Catarina ataca Costa: Governo foi na UE dos que "menos fez pela sua gente"

A coordenadora do BE já interveio na convenção do partido. O Bloco continua disponível para negociar com o PS, "sem estados de alma". Mas não deixa de criticar duramente a governação.
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"Portugal foi dos países europeus que menos fez pela sua gente." A acusação, diretamente dirigida ao primeiro-ministro e ao seu Governo, ouviu-se da boca da coordenadora do Bloco de Esquerda no discurso que fez esta manhã a abrir, num pavilhão de Matosinhos, os trabalhos da XII Convenção Nacional do partido.

"O Governo gaba-se de ter poupado sete mil milhões de euros dos orçamentos de 2020; o Bloco critica-o por ter sido dos países europeus que menos fez pela sua gente. A última das prioridades era poupar no orçamento quando há tanta gente aflita e que pagou os seus impostos", acusou Catarina Martins.

Catarina Martins aproveitou a oportunidade para, novamente, acusar o PS e o Governo de terem inviabilizado uma nova geringonça em 2019 e de terem levado o BE a votar contra o OE2021.

Citaçãocitacao"Não atuamos por ressabiamento, não temos estados de alma, não ficamos zangados pelo facto de o PS ter fechado a porta a uma solução de estabilidade para quatro anos"

Quanto ao fracasso de uma nova geringonça, a seguir às legislativas de 2019, e ao falhanço nas negociações do OE2021, a líder do BE procurou salientar que o partido não se governa com "estados de alma" nem está "zangado" com o PS.Assim, continua disponível para o diálogo, nomeadamente no quadro do próximo Orçamento do Estado (OE2022 ).

"No Bloco nunca desistimos do que propomos e não falamos por falar; não estamos a fazer publicidade de ideias, queremos decisões, não queremos promessas, queremos soluções. Não atuamos por ressabiamento, não temos estados de alma, não ficamos zangados pelo facto de o PS ter fechado a porta a uma solução de estabilidade para quatro anos", disse a líder bloquista.

A coordenadora do BE afirmou que, nas últimas legislativas, "nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda", rejeitando ressabiamento ou zangas pelos socialistas terem "fechado a porta" a uma solução estável para a legislatura.

"Como explicou António Costa em entrevista ao Expresso e cito, 'um Bloco forte significa ingovernabilidade', ou, como disseram outros dirigentes do PS, era preciso salvar o Governo das pressões da esquerda. Nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda nessas eleições", acusou.

Citaçãocitacao"Quando a pandemia começou e a ciência só sabia que o vírus era altamente contagioso, havia apenas uma medida a tomar: o confinamento, que implicou a restrição do direito constitucional de nos deslocarmos. Aprovámo-lo e voltaríamos a aprová-lo sem a menor hesitação."

Recordando os dias a seguir a essas eleições, que determinaram o fim da "geringonça", Catarina Martins recordou "a recusa do PS em aceitar um compromisso de medidas sociais para os quatro anos seguintes" que, na sua opinião, "mudou os dados da política" em Portugal.

Estabelecendo contraste com o PCP - que nunca votou a favor dos estados de emergência -, a coordenadora bloquista defendeu que o partido voltaria a viabilizar o estado de emergência "sem a menor hesitação", porque o importante é "salvar vidas", salientando que o BE foi a força de esquerda que "nunca" faltou à população.

"Quando a pandemia começou e a ciência só sabia que o vírus era altamente contagioso, havia apenas uma medida a tomar: o confinamento, que implicou a restrição do direito constitucional de nos deslocarmos. Aprovámo-lo e voltaríamos a aprová-lo sem a menor hesitação", afirmou.

Defendendo que "não estava em causa nada mais importante do que salvar vidas", a líder bloquista rejeitou as críticas dos que dizem que "bastaria um confinamento entre 19 de março e 02 de abril de 2020 e que, a partir de então, a esquerda o deveria ter recusado durante todo o ano seguinte".

"Havia uma emergência e foi preciso atuar em emergência. O Bloco nunca abandonou as prioridades sanitárias e somos por isso o partido de esquerda que pode e deve dizer com confiança a toda a população que sofreu estes meses terríveis: nunca vos faltámos."

Citaçãocitacao"Tivemos 99% das mortes depois dessas datas. Precisámos do confinamento em 2020 e voltámos a precisar em 2021 e fizemos bem em assumir a proteção da saúde do nosso povo."

"Fizemos o que tínhamos que fazer para proteger toda a gente e nunca faltámos às medidas razoáveis que impedissem a pandemia e reforçassem o Serviço Nacional de Saúde", salientou a líder do BE - partido que viabilizou, a maioria pela abstenção, os estado de emergência, ao contrário de PCP e PEV.

Para Catarina Martins, "os números não deixam a menor das dúvidas". "Tivemos 99% das mortes depois dessas datas. Precisámos do confinamento em 2020 e voltámos a precisar em 2021 e fizemos bem em assumir a proteção da saúde do nosso povo."

A coordenadora apontou que, quando foi necessário tomar decisões, o partido não hesitou, salientando que não faz "parte do jogo da inconsciência", nem recusa "a emergência por conveniência de discurso partidário, aliás na esperança secreta de que a sua posição nem seja ouvida nem seja aplicada". "Percebo que haja setores da direita para quem um euro de lucro vale mais do que uma pessoa contaminada, mas a esquerda é de outra fibra e não troca vidas por negócios."

Lamentando que Portugal registe hoje "mais de 17 mil pessoas mortas com covid-19 diagnosticada" e alertando que o "contágio não terminou", Catarina Martins garantiu que o BE não argumenta "com os negacionistas", pois "a irresponsabilidade não cabe no campo do argumentável".

De acordo com a líder, o BE também não debate "com os antivacinas" e não aceita "os governantes que, de Bolsonaro [presidente do Brasil] a Modi [primeiro-ministro da Índia], desprezam o seu povo".

Catarina Martins assinalou ainda as medidas adotadas na convenção (redução para metade do número de delegados, medição de temperatura à entrada ou afastamento entre cadeiras), salientando não há, no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, "nada que se pareça com o congresso do partido da extrema-direita, onde os campeões negacionistas festejam a sua irresponsabilidade e arrogância".

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