No PSD, a ausência de seis deputados já era esperada - estavam fora, em missão política. O que não se esperava era que a estas ausências se juntassem outras nove, que a direção da bancada não explica. Ao todo, 15 deputados do PSD faltaram esta terça-feira à votação da moção de censura do Chega ao Governo. Ou seja: quase 20 por cento da bancada, isto é, um em cada cinco deputados sociais-democratas não estiveram presentes. Porventura, o partido pretendeu assim fazer mais uma demonstração da forma como desvalorizou a iniciativa do partido de André Ventura - uma "criancice", tinha dito Luís Montenegro há uns dias..Pelas 18h50, quase quatro horas depois do início do debate, ontem à tarde, confirmou-se, no momento da votação, o guião que há muito estava escrito sobre o desenlace de mais este momento da vida parlamentar: a moção de censura do Chega foi chumbada..Na verdade, como se esperava desde o início, só os proponentes e a Iniciativa Liberal votaram a favor: 17 votos ao todo (faltaram dois deputados do Chega e um da IL)..No PSD, também como há muito tinha sido anunciado, o sentido de voto foi o da abstenção - mas dos 77 deputados "laranja", só 62 votaram (15 não compareceram)..Quanto aos votos contra, foram ao todo 131: 118 do PS (faltaram dois deputados), seis do PCP, cinco do BE, a deputada do PAN e o deputado do Livre (nestas quatro formações não faltou ninguém). Foi a terceira moção de censura da legislatura (a segunda do Chega, sendo que a outra foi da IL)..Pouco depois das 15h00, coube a André Ventura abrir o debate. Como era de esperar, o líder do Chega não se poupou nos ataques ao Governo e ao seu chefe. Este é o pior governo de sempre na nossa história, e este é o pior primeiro-ministro de sempre da nossa história", afirmou. "Conheço associações de reformados que jogam à bisca e à sueca à sexta-feira que têm mais consistência do que este Governo da República", diria ainda..Citaçãocitacao"Para aqueles que prometem uma alternativa esperávamos uma atitude de quem diz ser alternativa. Temos um Presidente da República e um país a dizer "mostrem alternativa" e o que destrói o nosso coração [do Chega] é que uma parte da alternativa prefere puxar o lençol e deitar-se com o PS.".Contudo, Ventura não demorou muito retirar o Governo do seu foco e a apontá-lo aos partidos à direita do PS, sobretudo aos sociais-democratas, que já tinham anunciado a abstenção há vários dias. "Serão cúmplices de um Governo que tem destruído o país, cúmplices de um Governo que não tem soluções nem nada para dar senão a contínua destruição de Portugal", acusou. "Para aqueles que prometem uma alternativa esperávamos uma atitude de quem diz ser alternativa. Temos um Presidente da República e um país a dizer "mostrem alternativa" e o que destrói o nosso coração [do Chega] é que uma parte da alternativa prefere puxar o lençol e deitar-se com o PS.".Citaçãocitacao"Duas sessões legislativas, duas moções de censura , mas o que quer verdadeiramente o Chega com estas moções de censura? Desafiar os seus parceiros da direita.".António Costa, na resposta, também seguiu o guião previsível: explorou a moção do Chega como um ato de combate pela liderança da Direita. "Duas sessões legislativas, duas moções de censura, mas o que quer verdadeiramente o Chega com estas moções de censura? Desafiar os seus parceiros da direita", sustentou. Reconhecendo logo a seguir: "A moção de censura foi um sucesso. Embaraçou o PSD e leva de arrasto a Iniciativa Liberal. Mas estes exercícios, que entretêm a bolha política e mediática, dizem zero aos portugueses"..Costa não se limitaria porém a explorar as divisões à direita. Aproveitaria, como é seu timbre sempre que vai ao Parlamento, para fazer anúncios de medidas. Revelou, por exemplo, que no próximo dia 28 o Conselho de Ministros irá aprovar o diploma que enquadrará o processo de privatização da TAP - que pode ser total..Mais tarde, em resposta a Pedro Filipe Soares, líder da bancada do Bloco de Esquerda, abordaria também o problema de o próximo aumento do salário mínimo nacional o tornar coletável pelo IRS. Costa recordou que o executivo tem "fixado o calendário de atualização do salário mínimo nacional até ao final da legislatura" e acrescentou que, "com grande probabilidade", irá atualizar o mínimo de existência em conformidade com esse aumento - ou seja, fazer com que o IRS não abranja quem aufere o salário mínimo. A medida, esclareceu, será enquadrada pela discussão da proposta orçamental do Governo para o próximo ano..De resto, o debate foi marcado pela proposta do PSD ao Governo para que haja entre as duas partes um "pacto" (foi esta a expressão usada pelo líder da bancada "laranja", Joaquim Miranda Sarmento) que estabilize durante 15 anos a fiscalidade para os jovens..O Chega aproveitaria, é claro, o desafio do PSD a Costa para voltar a dizer que está sozinho a fazer oposição ao Governo. "Com este Governo, não há pactos. É uma coça até saírem dali!", gritaria André Ventura..Já perto das 19h00, o plenário chumbou a moção. Mas o debate acabará por prosseguir hoje, com o agendamento do PSD para a sua resolução que visa reduzir o IRS ainda este ano. Manobras preliminares para o combate orçamental que se iniciará em outubro..joao.p.henriques@dn.pt