A resposta foi o que se esperava. "Posso dizer o seguinte: não será por mim que o Chega chega ao poder no nosso país." Mas o que interessa mais é a pergunta que lhe deu origem: admitiria o PS viabilizar um Governo minoritário do PSD para assim impedir que o partido de André Ventura pudesse chegar ao poder?.José Luís Carneiro, candidato à liderança do PS, admitiu, ao afirmar que não será por ele que o partido de André Ventura irá "chegar ao poder", que, nessa circunstância, não excluirá viabilizar um Governo liderado pelo PSD. Fê-lo ontem, entrevistado na TVI..A resposta - que admite, da parte do PS, uma moderação face ao PSD inexistente no partido nos últimos anos - tem tudo para ser um dos temas na campanha interna para a liderança do partido. O atual ministro da Administração Interna (MAI) apresentou-se sábado como candidato à sucessão de António Costa e hoje será a vez de Pedro Nuno Santos, deputado e ex-ministro das Infraestruturas, fazer o mesmo..Citaçãocitacao"É muito importante responder à pergunta que fazem hoje os portugueses: como é que, num quadro internacional tão exigente, com duas guerras, uma na Europa e outra no Médio Oriente, se pode partir para uma candidatura com o pressuposto de uma aliança à esquerda, na medida em que é conhecida a posição dos partidos à esquerda do PS em relação aos nossos deveres com a Aliança Atlântica e a UE?".Carneiro aproveitou a entrevista para estabelecer linhas de demarcação face a Pedro Nuno: na sequência lógica da tal inflexão centrista do PS, arguiu um afastamento do partido face à ideia de alinhamentos preferenciais à esquerda, ideia cara ao seu adversário, notoriamente o maior entusiasta no partido da geringonça..Para o MAI - que hoje deixará de lado a farda de candidato para adotar a de ministro com agenda em Coruche e em Faro -, "é muito importante responder à pergunta que fazem hoje os portugueses: como é que, num quadro internacional tão exigente, com duas guerras, uma na Europa e outra no Médio Oriente, se pode partir para uma candidatura com o pressuposto de uma aliança à esquerda, na medida em que é conhecida a posição dos partidos à esquerda do PS em relação aos nossos deveres com a Aliança Atlântica e a UE?".Assim, disse, a sua candidatura é para aqueles que se reveem num PS equidistante entre a direita e a esquerda. "Esta candidatura representa uma autonomia que o PS não pode perder. É essa autonomia que permite ao PS não apenas dialogar com o centro-direita, mas também com a esquerda"..José Luís Carneiro tentou, por outro lado, ser preventivo face ao discurso que Pedro Nuno Santos irá ensaiar de demarcação face ao estado atual do costismo. Segundo disse, o ex-ministro das Infraestruturas "representará parte da herança" da atual governação socialista - e até votou a favor do OE2024..Citaçãocitacao"Chegou o tempo dos moderados. Não é só no PS, é no país. Portugal precisa de um PS moderado, responsável e patriota, e precisa de um PSD [...] também moderado e reformista.".Ontem um conjunto de 30 socialistas mais alinhados com a ala direita do PS reuniu-se num almoço em Cantanhede..O dirigente mais destacado do grupo, Álvaro Beleza, antigo membro da equipa de António José Seguro na direção do PS (2011-2014) e atual presidente da Sedes, disse que agora do que se trata é de lutar por um PS "moderado". "Chegou o tempo dos moderados. Não é só no PS, é no país. Portugal precisa de um PS moderado, responsável e patriota, e precisa de um PSD [...] também moderado e reformista", salientou..Para já, Beleza não diz quem apoia e distribui elogios pelos dois candidatos: Carneiro "é um excelente ministro, um político de mão cheia, foi um grande presidente da Câmara, é um homem sério, inteligente e preparado" e Pedro Nuno Santos "também é um jovem com muito talento, carismático, corajoso"..joao.p.henriques@dn.pt