadores”..Nesse caminho que acumulou já várias lutas importantes em prol dos trabalhadores, é sublinhada a intervenção de Tiago Oliveira em dossiers “como o da extinta Petrogal, em Leça da Palmeira, o da nacionalização e posterior reprivatização da Efacec, o das cantinas do Hospital Pedro Hispano ou o da Cerâmica de Valadares”. Em todos eles, diz uma das fontes contactadas pelo DN, “o Tiago soube trazer lucidez, ânimo e uma voz de esperança em circunstâncias muito diferentes, em momentos profundamente difíceis da vida daqueles trabalhadores, deixando uma marca muito assertiva nessas lutas”..“A verdade é que as pessoas gostam de o ouvir falar”, acrescenta João Torres, destacando também a capacidade discursiva do futuro líder da CGTP. “Ele sabe quando e como intervir e fá-lo muito bem. Às vezes encontrava pessoas desta ou daquela empresa que me pediam: o Tiago tem de lá ir falar àquela malta”. Talvez seja por isso que “faz amizades facilmente”, refere o seu antecessor na USP. Amizades que logo começou a fazer também na comissão executiva da intersindical assim que passou a integrar as reuniões, há oito anos, e que agora lhe valeram o reconhecimento para ser indicado como candidato a sexto secretário-geral da história da CGTP, depois de Francisco Canais Rocha, (o primeiro, em 1974), Armando Teixeira da Silva (1974-1986), Manuel Carvalho da Silva (1986-2012), Arménio Carlos (2012-2020) e Isabel Camarinha (2020-2024)..Convidado no ano passado para o podcast do Sintarq - sindicato dos trabalhadores de arquitetura - Tiago Oliveira resumia assim a missão sindical: “Temos de acreditar que temos a força suficiente para mudar, para construir um caminho melhor. Só organizados vamos conseguir alguma coisa. Não tenho dúvidas de que vamos assistir a um forte crescimento e afirmação dos sindicatos.” A partir do próximo fim de semana terá oportunidade de mostrar como, enquanto líder da maior central sindical do país.