Chega. Jornalista agredido, Católica abre inquérito
A reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Isabel Capeloa Gil, afirmou ontem ao DN que a instituição “iniciou um processo de averiguações” interno sobre o facto de, na terça-feira, estudantes da instituição terem retirado à força e agressivamente um jornalista do Expresso do auditório onde decorria uma conferência do líder do Chega, André Ventura.
O que está em cima da mesa, no caso dos estudantes serem identificados, é a possibilidade de serem disciplinarmente punidos. Questionada pelo DN sobre se o processo de averiguações seria “tendente a apurar quem foram os estudantes e visando, eventualmente, sanções disciplinares”, a reitora respondeu que será sobre “tudo o que significa legalmente um processo de averiguações”.
O incidente ocorreu terça-feira, num anfiteatro da reitoria da universidade onde decorreu, com André Ventura, mais uma sessão do ciclo “Conversas parlamentares”, organizado pela associação de estudantes.
Antes, a assessoria do Chega tinha informado os jornalistas de que Ventura falaria à chegada à UCP, não sendo depois permitidas câmaras no auditório durante a conferência do líder do Chega, “segundo indicações da Universidade”.
O jornalista do Expresso ficou assim no auditório a assistir ao discurso - visto que a proibição se limitava à presença de câmaras.
Segundo relatou depois o semanário, ao fim de dez minutos "um jovem" disse-lhe que não podia estar presente; depois outros dois fizeram o mesmo e o jornalista começou a interpelar os assessores de Ventura e o próprio para "esclarecer a situação".
"Foi nesse momento que o jornalista foi agredido: dois dos jovens prenderam os seus movimentos, agarrando-o pelos pés e pelos braços, forçando a sua saída do evento - deixando todo o equipamento de trabalho na sala, incluindo o computador profissional", contou o semanário.
E uma vez fora da sala, "a intimidação continuou" e “Luc Mombito, segurança pessoal de André Ventura, ainda se dirigiria ao jornalista perguntando-lhe de forma agressiva se este precisava ‘de mais alguma coisa para se sentir melhor’”. Acompanhado por um assessor de imprensa de Ventura, o jornalista deixou então o local.
Em comunicado, o Chega recusou “qualquer responsabilidade, quer na entrada do jornalista no evento quer na sua expulsão” e isto porque, “como convidado, não é da sua competência definir quem pode estar ou não presente”. Há dias Ventura tinha escrito na rede social X, a propósito de uma entrevista à SIC, que "às vezes é preciso pôr os jornalistas no lugar" e ontem apelou ao MP que abra um inquérito.
A UCP, também num comunicado, disse que “repudia qualquer tentativa de limitação do direito à informação e intimidação de jornalistas”, acusando o Chega de "manipulação deliberada das normas de acesso ao evento".